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    Análise

    Currículo nacional comum tem apoio, mas resultados são incertos

    FÁBIO TAKAHASHI
    DE SÃO PAULO

    17/09/2015 02h00

    Há poucas dúvidas hoje no meio educacional de que o currículo nacional seja importante para melhorar o ensino. Isso não quer dizer que a medida terá sucesso automático, dada a divergência de opiniões de como implementá-la e a quantidade de caminhos que ela pode tomar.

    Sinal da convergência é que na campanha presidencial do ano passado os três principais candidatos (Dilma, Aécio e Marina) defenderam a base nacional comum.

    Sinal da dificuldade de implementação é que o currículo nacional está previsto desde a Constituição de 1988. Até hoje não houve consenso mínimo de como aplicá-lo.

    Países que adotaram uma base nacional comum entenderam que ela deixa claro para as escolas e para as famílias o que os estudantes devem saber, no mínimo.

    Quem consegue no Brasil responder se o aluno está aprendendo o adequado, seja na rede pública ou particular? O vestibular ou o Enem podem ser uma medida, mas aí é medição de estrago já feito, ao final da etapa básica.

    A Austrália, que adotou base nacional em 2009, criou sistema on-line em que é possível saber, estudante por estudante, quem está com conhecimento dentro do esperado. Com base no currículo.

    Para os que não chegaram ao mínimo, o sistema sugere ao professor como ajudá-lo.

    O Reino Unido tem currículo nacional desde 1988. No início dos anos 2010, o país entendeu que deveria melhorar o desempenho dos alunos.

    O currículo foi a base para a reforma. Especialistas foram aos documentos de sistemas de destaque no Pisa (avaliação internacional) para ver o que faltava. Pesquisaram, por exemplo, Cingapura e Finlândia. E viram que o conteúdo de matemática era "menos desafiador" do que nos concorrentes.

    Tanto na Austrália quanto no Reino Unido, os currículos também norteiam a formação dos professores que atuam na educação básica.

    No Brasil, uma das principais reclamações de gestores públicos é a distância entre o que os docentes aprendem na faculdade e o que deve ser ensinado nas salas de aula.

    Apesar das vantagens que um currículo nacional possa trazer, a adoção de parâmetro único para um país não é fácil em nenhum lugar.

    Infográfico: Currículo Nacional da Educação Básica

    DIFICULDADES

    Na Austrália, a discussão durou 20 anos. Nos EUA, apenas no fim de 2013 entrou em vigor uma base nacional.

    O desafio é sempre encontrar mínimo de consenso para pontos como: é preciso listar todos os conteúdos que os alunos devem aprender? Ou apenas os principais e o restante fica para definição das próprias escolas? Quais conteúdos são essenciais?

    Uma das principais resistências para o currículo vem das faculdades de educação, que entendem que o professor perderá autonomia.

    Esses são dilemas que o Ministério da Educação terá de enfrentar. "O apresentado hoje é um bom início de conversa. Mas o caminho é longo. Se as redes e os professores não se apropriarem da ideia, não haverá impacto", disse Cleuza Repulho, do Movimento pela Base Nacional Comum.

    -

    ARGUMENTOS DO CURRÍCULO NACIONAL

    Prós
    > Famílias saberão o que os filhos devem aprender em cada série
    > Escolas e redes de ensino terão mais clareza para monta-?gem de seus próprios currículos
    > Formação dos professores poderá focar especificamente o que deverá ser ensinado aos alunos

    Contras
    > Currículo nacional pode ser visto por escolas e redes como o máximo a ser atingido, não o mínimo
    > Pode haver pouco espaço para os conteúdos regionais
    > Escolas e redes podem boicotar por entenderem que houve perda de autonomia

    *

    LINHA DO TEMPO

    1996
    Aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). A regra federal prevê que seja criada uma base nacional comum curricular

    2000
    Especialistas em educação já classificam como "urgente" a necessidade de uma reforma curricular do ensino médio

    2005
    Sem a definição da base curricular comum, vão sendo criadas matérias a serem incluídas obrigatoriamente no ensino médio

    2010
    Conselho Nacional de Educação emite resolução definindo diretrizes curriculares nacionais para a educação básica

    2011
    Conselho Nacional de Educação detalha, em parecer, as novas diretrizes curriculares nacionais para o ensino médio

    2014
    Plano Nacional de Educação, com metas a serem cumpridas em até dez anos, é sancionado pela presidente da República

    2015
    Dois ministérios (Educação e Assuntos Estratégicos) elaboram, separadamente, propostas para a base curricular

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