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    Diretor impede saída de alunos de escola em ato contra prova do governo

    FELIPE SOUZA
    DE SÃO PAULO

    24/11/2015 16h01

    O diretor da Etec (Escola Técnica Estadual) Jardim Ângela, Sérgio Antonio de Araújo Filho, impediu que 15 estudantes deixassem a unidade, na zona sul da cidade, durante uma manifestação na manhã desta terça-feira (24). No início da tarde, a direção liberou novamente a saída de alunos.

    Os alunos faziam uma campanha para boicotar o Saresp, prova anual do governo, e contra o fechamento e reorganização de 92 unidades anunciado pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB).

    O cadeado levado pelos alunos foi tomado e controlado pelos seguranças. No início da tarde, o diretor disse à Folha que o acesso foi controlado para evitar que mais pessoas entrassem na escola porque as aulas foram suspensas depois de o primeiro grupo de estudantes passar pelo portão.

    Os alunos que estão dentro da Etec decidiam em assembleia que não vão sair de lá e pretendem passar a noite na escola. Eles entraram na unidade por volta das 6h30 ao lado do carro de um professor.

    Do lado de fora, alunos contrários à ocupação, a favor e pais dos estudantes acompanham o imbróglio. A Folha presenciou o diretor da Etec autorizando a entrada de três policiais militares no local. Os PMs se reuniram com a direção durante cerca de minutos e antes de deixar a unidade.

    Procurado, o Centro Paula Sousa disse que a unidade não integra o programa de reestruturação das escolas da Secretaria da Educação e que o portão foi fechado para impedir a entrada de manifestantes estranhos à escola. "Os estudantes que se encontram dentro da escola têm liberdade de sair a qualquer momento", disse, em nota, a instituição.

    OUTRO CASO

    Cerca de cem estudantes aproveitaram o Saresp para tomar a escola estadual Professor Alberto Conte, em Santo Amaro, também na zona sul. Eles entraram no horário normal de aula e fizeram uma campanha para boicote da prova. Em seguida, trancaram os portões e passaram a controlar o acesso.

    "Nossa escola tem só alunos de ensino médio e as salas chegam a ter 50 pessoas. O governo quer trazer ainda mais estudantes no ano que vem para uma estrutura já saturada. Não vamos permitir isso", diz o estudante do 3º ano do ensino médio Guilherme Carmo, 17.

    Em visita ao local, a reportagem presenciou os estudantes usando as duas quadras da escola para jogar futebol e vôlei. As salas estavam trancadas e os estudantes promoviam oficinas culturais e mutirões de limpeza no pátio principal.

    Infográfico: Mudanças na educação

    ESCOLAS INVADIDAS

    A Secretaria de Estado da Educação informou nesta terça-feira (24) que 110 unidades foram invadidas por estudantes no Estado de São Paulo. A onda de invasões inicia sua terceira semana em protesto contra o fechamento e reestruturação de unidades previsto pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB) para 2016.

    Estudantes de escolas estaduais decidiram invadir as unidades em protesto contra a reforma nos ciclos de ensino. De acordo com proposta da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), 92 escolas serão fechadas em 2016.

    A manifestação, iniciada no dia 9 deste mês na Grande São Paulo, se espalhou pelo Estado. Veja no mapa abaixo onde ficam as escolas invadias por alunos e familiares contra a reorganização da rede proposta pelo governo.

    Mapa: Escolas invadidas em SP

    Nesta segunda, o Tribunal de Justiça de São Paulo negou pedido de reintegração de posse das escolas tomadas. A decisão dos três desembargadores da 7ª Câmara de Direito Público foi unânime. Eles entenderam que não se trata de questão de posse, e que o objetivo dos estudantes é abrir uma discussão com o Estado sobre a reorganização da rede de ensino.

    Foi a segunda decisão da Justiça neste sentido –na semana retrasada, o juiz Luis Felipe Ferrari Bedendi mudou de ideia e reverteu sua própria decisão de pedir a reintegração, também por entender que não se tratava de uma questão de posse, mas de uma questão de política pública, "a merecer melhor atenção do Executivo".

    Uma nova audiência de conciliação foi convocada pelo Tribunal ao final do julgamento desta segunda (23). O encontro voluntário entre professores, alunos e governo do Estado foi marcado para algumas horas depois, mas foi cancelado por falta de quórum -a Secretaria de Educação não enviou representantes.

    PROVA CANCELADA

    A Secretaria Estadual de Educação informou nesta segunda que a principal avaliação da qualidade do ensino na rede do Estado não será aplicada nas escolas invadidas.

    Além de medir a qualidade do ensino, a prova (chamada Saresp) baliza o pagamento de bônus por desempenho a professores e diretores. "A medida [cancelamento] foi anunciada após a pasta certificar que a segurança dos estudantes e funcionários dessas unidades não está garantida", afirmou a Secretaria da Educação.

    "Os aspectos relacionados ao pagamento do bônus por resultado serão estudados do ponto de vista legal e comunicados posteriormente", completou a pasta.

    Os servidores podem receber até 2,9 salários extras caso suas escolas atinjam as metas no Saresp e de fluxo (aprovação de estudantes). A Apeoesp também tem sugerido que estudantes e professores (que aplicam o Saresp) boicotem o exame.

    Mapa: Escolas invadidas em SP

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