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    Pais se revezam em vigília diante de escola invadida em SP

    JULIANA GRAGNANI
    LEANDRO MACHADO
    DE SÃO PAULO

    15/11/2015 02h00

    Pais e mães de estudantes que trancaram na terça (10) as portas da escola estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros, na zona oeste de SP, fizeram vigília em frente ao colégio em apoio aos filhos durante a semana –a ocupação permanecia até a noite deste sábado, sem prazo para terminar.

    Com medo de como eles poderiam ser retirados dos prédios (pela Polícia Militar, por exemplo), monitoravam a situação dos jovens e falavam com eles pelas grades, por telefone e mensagens de texto.

    Os alunos protestam contra a decisão do governo Geraldo Alckmin (PSDB) de dividir parte dos colégios estaduais por ciclos únicos de ensino (anos iniciais e finais do fundamental e o médio).

    Esse plano prevê para 2016 o fechamento de 93 escolas e o remanejamento de 311 mil alunos –a rede estadual tem 5.147 escolas e atende a 3,8 milhões de alunos. Ao todo, 754 escolas atenderão só um ciclo de ensino no Estado.

    No caso da Fernão Dias Paes, alunos do fundamental serão transferidos, e salas de ensino médio receberão estudantes de outras escolas.

    Até a noite de sábado, oito escolas seguiam ocupadas por alunos da Grande SP.

    Para Rosângela Valim, dirigente regional de ensino da região centro-oeste, a reforma é eficiente porque "toda escola de um só segmento promove um ensino mais efetivo".

    PAIS NA ESCOLA

    A atuação dos pais na invasão de Pinheiros começou na noite de terça, a primeira em que alunos dormiram na escola. O motorista Francisco Gonçalves, pai de Fabíola, 17, chegou gritando: "Atrevida. Você vem comigo!". Tentou pular as grades e foi contido por PMs. Manifestantes gritavam: "Resiste, Fabíola!"

    A garota deixou a escola e voltou na manhã seguinte. "Fiquei muito preocupada com eles [os pais]", afirmou. "Ficaram bravos por causa do tumulto. Eles só não queriam que eu dormisse aqui."

    Ela afirma que seus pais apoiam a manifestação, mas não a ocupação, porque "tira a aula de outros alunos".

    Infográfico: Mudanças na educação

    Seus pais foram exceção. Outros familiares, como o auxiliar administrativo Rabsaque Moreira, pai de dois alunos do movimento –seu filho, Igor, 16, dormiu na escola–, apoiavam a decisão.

    "É uma causa justa. O governo não consultou professores, alunos e seus pais", avalia Rabsaque, que convocou pais de outros alunos que foi "conhecendo na frente da escola" para uma vigília na sexta (13). "Se os estudantes se unirem, mudam esse país."

    Desde terça, Rabsaque foi todos os dias para a frente da escola, após o trabalho. Empolgado, cantava as músicas criadas por jovens que ficaram do lado de fora.

    Dizia que não estava com medo de um possível confronto com a PM, caso a corporação entrasse no colégio para uma reintegração de posse –que foi decretada e depois revogada pela Justiça.

    "Ele sabe se cuidar. No começo, ficaram com medo da minha reação, mas depois viram que eu apoiei. Plantaram uma semente que vai brotar."

    Neste sábado (14), a securitária Marisa Callegari, 51, foi a escola para levar roupas para o filho e saber como ele está. "Eu fico preocupada com a integridade física dele, mas alguém tem de fazer alguma coisa [em relação ao fechamento da escola]", diz.

    A auxiliar Cecília Nogueira, 55, diz que a preocupação tem tirado seu sono. "A gente não come, não dorme com medo de violência", diz. "Mas acho a manifestação linda, importante".

    Desconhecidos também passavam pelo local para dar apoio, aplaudindo ou buzinando em frente ao colégio.

    Uma mãe de um menino de 16 anos que esteve na escola disse ficar "feliz que ele mantenha indignação contra essa política educacional".

    Nasceu um revezamento informal entre os pais dos alunos para garantir a segurança, contou ela, que não quis se identificar.

    Rosemary Segurado, professora do Departamento de Ciências Sociais da PUC e mãe de aluna que estava na escola, sentiu na pele. Ela foi atingida por um PM com um cassetete em meio a um tumulto.

    Ela concorda com as reivindicações da filha. A proposta do governo do Estado foi "autoritária" e "apresentada de um dia para o outro", diz. O governo nega o atropelo e diz que tudo foi anunciado com antecedência e com seguidas reuniões para negociações.

    Na quinta (12), Maria Aparecida foi impedida de entregar produtos de higiene para a filha –pais passavam itens pelas grades, após revista dos PMs. "Você tem filho?", perguntou, em desespero, à PM que negara passar os objetos a sua filha de 17 anos.

    Colaborou ARTUR RODRIGUES

    Veja galeria especial sobre a ocupação da escola Fernão Dias Paes

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