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    Alexandre Teixeira: Idealizar trabalho perfeitamente feliz é bobagem

    27/09/2015 01h23

    Procurar um trabalho que se possa amar é, definitivamente, um dos itens da reflexão necessária para a escolha de uma carreira contemporânea. Item que complementa (e não se contrapõe a) outras preocupações como as áreas com boa oferta de empregos e bons salários.

    Jogador de futebol ou cantora pop; fotógrafo de revista masculina ou fotógrafa da vida selvagem. Trabalhos dos sonhos são quase sempre estereotipados. A maioria das pessoas tem empregos duros. Seja um operário na linha de montagem, seja um contador em seu escritório. Amar o que você faz nem sempre é possível. Mas é sempre desejável.

    A felicidade é importante até o ponto em que deixa de ser uma aspiração legítima e vira só um capricho. Idealizar um trabalho constituído só de momentos felizes é bobagem.

    Carla Madrigal//www.etsy.com/shop/MadrigalEmbroidery

    Amar a sua profissão é muito mais do que curtir a lua de mel com o primeiro emprego. Carreiras são mais como casamentos, é preciso se apaixonar pelo mesmo trabalho várias vezes.

    Isto é mais válido hoje -com crise econômica e tudo- do que foi num passado em que empregos eram para a vida toda e profissionais se contentavam em trocar lealdade e disciplina por estabilidade. A geração que está entrando no mercado de trabalho hoje enxerga a relação com as empresas com um olhar diferente. Salário no final do mês ainda é importante, claro, só não peça ao jovem que deixe de ser quem é e de acreditar no que acredita para mantê-lo.

    A comunidade de carreiras 99jobs fez uma pesquisa com cerca de 1.300 pessoas que revelou que 60% dos jovens profissionais dizem que o propósito e a conexão com os negócios são tão ou mais importantes do que o salário.

    É natural que seja assim já que a geração Y (pessoas nascidas entre 1980 e 1990) surgiu num momento em que o mundo era (ou parecia ser) mais economicamente viável. A busca por um trabalho apaixonante, porém, não é privilégio de uma faixa etária. É uma tendência global do mercado de trabalho.

    Estima-se que 15% dos executivos em atividade hoje já aceitaram redução no salário para trabalhar em empresas que adotam práticas sustentáveis. Foi o que revelou a consultoria Bain & Company em pesquisa com 750 profissionais de seis países, desenvolvidos e emergentes.

    Aos poucos, o conceito de remuneração financeira vai dando lugar ao de recompensa social -tudo aquilo que recebemos em troca de nosso trabalho. Dinheiro, sim, mas também aprendizado, poder, prestígio, desafio intelectual e retribuição à sociedade pelas oportunidades de crescimento profissional.

    Isso ajuda a ampliar nosso repertório de perguntas a fazer diante de uma oportunidade profissional: será que posso aprender com esse trabalho?; é uma função criativa?; tem impacto positivo sobre outras pessoas?; o chefe é um cara inspirador?, e, não menos importante, vou conviver com gente bacana?

    Hoje há espaço para jovens idealistas até em empresas tradicionais. Idealistas sim, mas com os pés no chão. "Tem muito sonho no mercado. Faltam pessoas que saibam traduzir esses sonhos em realidades", diz o consultor Lourenço Bustani, que já foi eleito uma das pessoas mais criativas dos negócios globais. Se você não entrega resultado, desista de mudar o mundo.

    ALEXANDRE TEIXEIRA, 44, é jornalista, autor de "De Dentro para Fora - Como uma Geração de Ativistas Está Injetando Propósito nos Negócios e Reinventando o Capitalismo" e "Felicidade S.A. - Por que a Satisfação com o Trabalho é a Utopia do Possível para o Século 21" (Arquipélago)

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