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    Currículo frágil é apontado como causa da baixa qualidade no ensino médio

    FÁBIO TAKAHASHI
    DE SÃO PAULO

    05/09/2015 02h00

    As estatísticas do ensino médio brasileiro são claras: o total de jovens em escolas é insuficiente, e o aproveitamento dos que estudam é baixo. Mas os números não mostram a razão desse quadro.

    Para investigá-la, a reportagem da Folha consultou 12 dos principais atores da educação do país. Foram ouvidos representantes de governos, sindicatos, alunos, universidades, ONGs e indústria.

    Cada um podia mencionar até três explicações para a má qualidade do ensino. A maioria, oito, apontou o currículo como nó principal.

    A organização dos conteúdos a serem transmitidos aos jovens foi bastante criticada.

    A legislação brasileira exige 12 matérias no ensino médio. "Além de serem muitas disciplinas obrigatórias, elas não conversam entre si", afirma Rossieli da Silva, vice-presidente do Consed, entidade que representa os secretários estaduais de Educação.

    "O aluno não sabe por que está aprendendo aquele conteúdo de física ou de química e, às vezes, nem o professor sabe por que está ensinando", completa. Os Estados, em essência, respondem por essa etapa da educação.

    Outro aspecto citado também está ligado ao currículo: é a falta de perspectiva do jovem ao cursar essa etapa.

    "Parece ser só uma passagem, uma preparação para a universidade. Não há motivação para levar a sério", opina Bárbara Melo, presidente da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas).

    Seis entrevistados lembraram que alunos chegam ao ensino médio com deficiência de aprendizagem e têm mais idade que a ideal (15) por terem sido reprovados.

    Universidades particulares também reclamam que gastam parte do tempo e dos recursos para dar reforço a estudantes não devidamente formados no ensino básico.

    Arte ensino médio - gestão escolar

    PRODUTIVIDADE

    A melhoria da qualidade da rede pública, em geral, e da educação na fase média, em especial, é crucial para que o país se desenvolva mais rapidamente, ressaltam os representantes da indústria.
    Segundo comparação da CNI (Confederação Nacional da Indústria), são necessários cinco brasileiros para que se tenha a mesma produtividade um americano, em média.

    "Com baixa aprendizagem, o trabalhador brasileiro não entende instruções, não consegue se expressar na linha de produção ou encontrar soluções", diz o diretor de educação e tecnologia da confederação, Rafael Lucchesi.

    "Alguns acham que devemos educar para preparar mão de obra. Outros acham que temos de preparar para mão de obra, cidadania e crescimento pessoal", diz José Fernandes de Lima, membro do Conselho Nacional de Educação, explicitando uma das muitas divergências filosóficas que emperram a definição de um currículo.

    Há quase 20 anos entrava em vigor a lei determinando a fixação dos conteúdos a serem ensinados aos alunos do país. O que não aconteceu.

    Nós do ensino

    Hoje o que é chamado de currículo obrigatório no Brasil é apenas a definição das matérias (13) previstas na regulamentação e linhas gerais a serem seguidas pelas escolas, sem especificação do que o estudante deve aprender.

    Um currículo claro mostraria o mínimo que os estudantes brasileiros deveriam aprender. Também nortearia a formação de professores.

    Se esse é mesmo o principal fator que compromete o ensino médio, há esperança.

    Neste mês, o Ministério da Educação deve apresentar documento inicial para discussão com ideia de base nacional curricular (nome formal do currículo nacional). A previsão é que o texto seja fechado em março de 2016 e, então, apreciado pelo Conselho Nacional de Educação.

    Paralelamente, porém, a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência deve apresentar texto alternativo.

    O da Educação pretende definir 60% do conteúdo curricular e deixar o restante a critério das redes de ensino. A outra pasta federal deve propor algo considerado mais "ousado", com aulas de raciocínio lógico, por exemplo.

    A discussão deve ser intensa. Há educadores que defendem currículo flexível, permitindo ao aluno escolher o que estudar, ao menos em parte da carga horária. A Secretaria de Educação de São Paulo já ruma para essa opção.

    "Sou contra. Não conseguimos nem oferecer satisfatoriamente o básico ao aluno, como flexibilizar? Haverá professores suficientes?", questiona o pesquisador de educação Ocimar Alavarse, da USP, lembrando o deficit atual de docentes no país.

    Outra divergência é sobre o quão detalhista deve ser o currículo: define tudo o que deve ser passado em cada série, o que daria mais uniformidade no ensino, ou deixa as escolas livres para respeitar diferenças regionais?

    Colaborou FÁBIO MAZZITELLI

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