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    Entidades religiosas divergem sobre ensino do tema nas escolas do país

    FLÁVIA FOREQUE
    DE BRASÍLIA

    15/06/2015 13h00

    Qual deve ser o conteúdo do ensino religioso em escolas públicas do país? Convidadas para falar sobre o assunto em audiência pública no STF (Supremo Tribunal Federal), diferentes religiões têm diferentes respostas para o questionamento.

    Para a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), deve ser mantido o modelo confessional, em que são ensinados princípios e valores de uma ou mais religiões. "A ordem constitucional brasileira não é hostil à religião. A propalada laicidade do Estado não pode ser confundida com ateísmo do Estado ou aversão ao plano espiritual da existência humana", disse na manhã desta segunda-feira (15) o ex-deputado federal Antonio Carlos Biscaia, em nome da entidade.

    Para a Federação Espírita Brasileira, é preciso adotar o modelo oposto, não confessional, a partir de estudo de questões como moral e ética. Outros, no entanto, defenderam a suspensão do ensino religioso.

    "Nossa esperança é que o Estado se posicione deixando ensino religioso na esfera da religião, e não continue adotando uma postura acanhada. Iniciar alguém em determinada religião é tarefa da família ou da igreja", disse Vanderlei Marins, em nome da Convenção Batista Brasileira. "Esse posicionamento é o único que permite de fato o cumprimento da laicidade", completou o advogado Renato Gugliano, em nome da Igreja Universal do Reino de Deus.

    O debate acontece diante de ação da PGR (Procuradoria-Geral da União) que defende uma perspectiva histórica do ensino religioso, previsto na legislação para alunos do ensino fundamental da rede pública. A audiência foi convocada pelo relator do tema no Supremo, ministro Luís Roberto Barroso.

    O ministro afirmou que "não está em questão" o fim do ensino religioso nas escolas, já que o tema está previsto na própria Constituição Federal. Segundo ele, a intenção é apresentar seu voto para os demais integrantes da Corte no próximo semestre.

    "É uma questão complexa, e embora a interpretação constitucional seja uma atividade técnica, a questão da religião e do ensino da religião repercute sobre toda a sociedade. (...) Eu pretendo interpretar a Constituição levando em conta o sentimento social majoritário nessa matéria", afirmou.

    SATANISMO

    Presidente do Consed (entidade que reúne secretários estaduais de educação), Eduardo Deschamps, ponderou que os Estados, de uma forma geral, têm como regra o ensino sem finalidade catequética ou de uma ou mais religião específica.

    Segundo ele, "várias experiências" hoje em vigor indicam que é possível ter um ensino religioso sem privilegiar um grupo específico. Deschamps citou que, hoje, seis Estados possuem licenciatura específica para o tema religioso.

    Relator da matéria no Supremo, Barroso convidou líderes religiosos, representantes da educação e entidades que acompanham o tema –como a Liga Humanista Secular do Brasil. Representante da entidade, Thiago Viana argumentou que, atualmente, há uma "verdadeira cruzada" no Congresso contra direitos básicos de gays, lésbicas, mulheres e indígenas, por exemplo.

    "O modelo confessional é na prática o que ocorre. E faço uma pergunta para quem defende isso: satanismo e a religião da maconha vão poder ser ensinados?", provocou. A audiência deve ouvir cerca de 30 representantes ao longo do dia.

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