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    Calouro frustrado: campus da Unifesp ainda tem obras 8 anos após abertura

    LEANDRO MACHADO
    DE SÃO PAULO

    30/05/2015 02h00

    Quando passou no vestibular, João Victor Menon, 18, comemorou, porque entraria numa das mais respeitadas universidades públicas do país –a Unifesp (federal de São Paulo). A felicidade não durou muito tempo.

    "Foi um baque chegar em uma federal e descobrir que as aulas ocorrem em um colégio de ensino médio", conta Menon, aluno do primeiro ano de ciências sociais.

    Inaugurado em 2007 pelo então ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), hoje prefeito da capital paulista, o campus da Unifesp em Guarulhos (Grande SP) continua em obras após oito anos.

    A unidade celebrada por ter levado ensino superior público ao bairro dos Pimentas, na periferia da cidade, enfrenta problemas em série.

    Bruno Santos/Folhapress
    Prédio em obras, oito anos após inauguração da da Unifesp de Guarulhos
    Prédio em obras, oito anos após inauguração da da Unifesp de Guarulhos

    Com falhas de estrutura e de difícil acesso, o campus tem taxa de desistência de 32,6% –na USP, por exemplo, esse número é de 25%.

    Foi entregue às pressas, sem o prédio principal que abrigaria a maioria das aulas dos seis cursos de humanas, como letras e pedagogia, para mais de 3.000 alunos.

    Sem espaço, até 2013 muitas das aulas eram dadas em uma escola de ensino fundamental na rua do campus.

    Após uma série de entraves na licitação, o prédio principal começou a ser construído. Por causa disso, toda a unidade precisou se mudar, em 2013, para um colégio de ensino médio privado -o aluguel custa R$ 250 mil por mês.

    "Só continuo porque espero voltar para o Pimentas", diz Menon, que neste ano só teve duas semanas de aulas por causa de uma greve de alunos a partir de março.

    A Unifesp diz que 94% das obras do edifício estão prontas, em fase de acabamento. Prevê que elas sejam concluídas em julho. Mas os alunos terão que esperar mais, até 2016, para a compra de materiais e planejamento do retorno, segundo a universidade.

    Bruno Santos/Folhapress
    Edifício acadêmico e administrativo do campus da Unifesp de Guarulhos
    Edifício acadêmico e administrativo do campus da Unifesp de Guarulhos

    GREVES E MAIS GREVES

    Os problemas da Unifesp de Guarulhos também esbarram numa questão histórica: as dificuldades de transporte da capital paulista para lá.

    Segunda maior cidade do Estado, o município não tem estações de trem ou metrô.

    Os acessos sobre pneus são as congestionadas rodovias Ayrton Senna e Dutra.

    Os ônibus custam mais de R$ 5 e, por causa do trânsito, demoram duas horas a partir da cidade de São Paulo –origem de muitos estudantes.

    Os alunos já fizeram três grandes greves por melhorias desde 2007. Conseguiram, por exemplo, ônibus gratuitos entre a capital e o campus.

    Mas o impasse foi retomado em 2015. O transporte custava R$ 2,1 milhões por ano –diante de um orçamento da unidade de R$ 7,3 milhões.

    A Unifesp decidiu cortar os ônibus neste ano, depois de o governo do Estado criar um passe livre estudantil.

    Porém, por critérios de renda, boa parte dos alunos não conseguiu o benefício. Aí veio outra greve de alunos –encerrada dia 20 e retomada na última terça (26). Nesta sexta (29), alguns estudantes ocuparam as salas da diretoria acadêmica do campus.

    TRABALHO OU ESTUDO

    Para facilitar a permanência dos alunos nos cursos, o projeto da Unifesp prevê a construção de moradias estudantis, nos moldes das que existem na USP. Em oito anos, porém, nada foi construído.

    "Se eu trabalhar, não dá tempo de chegar na faculdade. Se chover, fico quatro horas na Dutra. Passo minha vida no transporte público para estudar", diz Joice Mendes, 25, do quinto ano de letras.

    Ela mora em Osasco (Grande SP) e, para chegar à Unifesp de Guarulhos, pega dois ônibus, trem e metrô. Em dias normais (sem chuva nem acidente na Dutra), a estudante demora duas horas e meia.

    "Permanecer na universidade é mais difícil que entrar por causa desses problemas de locomoção e de estrutura. Tem que ter força de vontade para não desistir", diz Joice.

    Na semana passada, a universidade prometeu aumentar a oferta de ônibus para Guarulhos –serão pagos e também servirão à população. A unidade irá bancar outra metade da tarifa dos alunos que só têm direito à meia.

    A Unifesp afirma, também, que tem um acordo com a Prefeitura de Guarulhos para a obtenção de terrenos para moradia estudantil.

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