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    Governo de SP aposta em desgaste de ocupações, e alunos radicalizam

    DE SÃO PAULO

    03/12/2015 02h00

    Após a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) indicar que aposta no desgaste do movimento contra a reorganização do ensino em São Paulo, os manifestantes que ocupam os colégios estaduais decidiram radicalizar a estratégia.

    A nova diretriz de fechar vias ao trânsito de veículos, iniciada nesta semana, deve ser intensificada na capital paulista hoje (03/12), apesar de a Polícia Militar ter agido com força para desbloquear ruas nos últimos dois dias.

    Os estudantes ameaçavam fazer "travamentos" -nome dado por eles ao bloqueio de ruas e avenidas- simultâneos nesta quinta-feira.

    Nesta quarta (2), eles fecharam a av. Doutor Arnaldo de manhã e um trecho da rua Teodoro Sampaio, no cruzamento com a Henrique Schaumann, à tarde. Nos dois casos a PM interveio e retirou os manifestantes, que espalham carteiras escolares pelas ruas.

    No protesto da tarde, a polícia chegou a jogar bombas de efeito moral. A ação dividiu quem assistia à cena.

    Enquanto alguns motoristas ajudavam policiais a retirar as cadeiras, outros gritavam "vergonha" para os PMs.

    O governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que há motivação política na ação dos estudantes. "Não é razoável a obstrução de via pública. É nítida que há uma ação política do movimento."

    Os manifestantes (que incluem alunos, sindicalistas e integrantes de outros movimentos, como Passe Livre) decidiram no domingo (29) radicalizar os protestos após a indicação do governo de que não recuará da reorganização.

    Até então, os protestos priorizavam ocupação de escolas. Na última contagem do governo, eram 191, de um total de 5.100 no Estado inteiro.

    A reorganização prevê aumentar a quantidade de colégios com ciclos únicos de ensino (anos iniciais e finais do fundamental e médio). Para isso, haverá em 2016 a transferência de 311 mil dos 3,8 milhões de alunos da rede, além do fechamento de 92 escolas.

    Em reunião com dirigentes de ensino, a Secretaria da Educação indicou que buscará dissuadir os manifestantes nas unidades menos organizadas, por meio de conversas, e tentará convencer a sociedade que nas demais há movimento político, pró-Dilma.

    Se por um lado a interdição de vias faz os protestos terem mais visibilidade, por outro causa antipatia -como no caso do instalador de TV a cabo Ronaldo Giorgetta, 42, que ficou parado na região da Henrique Schaumann. "Tem de haver outro jeito de protestar. Já perdi três trabalhos por causa disso", disse ele, que apoia a causa dos alunos.

    O corretor de imóveis Luis Braga, 58, cujo filho foi detido no protesto da Doutor Arnaldo, disse que só "seria contra" se seu filho "tivesse cometido crime, se fosse racista, machista ou violento". "Mas ele estava no direito democrático dele de protestar e foi impedido pela polícia."

    Alguns pais se preocupam com a interrupção das aulas. Claudia de Moura, 49, tentou convencer os estudantes da escola da filha, na Vila Sônia (zona oeste), a desocupá-la.

    "Eles não queriam diálogo", diz ela, que é professora estadual em outro colégio. "Um grupo de 30 alunos acha que tem direito de impedir que outros 600 entrem na escola para estudar. Isso não está certo", reclama.

    DETENÇÕES

    O perfil dos manifestantes detidos desde terça-feira (1º) durante protestos contra a reforma do ensino anunciada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) revela a participação de grupos de fora da rede estadual paulista.

    De oito pessoas levadas para delegacias até a tarde de quarta (3), quatro eram maiores de idade. Outras duas foram detidas à noite, mas a PM não informou suas idades.

    Na terça, o casal Tatiana Tavares de Lima, 32, roteirista, e Raul Nerici, 29, editor de imagem, chegava em casa, na av. Nove de Julho, quando viu a concentração de estudantes que bloqueavam a via.

    Para dispersar a manifestação, que durava mais de cinco horas, a Polícia Militar usou bombas de gás. Alguns estudantes revidaram atirando pedras nos policiais.

    "Por achar um absurdo a polícia estar atirando bombas em alunos, a gente começou a filmar e a dizer palavras de apoio", conta Tatiana.

    Ela diz que, pouco depois, recebeu voz de prisão de um policial. "Quando meu namorado foi me defender, ele apanhou. Quando fomos para a delegacia, eles continuaram nos batendo", relata.

    A PM afirmou na delegacia que ambos foram detidos por terem incitado os jovens. Eles foram liberados horas depois.

    No mesmo protesto, dois adolescentes, de 15 e 17 anos, foram apreendidos.

    Na manhã desta quarta, quando policiais usaram a força novamente para retirar cerca de 30 manifestantes que interditavam a avenida Doutor Arnaldo, mais quatro pessoas foram detidas.

    "Levei chute por trás, me enforcaram e ainda assinei um ato infracional por desacato e resistência", afirmou um adolescente de 16 anos, um dos dois menores de idade apreendidos no dia.

    Aluno de uma Etec (escola técnica estadual), que não faz parte da restruturação do ensino, ele foi ao local para apoiar o ato. Já participou de diversos protestos, como os promovidos pelo MPL (Movimento Passe Livre).

    "Se o governo continuar usando a repressão contra os estudantes, o movimento vai ficar ainda mais forte", diz o jovem, que foi liberado com os outros manifestantes.

    Em nota após a ação na Doutor Arnaldo, a PM declarou que age para impedir "tumultos e badernas nas ruas, que prejudicam o acesso de milhões de paulistas ao trabalho, estudo e hospitais".

    A corporação afirmou ainda que foi necessário o "uso progressivo da força para dispersar os manifestantes".

    CRISE DA EDUCAÇÃO EM SP - Reorganização dos ciclos de ensino gera protestos e ocupações

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