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    'Reduzir os ciclos permitirá gestão melhor da escola', diz Voorwald

    ANDRÉ MONTEIRO
    DE SÃO PAULO

    23/09/2015 02h00

    O secretário de Educação de São Paulo, Herman Voorwald, afirma que a redução da quantidade de ciclos de ensino nas escolas da rede estadual permitirá uma administração "mais focada" e vai viabilizar uma melhor formação dos professores.

    Leia trecho da entrevista concedida à Folha.

    *

    Folha - Qual o motivo de mudar as escolas?

    Herman Voorwald - Há uma crescente diminuição do número de alunos. Um dos motivos é a municipalização, que ainda não foi concluída, mas levou à migração de 60% dos alunos dos anos iniciais do ensino básico. Em segundo, a diminuição da taxa de natalidade, que consequentemente diminui o número de alunos. E, terceiro, a melhoria da condição financeira das classes, nos últimos anos, que levou à migração de alunos para a rede privada. A estratégia, quando se decidiu universalizar a educação, foi construir escolas que no mesmo espaço atendessem crianças dos três ciclos de ensino. Em São Paulo, mais de 90% das escolas foram construídas no século passado e têm, em média, mais de 40 anos de idade.

    Qual é o objetivo?

    Entendendo que há ociosidade na rede, temos a possibilidade de separar os ciclos para que as crianças estejam em uma escola em que o projeto pedagógico e o entorno favoreçam o que chamamos de tempos e espaços apropriados para aquela faixa etária e ciclo de aprendizagem.
    E, é minha grande prioridade, para que os jovens do ensino médio tenham a possibilidade de estar em uma escola que induza a construção do seu projeto de vida e a busca por uma condição diferente através do ingresso em uma universidade. Isso concomitante ao trabalho que estamos fazendo na secretaria de rediscussão de toda a matriz curricular do ensino médio.

    Qual o benefício de ter escolas com ciclo único?

    O Inep [instituto de pesquisa federal] soltou um relatório este ano mostrando que as escolas que têm mais ciclos têm dificuldade de gestão e performam em torno de 10% a menos do que as escolas com ciclo único. Dados que também temos de avaliações da secretaria mostram que a presença do professor efetivo na escola é importante no sentido dos melhores resultados no processo de aprendizagem, em torno de 20%. Diminuir o número de ciclos na unidade escolar permite uma gestão mais eficiente, o professor efetivo pode completar a jornada em uma escola só.

    As escolas com dois ciclos vão acabar?

    O objetivo é o menino. A movimentação terá como foco que o adolescente esteja no local apropriado para ele e que não seja distante de onde ele reside. Para se ter uma ideia, temos hoje 479 escolas com três ciclos. Nossa proposta é não ter mais escolas com três ciclos, elas poderão se tornar escolas com um ou dois ciclos em função da realidade local. Mas há cidades do interior com apenas uma escola estadual, com dois ciclos. Aí não tem jeito, vamos ter que manter até por uma questão de demanda. A movimentação respeitará muito as questões locais, por isso é fundamental a validação dos dirigentes. O objetivo da secretaria não é prejudicar nenhum aluno, muito pelo contrário. É facilitar a vida do menino e da família.

    Mas e quem não gostar da mudança?

    Não há mais como, com uma condição de queda de alunos, de não ter o entendimento que se precisa construir o espaço adequado para ele aprender. Não há como fugir da necessidade de discutir o ensino médio, há uma discussão nacional sobre isso. Mas para que haja discussão do ensino médio eu preciso que aquele espaço tenha possibilidade de receber laboratórios. É um movimento que objetiva a possibilidade de ações pedagógicas à luz de um momento diferente, de um jovem diferente. Não dá mais pra entender você ter uma criança de seis a sete anos de idade convivendo no mesmo espaço que um jovem de 15 a 16 anos. Como há possibilidade física de viabilizar, temos que viabilizar em benefício do estudante. É ele que tem que ser o foco dessa movimentação toda.

    A previsão é que haja mais queda de alunos no futuro?

    A meta 21 do Plano Estadual de Educação, que está em discussão na Assembleia Legislativa, é a municipalização da educação, então meu entendimento é que essa migração tende a continuar com os 20% de alunos que continuam na rede estadual do 1º ao 5º ano. Também há uma contínua diminuição da taxa de natalidade, então esse movimento de diminuição do número de alunos é resultado disso.

    Serão feitas obras nas escolas?

    Não consigo fazer isso para fevereiro, quando começa o ano letivo. Mas estamos articulando isso com a engenharia da secretaria. Por exemplo, a condição de reforma de uma escola de ciclo de anos iniciais é diferente de uma escola que só terá meninos do ensino médio, precisa de um outro espaço. A movimentação viabilizará um processo de adequação daquele espaço físico à faixa etária daquele estudante.

    O sr. espera alguma resistência por parte dos docentes?

    Minha preocupação é preservar a condição do professor efetivo. E, como minha leitura é de que ele poderá completar a jornada na mesma unidade escolar, não haverá uma pressão contrária muito forte. É claro que, toda vez que você mexe numa rede como essa, muito complexa, é lógico que pode ter uma repercussão negativa contrária. Mas minha leitura é que você tem que trabalhar para o aluno. Não é possível que, numa rede que tem mais de cinco mil escolas, que estava preparada para ter quase sete milhões de alunos, e que tem quatro hoje, que não seja feito um movimento para viabilizar àquele que mais nos interessa, que é o aluno, que tenha uma espaço melhor. Eu não consigo justificar isso como secretário de Estado da Educação. Minha grande preocupação é o menino. Se eu tenho a possibilidade de reorganizar essa rede, dar pra ele um local melhor, dar pra família uma tranquilidade com relação ao espaço onde ele se encontra, para poder viabilizar reformas que adequem a escola ao longo do tempo, eu tenho a obrigação de fazer. O estudante é a minha grande preocupação, não consigo mais imaginar, com essa contínua queda da taxa de natalidade e do número de alunos, que eu permaneça com uma rede absolutamente desorganizada por não ter a possibilidade de enxergar que isto é para o estudante, que para ele é importante.

    Algumas escolas poderão ser fechadas?

    Isso depende da validação dos dirigentes, da proposta que eles fizerem. Há possibilidade, mas não abro mão de que esse espaço seja utilizado para a educação. Por exemplo, por uma creche ou para pré-escola por parte dos municípios. Ou para a expansão do programa de ensino integral e, ainda, a possibilidade de viabilizar com o Centro Paula Souza uma formação técnica de nível médio.

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