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    Ensino médio não precisa de matérias estanques, diz secretário de Educação

    ADRIANO QUEIROZ
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
    FÁBIO TAKAHASHI
    DE SÃO PAULO

    22/08/2015 02h00

    A intenção do governo Geraldo Alckmin (PSDB) de flexibilizar o currículo do ensino médio da rede pública paulista não trará uma mudança profunda na grade curricular, segundo o secretário de Educação, Herman Voorwald.

    De acordo com ele, porém, a carga horária de algumas disciplinas poderá ser reduzida, já que o aluno, segundo o plano, poderá priorizar as áreas de seu maior interesse.

    "Eu preciso dar a esse menino o entendimento de que a sua formação não deve ser estanque, com uma disciplina estanque, com uma carga horária definida", disse.

    O projeto para dar início a esse processo de mudança foi encaminhado à Assembleia. Críticos, como o sindicato dos professores, dizem que disciplinas como matemática e português podem ficar esvaziadas nesse novo processo.

    A seguir, trecho da entrevista à Folha, na quarta (19).

    Bruno Santos/Folhapress
    O secretário paulista de Educação, Herman Voorwald, em seu gabinete
    O secretário paulista de Educação, Herman Voorwald, em seu gabinete

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    Folha - Por que a decisão de flexibilizar o currículo? O que já existe de concreto?
    Herman Voorwald - O mais importante é que a secretaria, no Plano Estadual de Educação, fez questão de inserir uma meta que trata dessa matéria. O país discute a base nacional comum, e o Estado de São Paulo discute essa proposta [da flexibilização do currículo do ensino médio]. Eu não tenho pressa.

    Mas pode haver substituição de disciplina?
    O eixo central da proposta é que esse menino tenha condições de, através da sua formação no ensino médio, buscar a solução de problemas. Como ela será construída? Ela está sendo formatada e finalizada. Esses eixos básicos garantem que não haverá eliminação de disciplina.

    Qual é a previsão para a apresentação da proposta?
    A intenção é apresentá-la no segundo semestre [deste ano] ao Conselho Estadual de Educação. Não pretendo iniciar absolutamente nada em 2016. A intenção é submetê-la à rede, mas não fazer isso por si só. É discutir com a rede, a proposta.

    O aluno poderá escolher as disciplinas?
    A estrutura do ensino médio não vai mudar. Não vou eliminar ou substituir disciplinas, não é este o conceito. O conceito é a manutenção de disciplinas, mas com a possibilidade de integrar disciplinas afins sob o conceito de áreas. Dentro desse conceito, dar as informações de que ele precisa para, naquela rota, solucionar problemas.

    A estrutura será a mesma então?
    Você tem uma proposta que terá o conjunto das disciplinas do ensino médio.

    Isso não contradiz o que vinha sendo divulgado: que o aluno ia ter mais maleabilidade no currículo? O senhor está dizendo que o ensino médio continuará único para todos?
    Não vou fugir da matriz. Essas disciplinas podem e serão agregadas no conjunto de áreas e o menino terá as informações para poder resolver as questões que se consideram importantes.

    O aluno vai ter opções diferentes de currículo ou de organização do ensino médio dele?
    Eu posso mexer no conceito de número de aulas de uma disciplina para viabilizar que haja a atuação por área. Esse jovem que está interessado num certo conhecimento adicional, numa área que resulte da integração de disciplinas, terá essa possibilidade e conduzirá seu caminho formativo, através dos três anos, na área que lhe interessa. Pode até mudar de área.

    Então vai ter um núcleo comum e, em alguma parte da carga horária, o aluno terá essa liberdade. Por exemplo: se quiser meio ambiente, focará mais em meio ambiente do que em exatas. É isso?
    [Leve pausa, seguida de um sorriso discreto] Se eu der mais um passo...[mais uma pausa] O conceito é mais ou menos esse. Eu crio o conceito de disciplinas afins, por definição de áreas e apresento propostas e projetos para que, através desses conhecimentos, ele possa se desenvolver. Eu preciso dar a esse menino o entendimento de que a sua formação não deve ser estanque, com uma disciplina estanque, com uma carga horária definida.

    Bruno Santos/Folhapress
    O secretário paulista de Educação, Herman Voorwald, em seu gabinete
    O secretário paulista de Educação, Herman Voorwald, em seu gabinete

    Essa mudança vai ser feita para que caiba na jornada atual?
    Esse modelo [flexibilização curricular] mantém a grade do menino e a jornada no período em que ele está na escola. Não aumentarei o período dele na escola, até porque eu não consigo fazer isso.

    O arranjo é nas disciplinas que já existem?
    O que se discute é se seria viável a introdução de disciplinas eletivas, fundamentalmente utilizando como instrumento o ensino à distância, a escola virtual, a possibilidade de oferecer um rol de disciplinas que não certifique, mas que dê um conjunto de informações que possa abrir o caminho para ele.

    As disciplinas eletivas não seriam obrigatórias?
    Ele teria um certificado, não sob a ótica das certificações típicas de 800 a 1.200 horas. Ele teria um conjunto de informações em determinadas áreas. Terá um certificado dizendo que ele fez aquela disciplina, que pode agregar valor à sua formação. Não sob a forma da certificação [do ensino médio]. Isso está em discussão.

    Há o risco de SP, tomando uma medida diferente do resto do país, impactar negativamente na decisão do estudante fazer o Enem ou um exame seletivo em outro Estado?
    Jamais faria alguma coisa irresponsável. A minha origem é o ensino superior. Eu sei exatamente quem é o jovem que estamos recebendo no ensino superior.

    O currículo é o principal fator que pode impulsionar a melhoria do ensino médio?
    Não tenho dúvida. Esse que é o passo, o ponto fundamental.

    E a formação de professores é uma questão secundária nessa discussão?
    Não é secundário. A secretaria tem um processo de formação continuada de seus profissionais. A própria carreira da secretaria induz a essa busca pela formação continuada.

    -

    RAIO-X - Herman Voorwald

    Idade
    60

    Formação
    Engenharia Mecânica pela Unesp (1979)

    Cargo
    É secretário da Educação do Estado de São Paulo. Foi reitor da Unesp (2009-2010)

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