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    Contra plano de governador tucano, estudantes ocupam escolas de Goiânia

    DIENE BATISTA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM GOIÂNIA

    11/12/2015 16h20 - Atualizado às 16h51

    Divulgação
    Secundaristas ocupam o colégio Lyceu, de Goiânia, contra plano de transferência de gestão das escolas

    Assim como em São Paulo, estudantes do ensino médio de Goiás vêm ocupando escolas estaduais. Desde a última quarta-feira (9), três unidades registraram ocupação por alunos da rede pública contrários ao plano do governador Marconi Perillo (PSDB) de transferência da gestão das escolas para as OS (Organizações Sociais).

    Na capital de Goiás, os secundaristas são contra o que chamam de terceirização das unidades. Na capital paulista, as ocupações começaram contra o plano do governo do também tucano Geraldo Alckmin de fechar algumas unidades no Estado. Os atos fizeram-no recuar e adiar o projeto para 2017.

    Em Goiânia, a última escola ocupada na manhã desta sexta-feira (11) foi o colégio estadual Lyceu, no centro da cidade. Na quarta, começou com a escola Professor José Carlos de Almeida, também no centro. Ontem, os alunos já haviam ocupado a Robinho Martins Azevedo, na região noroeste da capital.

    Nas últimas semanas, estudantes e professores já haviam saído pelas ruas de Goiânia, em atos contra o plano do governador Perillo. Goiás pretende testar um novo formato de gestão da educação pública, assunto que causa polêmica entre estudantes e professores.

    A expectativa do governo goiano é que o edital de chamamento das organizações seja publicado até a próxima semana. Na última terça-feira (8), foi publicado no "Diário Oficial" do Estado despacho de Perillo estabelecendo o custo médio médio mensal por aluno de R$ 350 –valor máximo– e de R$ 250 –valor mínimo.

    No documento, o governador citou a crise financeira enfrentada pelo Brasil como um dos fatores que motivou a modalidade de gestão terceirizada. Além de ser criticado por alguns especialistas, o modelo não é bem visto pelos servidores, que acusam precarização dos vínculos trabalhistas.

    Integrante da comissão de imprensa e comunicação do movimento, o estudante Gabriel Pereira de Lima, 16, diz que as ocupações pedem a revogação do edital de chamamento das OS, a não-militarização das escolas estaduais e a reabertura do colégio José Carlos de Almeida.

    "Estamos abertos ao diálogo. Ruim com a escola pública, pior sem ela. Não queremos que uma empresa que controle (as escolas). Nós podemos cobrar do Estado. De uma empresa, não", pondera.

    A assessoria de imprensa da Secretaria de Educação de Goiás informou que aguarda a chegada da secretária Raquel Teixeira (Educação) a Goiânia –ela estava em Pirenópolis, em um evento festival de música–, para se posicionar sobre as ocupações. Nesta semana, em entrevista à Folha, defendeu o modelo das OS, argumentando que os empresários conhecem mais de gestão que os educadores.

    'REVOLTA DOS PINGUINS'

    Cursando o segundo ano do ensino médio, no Lyceu de Goiânia, Lima diz que a unidade foi diretamente impactada com o fechamento do colégio José Carlos de Almeida.

    "Quando o JCA foi fechado, todos os alunos foram para o Lyceu, e isso gerou uma série de transtornos, como salas de aula superlotadas. Mas nós pegamos o amor deles pela escola", justifica. Segundo ele, o grupo se inspira na "revolta dos pinguins", protagonizada por estudantes chilenos, em 2006, que protestaram contra o sistema educacional naquele país. A expressão é uma referência ao uniforme dos alunos daquele país.

    Lima diz que o movimento "convocou os alunos para a luta e a comunidade para apoio". Desde quarta (9), eles organizam a limpeza e a reabertura da biblioteca do colégio JCA. Estão sendo articuladas, via Facebook, atividades culturais, como oficinas de percussão.

    Questionado, o estudante não informou se há planos de ocupar novas escolas. Ele também não soube dizer quantos pessoas fazem parte do movimento atualmente.

    Presidente do Sintego (Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás), Bia de Lima disse que os professores foram surpreendidos pela iniciativa dos alunos. "Entendemos que o envolvimento dos estudantes contra as OS é muito importante. É uma luta só. Nós, professores, há muito temos debatido sobre o quanto a entrada dessas organizações é prejudicial à educação e a escola pública.

    OUTRO LADO

    Em nota, a Secretaria de Educação informou que "sempre esteve aberta ao diálogo, por isso entende que esse movimento de ocupação de escolas da rede é extemporâneo, injustificável e desnecessário".

    Segundo a pasta, o projeto de gestão compartilhada "é único, e vai garantir que professores e diretores se dediquem exclusivamente ao ensino e aos alunos". A secretaria disse ainda que "as escolas vão permanecer 100% públicas e gratuitas, os professores efetivos terão todos os diretos assegurados e os recursos aplicados serão os mesmos".

    O governo goiano diz que "o modelo será uma iniciativa inovadora, tornará o sistema mais ágil, mais eficiente e fará avançar a qualidade da educação pública" no Estado.

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