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    Crise faz estudantes mudarem de escola privada para pública

    LEANDRO MACHADO
    DE SÃO PAULO

    03/10/2015 16h00

    Quando o advogado Manoel Olegário, 42, perdeu o emprego em julho, precisou conversar com o filho Gabriel Olegário, 11, sobre uma mudança importante que aconteceria na vida do garoto.

    Em 2016, o menino deixará de conviver com amigos e professores que conheceu há cinco anos no colégio particular onde estuda em Diadema (Grande SP). Gabriel agora vai para a escola pública.

    "Fui bastante transparente com ele. Disse que era necessário. Nosso orçamento não permitia mais bancar a mensalidade", afirma Manoel, que paga R$ 900 por mês ao colégio do filho.

    A crise econômica e o aumento de mensalidade têm levado pais a trocarem escolas particulares pelas públicas.

    Diego Padgurschi/Folhapress
    Manoel Olegário, que perdeu o emprego, e Gabriel, que vai mudar para a escola pública
    O advogado Manoel Olegário, que perdeu o emprego, e Gabriel, que vai mudar para a escola pública

    De janeiro a agosto deste ano, 195,7 mil estudantes fizeram esse movimento no Estado de São Paulo. O número já é maior que o de todo o ano passado, quando 195 mil alunos migraram de escolas privadas para públicas.

    Na quinta-feira (1º), primeiro dia de matrículas para 2016, a Secretaria Estadual da Educação registrou cerca de 3.000 inscrições. Dessas, a pasta estima que 90% foram de crianças e adolescentes oriundos de escolas privadas.

    Foi o caso de Gabriel Olegário, que pela primeira vez vai estudar em uma pública. Na quinta-feira, seu pai visitou um colégio estadual em Diadema e já fez a matrícula do garoto para 2016.

    "Enquanto eu não conseguir emprego, meu filho vai ficar na pública. Não acho um prejuízo grande. Os professores são concursados, competentes. Talvez o que falte na escola pública seja mais estrutura", diz Manoel.

    A economista Eliane Cristina de Paula, 45, fez a mesma mudança. Seus dois filhos estudavam em um tradicional colégio particular em Campinas (a 93 km de São Paulo).

    No início do ano, seu marido, o engenheiro Laurence Botinhon, 47, perdeu o emprego. A família teve que parar de pagar R$ 3.000 em mensalidades das crianças.

    "Foi um decisão totalmente financeira, tivemos que colocá-los numa escola estadual", diz Eliane. Ela, no entanto, gostou da mudança.

    "Tivemos sorte. A escola é muito boa. Os professores acompanham meus filhos mais do que na particular. E tudo é de graça. Não tem custo nem de material", diz.

    O marido de Eliane conseguiu outro emprego recentemente. Porém eles não pensam em voltar atrás. "Muitas particulares abusam na mensalidade, alegando ter uma qualidade que nem sempre existe", avalia a economista.

    No Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) mais recente, de 2013, a rede particular paulista teve nota 5,6 no ensino médio, em escala de zero a dez. A rede estadual, 3,7.

    INADIMPLÊNCIA

    As escolas particulares do Estado estimam que, para 2016, o reajuste na mensalidade ultrapasse a inflação, chegando à casa dos 10%.

    Em agosto deste ano, a inadimplência dos pais na capital chegou a 11,60% -ante 7,8% no mesmo mês do ano passado. Os dados são do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de SP, que representa cerca de 10 mil escolas particulares do Estado.

    "Mesmo com a crise, não acho que haverá debandada", diz Benjamin Ribeiro, presidente do sindicato. Para ele, o mais provável é que ocorra uma migração de alunos de escolas mais caras para outras mais baratas.

    "Orientamos escolas a aumentar [a mensalidade] só o necessário", diz Ribeiro.

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