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    Agenda cultural em colégios ocupados inclui circo, debate e até cursinho

    FELIPE SOUZA
    DE SÃO PAULO

    27/11/2015 02h00

    Quem passa pelas 182 escolas ocupadas no Estado de São Paulo vê de fora apenas correntes e cadeados, além de pouca movimentação atrás dos muros. Do lado de dentro, porém, os alunos sem aula organizam, por conta própria, uma programação com oficinas, debates e até aula de cursinho pré-vestibular.

    O colégio Fernão Dias, em Pinheiros (zona oeste), que já está na terceira semana de ocupação, já recebeu show do cantor Chico César e rodas de discussão com artistas, professores universitários e líderes de movimentos sociais.

    O porta-voz da ocupação, Heudes Oliveira, 18, diz que uma comissão de cinco estudantes faz um pente-fino para definir quais serão as atividades do dia.

    Além das oficinas, os alunos também fecharam parcerias para ter aulas de dois cursinhos pré-vestibular em dois períodos na próxima semana.

    "É importante esse apoio externo porque a gente quer, além de aula, colocar em pauta outras questões, como música, cultura e grafite. Queremos mostrar que a escola pode ir muito além das salas. E se a gente consegue fazer isso, então o poder público também pode", diz Oliveira.

    Os estudantes do colégio Professor Alberto Conte, em Santo Amaro (zona sul), tiveram aulas de técnicas circenses na tarde desta quinta (26).

    A instrutora voluntária ensinou a fazer uma pequena pirâmide humana.

    No colégio Salvador Allende, em Itaquera (zona leste), após receber as propostas os estudantes definem em assembleia quais aulas querem ter. A maior parte das apresentações artísticas e oficinas que ocorrem no colégio são de artistas e outras pessoas que moram perto do colégio, como grafiteiros e músicos.

    Apenas o grupo Hub Livre já conseguiu reunir mais de 2.000 aulas doadas a alunos das escolas ocupadas. Os temas vão de educação sexual a igualdade racial e social.

    Infográfico: Mudanças na educação

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    PERGUNTAS SOBRE A REORGANIZAÇÃO

    1 - Quais estudos embasaram a decisão do governo? Eles foram divulgados?
    O governo afirma que estudos da Secretaria da Educação e Inep (órgão federal) mostram que escolas com um ciclo têm melhores notas. Nenhum dos trabalhos, porém, isola quanto do ganho é resultado especificamente do número de ciclos.

    2 - Houve diálogo com pais e alunos antes da decisão?
    Segundo o governo, os dirigentes de ensino tiveram 30 dias para conversar com a comunidade escolar. O secretário de Educação, Herman Voorwald, reconhece, porém, que pode ter havido deficiência no processo.

    3 - Qual será o destino das 92 escolas que serão fechadas em 2016?
    Foram oferecidas às prefeituras e ao Centro Paula Souza (escolas de ensino técnico). Não há definição do que será feito com todas elas.

    4 - O ano letivo dos alunos das escolas ocupadas está comprometido?
    O governo afirma que serão cumpridos os 200 dias letivos obrigatórios. Assim, as unidades terão de repor aulas quando forem desocupadas.

    5 - Quais os efeitos do cancelamento do Saresp nas escolas ocupadas?
    As unidades ficam sem avaliação da sua qualidade, e os servidores dessas escolas ficarão sem receber bônus por desempenho.

    6 - As ocupações são consideradas ilegais?
    O Tribunal de Justiça considerou que as ocupações são válidas, pois têm como objetivo abrir discussão com o Estado sobre a reorganização.

    7 - Quantas escolas serão impactadas?
    O governo quer dividir parte das unidades por ciclos únicos (anos iniciais e finais do fundamental e o médio). Para isso, pretende transferir 300 mil alunos e fechar 92 colégios.

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