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    Com PSDB, ensino em SP tem volume, mas mantém notas baixas

    FÁBIO TAKAHASHI
    DE SÃO PAULO

    13/12/2015 02h00

    Muitos alunos se formam, mas com nível deficiente em português e matemática –e praticamente sem melhora desde 2009. Após 20 anos com o PSDB à frente do governo de SP, esse é o retrato do ensino básico no Estado mais rico do país.

    A qualidade do sistema ficou em evidência após a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) tentar reorganizá-lo. Protestos de diversos setores da sociedade forçaram a suspensão do plano que previa transferência de estudantes e fechamento de 92 escolas para aumentar o número de unidades de ciclo único (só com ensino médio, por exemplo).

    Gestores tucanos ressaltam que a rede paulista está entre as melhores do Brasil, tanto em aprendizagem quanto na proporção de alunos que concluem o ensino básico.

    Por outro lado, analistas ouvidos pela Folha afirmam que São Paulo está muito aquém do resultado possível, considerando sua condição socioeconômica (tem o 2º maior PIB per capita no país).

    20 ANOS DE EDUCAÇÃO NO PSDB - Apesar de estar entre as melhores do país, rede paulista estagnou em patamares inadequados

    É a avaliação das ONGs Todos pela Educação, Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Fundação Lemann; da Apeoesp (sindicato docente); e do membro do Conselho Estadual de Educação João Cardoso Palma Filho (ex-secretário-adjunto de Educação na gestão Alckmin).

    Segundo a mais recente avaliação federal, de 2013, o aluno da rede estadual se forma no ensino médio com desempenho em português e em matemática que deveria ter sido alcançado três séries antes.

    Na média, os alunos após nove anos de estudos não conseguem reconhecer opiniões divergentes sobre um tema ou usar a regra de três.

    "É o sistema ideal? Certamente, não", afirmou a secretária de Educação no governo Mario Covas (1995 a 2001), Rose Neubauer. "Mas houve grandes avanços."

    A proporção de jovens de 19 anos que se forma no ensino médio subiu de 27% em 1995, no início da gestão PSDB, para 67% quase 20 anos depois. No país, São Paulo fica atrás apenas do Distrito Federal (68%).

    Cronologia tucana

    COMPARAÇÃO

    "Comparado com o país, a performance de São Paulo até pode parecer boa. Mas o sarrafo está baixo demais", diz o diretor executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne.

    Entre os 65 países no Pisa (avaliação internacional de aprendizagem), o Brasil está em 58º em matemática, atrás de Tailândia, Chile e Uruguai.

    Se fosse um país no exame, São Paulo ganharia uma posição em relação ao Brasil. Ficaria à frente da Albânia, mas atrás da Costa Rica.

    Os analistas consultados pela reportagem indicam diferentes explicações para o baixo desempenho paulista.

    RANKING DO IDEB ENTRE ESTADOS -

    A Fundação Lemann, o Todos pela Educação e a Apeoesp apontaram que, apesar de o mesmo partido estar à frente do governo, as políticas mudaram no período.

    Mario Covas implementou progressão continuada e reorganização escolar (iniciou separação entre alunos do fundamental do médio).

    Alckmin priorizou abertura das escolas aos fins de semana; José Serra, avaliações e bônus por desempenho; Alckmin, de novo governador, apostou em reajuste salarial para os quatro anos do seu primeiro mandato.

    "O PSDB demonstrou não ter projeto claro para educação no Estado", afirma a diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz.

    Cruz defende que uma das principais mudanças no Estado deveria ser a alteração do currículo do ensino médio. "São várias disciplinas, que não conversam entre si. Há forte desânimo entre professores e alunos. Os protestos foram grito contra o abismo entre a escola e a vida."

    Jovens de 19 anos que concluíram o ensino médio - Em %

    A carreira dos professores, pouco atrativa, é um dos principais problemas, afirmaram Daniel Cara, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, e João Cardoso Palma Filho, ex-dirigente da Secretaria Estadual de Educação.

    "A pessoa passa no concurso, vê o salário e pede exoneração. Isso era impensável anos atrás, quando entrar na rede era um orgulho", disse Palma, que foi consultor na área de educação para o PT e PMDB após sair da pasta.

    Conforme a Folha revelou mês passado, houve saída recorde de professores neste ano na rede –cujo piso salarial é de R$ 2,4 mil para jornada semanal de 40 horas.

    Cara diz que o Estado ainda falhou na estrutura das escolas e deixou taxa de alunos por turma alta –SP tem a quinta maior média do país no ensino médio (34,3). "Também falta gestão democrática", diz a presidente da Apeoesp (sindicato docente), Maria Izabel Noronha.

    "IMPRESSIONANTE"

    Se o desempenho dos alunos não é o ideal, o Estado avançou muito em outras frentes, como o número de alunos que se formam, avaliam ex-secretárias de Educação nas gestões do PSDB.

    "É impressionante a queda do abandono e a inclusão de jovens nas escolas", afirma Maria Helena Guimarães de Castro, titular da pasta na gestão José Serra.

    SP tem o segundo maior índice do país de jovens que se formam no ensino médio (67%), o que significa baixo abandono e bom número de alunos matriculados.

    Especialistas apontam a adoção da progressão continuada, na gestão Mário Covas, como o principal fator para esse resultado.

    A diminuição da reprovação de alunos tem direta ligação com menor abandono, mostram pesquisas.

    Matemática -

    Português -

    O efeito colateral foi os alunos avançarem mesmo sem o conhecimento adequado, o que explica, em parte, as baixas médias em avaliações de português e matemática.

    Responsável pela implementação da progressão continuada, a ex-secretária de Educação Rose Neubauer afirma que houve falhas no processo de recuperação para os estudantes com dificuldades. Segundo ela, inicialmente havia reforço nas férias, o que foi abandonado nas gestões seguintes.

    "Nestes 20 anos [de PSDB no governo], muitas políticas tiveram sequência, outras foram descontinuadas, o que atrapalha", diz Neubauer. "Mas é difícil manter as mesmas políticas por tanto tempo, as demandas mudam."

    Maria Helena reconhece que não há um projeto bem definido do partido para a educação no Estado. "Seria o ideal, mas quem tem? Qual o projeto do PT? Eles tiveram três ministros da Educação em apenas um ano."

    As ONGs Todos pela Educação e Fundação Lemann, apesar de dizerem que a qualidade do ensino em SP é deficitária, afirmaram que houve boas iniciativas no Estado. Uma delas foi adoção de currículo unificado, na gestão Maria Helena. O país ainda discute um modelo nacional.

    A Secretaria de Educação disse que "nos últimos 20 anos novas modalidades de ensino foram criadas e hoje mais de 360 mil estudantes têm jornada escolar ampliada". Citou também centros de língua e ensino técnico integrado à educação média.

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