• Educação

    Monday, 06-May-2024 00:33:25 -03

    Estudantes assistem a shows gratuitos em evento de apoio às ocupações

    JULIANA GRAGNANI
    DE SÃO PAULO

    06/12/2015 17h37 - Atualizado às 23h57

    Os shows em apoio às ocupações neste domingo (6) aconteceram em clima de celebração da vitória dos estudantes contra a reorganização da rede de ensino estadual.

    Estudantes secundaristas, universitários, famílias e apoiadores foram assistir às apresentações de artistas, que parabenizavam os alunos e diziam que era um momento histórico. A cantora Céu afirmou que o movimento lhe dava "orgulho"; o titã Paulo Miklos cantou "Polícia" –o público respondeu pedindo o fim da polícia militar; Maria Gadu saudou as "escolas abertas"; Criolo disse que os estudantes deram "aula de cidadania"; Barbara Eugenia afirmou que era a "primeira vitória de muitas".

    Essas apresentações aconteceram ao longo do dia na praça Horácio Sabino, em Pinheiros (zona oeste), próxima à escola estadual Professor Antonio Alves Cruz, que está ocupada. Segundo organizadores, o evento chegou a reunir 3 mil espectadores. Arnaldo Antunes ainda tocaria após a conclusão da edição.

    Em Pinheiros (zona oeste), na praça Horácio Sabino, o cantor Criolo, que abriu o evento, encerrou apresentação às 16h30 sob gritos da plateia: "Não tem arrego".

    Maria Gadu e 5 a Seco se apresentaram às 17h. Gadu disse querer "a escola aberta". A cantora Barbara Eugenia, que entrou no palco em seguida, parabenizou os estudantes pela vitória e disse que era "a primeira de muitas".

    "Esses meninos são os mensageiros do futuro", disse Letícia Sabatella, que encerrou os shows às 23h.

    Entre as apresentações, estudantes puxaram palavras de ordem e cantaram músicas que marcaram as ocupações, como "O Estado veio quente / Nóis já tá fervendo / Quer desafiar / Não tô entendendo / Mexeu com os estudantes você vai sair perdendo" e "E se a escola fechar / A cidade vai parar / Se o povo se unir / O Geraldo [Alckmin] vai cair". No final, acrescentaram: "E o Herman já caiu". O secretário estadual de Educação, Herman Voorwald, pediu demissão na sexta (4), após o recuo de Alckmin.

    Alguns alunos subiram ao palco para contar histórias de agressões policiais sofridas durante protestos. Uma estudante universitária que foi detida afirmou ter sido chamada de "macaca" por PMs.

    Estudante da escola Fernão Dias (Pinheiros, zona oeste), uma das primeiras ocupadas, o aluno Heudes Oliveira, 18, disse que os estudantes "continuarão na rua". "Ele [Alckmin] disse que escutou nossa mensagem. É mentira", afirmou, convidando o público para nova manifestação nesta quarta (9) na avenida Paulista. Ele diz que os alunos querem a revogação permanente, e não a suspensão da reorganização estadual.

    Segundo organizadores, o evento reuniu 3 mil espectadores.

    A praça fica próxima à escola estadual Professor Antonio Alves Cruz, que está ocupada. No local, ainda haverá shows de Vitrola Sintética, Vanguart, Cidadão Instigado, Céu, Pequeno Cidadão e Paulo Miklos, Tiê e Arnaldo Antunes.

    Outros shows, debates e exibições de filmes estão acontecendo neste domingo em escolas ocupadas ou regiões próximas. As apresentações são resultado da ação "Virada Ocupação", organizada pela rede Minha Sampa, que apoia o movimento dos estudantes secundaristas.

    O evento foi realizado por voluntários. Setecentas pessoas se inscreveram para trabalharem como produtores.

    Ex-professor da rede pública estadual, Tarsio Souza, 36, foi aos shows com sua irmã e sobrinho de dois anos de idade. "Esses meninos estão criando uma nova forma de fazer política, horizontal, sem líderes. É revolucionário", disse.

    "Quando é que teve shows assim recentemente por uma causa política? Só nos anos 1980", observou a assistente social Janete Barros Nunes, 48.

    Aluna de uma escola em Embu das Artes, a Reverendo Almir Pereira Bahia, Thalita Souza, 16, disse que era o momento dos alunos comemorarem. "A gente conseguiu. Fomos ouvidos."

    POPULARIDADE

    Quando anunciou o recuo em relação à reorganização das escolas, Alckmin disse que o ano de 2016 será "o de aprofundarmos o diálogo". Ele ostenta o seu pior nível de popularidade –aprovação de 28%, segundo pesquisa Datafolha da semana passada.

    Com o recuo, o secretário de Educação, Herman Voorwald, pediu demissão.

    No sábado (5), o governo do Estado publicou no Diário Oficial de São Paulo decreto revogando o que permitia a reorganização escolar.

    Na sexta (4), em assembleia feita por representantes de diferentes ocupações, estudantes decidiram manter as ocupações.

    "Só desocuparemos as escolas se a reorganização for cancelada oficial e permanentemente e se o governo garantir nenhuma punição aos manifestantes", disseram, em jogral.

    De acordo com a Secretaria de Estado da Educação, 195 escolas continuam ocupadas em todo o Estado. Segundo a Apeoesp (sindicato dos professores), o número de ocupações chegou a 204.

    A secretaria informou que as diretorias de ensino buscam há ao menos uma semana alternativas, como universidades, para que os estudantes que precisam do diploma para fazer a matrícula da faculdade terminem o ano letivo.

    DESOCUPAÇÃO

    Os estudantes secundaristas de escolas estaduais de São Paulo anunciaram que vão manter as ocupações até que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) faça um pronunciamento cancelando permanentemente o plano de reorganização escolar.

    Após quase um mês de ocupações em escolas –cerca de 200 delas no Estado de São Paulo– e a queda da popularidade de Alckmin para seu menor nível em mais de dez anos de gestão, em períodos alternados, desde 2001, segundo pesquisa Datafolha, o governador recuou no projeto de reorganização e anunciou sua suspensão na sexta (4).

    Neste sábado (5), decreto revogando a reorganização em 2016 foi publicado no "Diário Oficial de São Paulo".

    Alckmin disse que o ano de 2016 será "o de aprofundarmos o diálogo" sobre o processo de reorganização, dando a entender que o projeto foi adiado e poderá ser aplicado em 2017. O plano separaria escolas por ciclos de ensino (fundamental e médio) e previa o fechamento de 92 escolas.

    Os estudantes querem o cancelamento, e não o adiamento da reorganização.

    Leia a íntegra do pronunciamento dos estudantes, feito na tarde deste domingo (6) em jogral, forma que evita o destaque de líderes ou porta-voz:

    "Nós, estudantes secundaristas, após encontro estadual das escolas ocupadas, no dia 6 de dezembro, anunciamos que continuaremos na luta, seja ocupando as escolas ou as ruas. A força dos estudantes já foi provada, uma vez que o governador teve que recuar com o projeto e o secretário teve que deixar o cargo. Exigimos que a reorganização escolar seja permanentemente cancelada e que o governador Geraldo Alckmin faça um pronunciamento claro e concreto através de uma audiência pública amplamente convocada. Exigimos punição aos policiais que agrediram ou ameaçaram os estudantes e o fim de todos os processos contra estudantes, funcionários, professores ou apoiadores e que não sejam perseguidos ou criminalizados pela direção ou qualquer meio de repressão. Convocamos toda a sociedade para um grande ato em apoio às escolas ocupadas, quarta, dia 9, às 17h, com concentração no Masp".

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024