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    Zona sul de SP concentra colégios em tempo integral, mostra Datafolha

    DHIEGO MAIA
    DE SÃO PAULO
    CAMILA DE LIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    13/09/2015 02h00

    A escola com opção de regime integral é tendência no mercado do ensino e sonho de consumo das famílias que correm atrás do tempo para ganhar a vida e criar filhos.

    Em São Paulo, a zona sul é a região com a maior proporção de instituições privadas que oferecem dois turnos, mostra levantamento exclusivo do Datafolha.

    Entre os colégios analisados na zona sul, 35% têm ensino integral. Na zona leste, esse índice é de 28%; na norte, cai para 20%; e chega a 13% na oeste. Na região central, 5% praticam a modalidade.

    O Datafolha consultou 1.051 estabelecimentos escolares em todas as áreas da capital, A rede particular paulistana tem 3.776 unidades.
    Bairros-dormitórios

    "A zona sul é de bairros-dormitórios, e tem uma demanda maior por escolas. O morador de lá também tem mais condições de pagar uma escola de tempo integral", afirma Benjamin Silva, presidente do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo).

    No ensino fundamental 1 (da primeira à quinta série), a jornada estendida já é maioria: 65%. A oferta perde força na etapa seguinte (do 6º ao 9º ano), com 23,5% das escolas oferecendo sistema integral. E fica mais rara no ensino médio, com apenas 6%.

    A zona leste é onde a diferença entre a oferta de sistema integral no fundamental e no ensino médio é maior. "Nessa região, a mensalidade da escola integral custa até R$ 800, e é mais demandada nas séries iniciais. O valor elevado e a enorme evasão de estudantes puxam para baixo a oferta da modalidade no nível médio", diz Silva.

    Existe uma diferença fundamental entre a educação integral e a escola de tempo integral, aponta Neide Noffs, pesquisadora de formação de professores da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

    "O ensino integral usa o esporte, a arte e a cidadania para formar e instigar o aluno a desenvolver habilidades. É mais que deixar a criança o dia inteiro na escola", afirma.

    Segundo ela, poucas instituições no país tem essa essência. "Há mais aparência. Educação integral é unir professores e alunos em atividades que fazem sentido", diz.

    INTEGRAL NÃO É DEPÓSITO DE CRIANÇA

    Escolher um colégio que dá educação integral não deve ter apenas como base o tempo em que a criança passa lá, sugerem pesquisadores.

    Alternativas não faltam. A modalidade cresce no país: nos últimos quatro anos, a alta de matriculados foi de 67% nas escolas particulares de nível fundamental, segundo o Ministério da Educação.

    A saída para não errar é optar por uma escola com atividades muito bem estruturadas e interligadas.

    "Se a escola não oferece oportunidades para o desenvolvimento da criança, não vai funcionar", diz Alexandre Isaac, coordenador do Núcleo de Educação Integral do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas em Educação), da USP.

    "Se a instituição chama o outro período de 'contraturno', é melhor não optar por ela", ensina a pesquisadora Paula Louzano, do Cenpec. Não se trata de semântica: o termo indica que não há elo entre os dois períodos.

    Outra regra é verificar como as aulas dadas à tarde dialogam com o que já foi ensinado no período da manhã. Os pais precisam ver, também, como as disciplinas básicas são abordadas, conferir o material didático e olhar o tipo de lição que é passado.

    A voz da criança não precisa ser esquecida nessa decisão. Colégios que alcançam os melhores resultados no aprendizado integral são os que escutam os estudantes.

    Família e escola precisam "se entender", afirma Patrícia Mota Guedes, gerente de Educação da Fundação Itaú Social. "Os pais devem conhecer as propostas das escolas, acompanhar as atividades, e até se voluntariar para ajudar na comunidade."

    Foi por esse caminho que a publicitária Daniela Starck seguiu ao colocar sua filha, Alícia, 10, num colégio de ensino integral. A mãe valoriza o fato de que tem sempre alguém de olho na menina. "Pensamos de forma parecida, eu, a coordenadora e o colégio. A experiência tem dado muito certo", diz ela.

    O que falta para a educação integral deslanchar é capacitar e motivar os professores, na avaliação da pesquisadora Neide Noffs, da PUC.

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