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    análise

    Não existe colégio para a vida inteira

    SILVIA COLELLO
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    13/09/2015 02h00

    O ingresso na escola, entendido como um rito de passagem na vida da criança, representa um momento de intensa confabulação familiar. Os pais buscam a "escola perfeita" e, não raro, a "escola perfeita para a vida inteira". Essa expectativa justifica os estranhos comportamentos dos que matriculam os filhos na educação infantil já preocupados com o ranking do Enem ou o vestibular.

    Para algumas famílias, a opção por uma instituição de renome parece, por si só, satisfazer a exigência de confiabilidade. Em outros casos, quando os filhos vão para a mesma escola de seus irmãos mais velhos ou onde os pais estudaram, a opção é sustentada pela fantasia de que é possível repetir histórias de sucesso, fazendo a criança reviver trajetórias conhecidas e, assim, assimilar os valores que constituíram a família.

    De modo objetivo, é possível ainda que a opção por uma única escola esteja ancorada no anseio, compreensível e desejável, de garantir ao filho a coerência dos percursos formativo e curricular.

    Todos esses critérios parecem aliviar o peso da decisão de pais, preocupados em fazer a escolha correta. Mas é preciso ter a consciência de que o sucesso não está garantido. A imprevisibilidade da vida estudantil e a complexidade do processo de formação podem, a qualquer momento, desestabilizar a ilusão de acerto incondicional.

    Por um lado, é preciso admitir que não existe escola perfeita nem escola sempre perfeita. Assim como as pessoas, as instituições sofrem mudanças, de modo que a escola de ontem pode não ser a mesma de hoje.

    Por outro, importa saber que a vida escolar é regida por dinâmicas instáveis e singulares. O aluno bem adaptado na educação infantil pode ter dificuldades em outros níveis. O bom aproveitamento do irmão mais velho pode não se repetir para o caçula. Tendo em vista as diferentes personalidades e interesses, a lógica do sucesso de um pode não se aplicar ao outro.

    Nesse cenário de incertezas, a aposta em uma escola é sempre provisória, a ser avaliada e reavaliada sistemática e periodicamente.

    Mais do que a garantia de aprendizagem, o sucesso educativo passa por aspectos sociais e afetivos, que devem ser acompanhados por pais e professores em uma necessária relação de parceria.

    Na avaliação escolar, o termômetro é o aluno: seu desempenho, sua motivação, seus amigos e, sobretudo, sua relação com a escola na criação de um projeto de vida.

    É justamente pelo fato de a educação ser uma empreitada por toda a vida que a opção da escola se coloca como temporária, nunca definitiva.

    SILVIA M. GASPARIAN COLELLO é professora-doutora da Faculdade de Educação da USP

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