A presidente da Apeoesp, sindicato dos professores da rede pública de SP, Maria Izabel Noronha, afirmou nesta quarta-feira (23) que a reorganização das escolas estaduais separadas por ciclos vai "virar uma bagunça" e causar um "descontentamento geral".
"Se hoje os professores vão a duas, três escolas para dar aulas, com essa reestruturação vai ficar mais fragmentado ainda, vão a muito mais", disse Noronha, referindo-se a professores que dão aulas em diferentes séries.
"Vai ser um descontentamento geral não só dos professores, mas dos pais e dos alunos, porque vai ser uma bagunça para realocar todo mundo", afirmou.
Conforme a Folha mostrou nesta quarta, o governo Alckmin decidiu dividir os colégios estaduais de São Paulo por ciclos de ensino.
O objetivo é que a maioria das unidades ofereça classes de apenas um dos três ciclos do ensino básico –anos iniciais (1º ao 5º) e finais (6º ao 9º) do ensino fundamental e ensino médio. Atualmente, cerca de um terço das escolas estaduais funciona assim.
O plano da secretaria de educação é que metade dos alunos da rede paulista já mude de escola a partir do ano que vem.
"A gente preferia que as mudanças fossem mais ousadas: estabelecer número máximo de alunos por sala e valorizar mais a carreira dos professores, por exemplo", completou Noronha.
Em nota, a Secretaria de Educação afirma que a reorganização visa garantir mais qualidade de ensino e melhor ambiente escolar.
"Com 2 milhões a menos de alunos e uma rede de escolas construída para comportar uma população que encolheu, é possível segmentar as unidades e focar as ações pedagógicas por faixa etária."
Para Lúcia Fávero, diretora da ONG Parceiros da Educação e psicóloga, a crítica da Apeoesp é válida, mas o benefício que a mudança trará aos alunos é mais importante.
"Toda mudança causa desconforto. Mas toda nossa atenção deve estar em torno da melhoria da aprendizagem dos alunos", diz.
"Essa medida favorecerá a aplicação e o acompanhamento do currículo escolar. Em uma escola de ciclo único é muito mais fácil acompanhar o aprendizado dos alunos."
O secretário estadual da Educação, Herman Voorwald, estima que o plano vai afetar até mil escolas e entre 1 milhão e 2 milhões de alunos. A rede tem 5.108 escolas e 3,8 milhões de alunos.
Segundo a Secretaria de Educação, os alunos vão estudar a no máximo 1,5 km dos colégios onde estão.
"Tudo depende da análise que será feita pelos dirigentes. Nós conseguimos ver o macro, mas eles conhecem melhor as cidades e os bairros. O objetivo não é prejudicar nenhum aluno, ao contrário. É facilitar a vida do menino e da família", diz Voorwald.
Na divulgação mais recente do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), relativa a 2013, o ensino médio da rede estadual paulista registrou piora. Com nota de 3,7, em uma escala de zero a 10, não atingiu a meta estabelecida, de 3,9.
Número de alunos na rede estadual - Em milhões
Número escolas na rede estadual - Total: 5.108
AVALIAÇÃO
O governo estadual avalia que a estrutura física da rede está defasada, pois as escolas foram construídas para atender uma demanda maior do que a atual e, hoje, têm muitas vagas ociosas.
Em 14 anos, as escolas perderam quase 2 milhões de alunos. Contribuíram para isso mudanças como a municipalização do 1º ao 5º ano, a migração de alunos para a rede privada e a queda da população em idade escolar.
Segundo Voorwald, a reorganização vai permitir uma gestão melhor. Com mais classes de um só ciclo, os professores efetivos poderão cumprir a jornada toda no mesmo endereço.
Além disso, diz, a reorganização vai liberar espaço para ampliar o ensino em tempo integral –hoje presente em menos de 10% das escolas– e ajudará a adequar as unidades às necessidades específicas de cada faixa etária.
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