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    Pós-graduação

    Cursos de elite de MBA mudam para se adequar à geração Y

    DELLA BRADSHAW
    DO 'FINANCIAL TIMES'

    02/02/2016 15h55

    Um MBA de uma escola de elite de administração tradicionalmente foi visto como passaporte para uma vaga num conselho de direção corporativo ou para um salário muito alto em Wall Street ou na City de Londres. Mas isso tudo está mudando.

    Nos últimos dez anos, a reputação do setor financeiro e as mudanças nas aspirações da geração Y levaram muitas pessoas que completam um MBA a rejeitar esses papéis. Os dados principais indicam uma queda na procura de empregos com investment banking, no passado uma das áreas de trabalho mais cobiçadas para profissionais dotados de MBAs de escolas de elite, e um aumento do interesse pela tecnologia e o empreendedorismo. Mas nem tudo é tão nítido e claro quanto parece.

    Os empregos no setor financeiro tradicional podem estar sendo vistos como menos atraentes, mas o mundo dos investimentos alternativos está em alta, diz Geoffrey Garrett, reitor da Wharton School da Universidade de Pensilvânia. E, segundo ele, esses empregos são vitais para startups bem-sucedidas.

    "As pessoas tendem a pensar no setor financeiro e no empreendedorismo como sendo os extremos opostos do espectro", diz Garrett. "Mas não são." Na escola Wharton, a região da baía de San Francisco hoje rivaliza com Nova York como o destino preferido para os profissionais formados na escola.

    Para Stacey Kole, vice-diretora da Booth School of Business, de Chicago, o empreendedorismo não se resume a fundar uma empresa. "Nem todo o mundo precisa ser o sujeito que tem as ótimas ideias", ela explica.
    "Os estudantes se formam, saem para o mundo e compram um negócio. Acho que estamos no início desta nova fase."

    Mas, à medida que o mercado de trabalho se fragmenta e que a cultura dos empregos bancários que pagam bônus altos perde sua atratividade, as escolas de administração se veem diante de perguntas sérias quanto ao custo de seus programas e a se um MBA feito em tempo integral realmente atende às necessidades dos estudantes que se formam hoje em escolas de administração.

    Na Columbia Business School, em Nova York, o reitor Glenn Hubbard observa que muitas escolas do segundo e terceiro nível cobram valores comparáveis às escolas que estão no topo dos rankings, algo que, para ele, é inviável. "Não vejo o MBA obtido em dois anos como sendo um produto apropriado para essas escolas."

    Hubbard acha que, mesmo no caso das melhores escolas, o preço de um MBA de dois anos, que muitos estudantes concluem acumulando dívidas de US$100 mil ou mais, é desanimador para a maioria dos candidatos. "O custo-oportunidade de fazer um MBA de dois anos ficará dolorosamente alto nos próximos dez anos", ele prevê. "Não podemos esperar elevar nossos preços no ritmo em que o temos feito, a não ser que mostremos serviço."

    Enquanto o grupinho de escolas de administração de elite se destaca e afasta do restante das escolas, não há um consenso sobre como essas escolas poderão se diferenciar, nem sequer sobre quantas instituições farão parte desse escalão mais alto. Stacey Kole, da Booth, acha que o grupo terá 20 membros ou mais. Outros são menos otimistas.

    Na Insead, que este ano figurou como número um dos rankings pela primeira vez, o reitor Ilian Mihov avalia em nove o número de escolas de administração de elite. Essas escolas -sete delas dos EUA, mais a London Business e a Insead-são as que desde 2000 ocupam as posições principais nos índices de escolas mais recomendadas por ex-alunos nos rankings de MBA do "Financial Times".

    "Essa recomendação é uma coisa muito poderosa", diz o professor Mihov. "Essas escolas de administração são nossas concorrentes. São escolas que conseguiram diferenciar-se. Em algum momento, isso vira uma profecia autorrealizável. Os melhores alunos querem estudar nessas escolas."

    Enquanto elas se diferenciam do grupo de escolas de administração de nível mediano, essas instituições do topo do ranking ainda terão que justificar seus preços, além de procurar reduzir seus custos. Cada escola tem suas próprias prioridades, enquanto cada uma procura se distinguir.

    Para Mihov, o importante é oferecer aos alunos uma experiência verdadeiramente global através do formato de campi múltiplos da Insead; ele diz que 750 alunos de MBA por ano estudam em pelo menos dois dos campi da escola. "O conteúdo é o mesmo, mas os contextos são muito diversos."

    Para o professor Hubbard, a receita mágica está no ensino integrado e no ensino de equipe envolvendo professores de disciplinas diferentes. "O problema é que temos ensinado pouco a pouco, não como um todo. É um pouco um problema do currículo, mas mais uma questão de como ensinamos. As únicas escolas verdadeiramente bem-sucedidas serão aquelas que fizerem isso em grande escala."

    No IMD, na Suíça, que tem uma turma de apenas 90 alunos, o enfoque é sobre uma experiência mais personalizada, trabalhando com os clientes executivos da escola para oferecer colocações seletivas aos alunos, diz o diretor de programa do MBA da escola, Ralf Boscheck. "Toda instituição maior pode nos derrotar no efeito de escala. Precisamos evitar armadilhas na colocação."

    E para Bernard Garrette, reitor associado encarregado do programa de MBA da HEC Paris, o que é importante é a especialização e as empresas que lideram as mudanças. Uma revisão curricular recente realizada em conjunto com recrutadores foi uma lição salutar. "Descobrimos que havia coisas que os professores consideravam ser indispensáveis, mas que não o eram."

    "Os recrutadores queriam que os estudantes tivessem uma história a contar. Não basta entender de administração geral", diz o professor Garrette. Eles querem pessoas com "competências em formato de T", com conhecimentos profundos em áreas específicas.

    Para reduzir os custos para os estudantes, todas as maiores escolas estão se esforçando para criar um pool extenso de bolsas de estudos. Nesse quesito, todas as escolas de administração querem seguir o exemplo de Harvard e Stanford, onde cerca de 50% dos alunos recebem ajuda financeira. O MIT é um caso em pauta; o reitor David Schmittlein vem aumentando a base de bolsas de estudo para poder competir com escolas comparáveis do topo de ranking e impedir que a Sloan perca alunos para elas. "Se você não é realmente competitivo em assistência financeira, isso mascara a identidade da concorrência", ele diz.

    Mas, como ele observa, nas escolas do topo do ranking é preciso uma dotação de US$500 mil para criar uma única bolsa de estudos sustentável.

    Uma dúvida maior diz respeito à sustentabilidade do próprio MBA em tempo integral. Stacey Kole é otimista quanto a isso. "Pode ser que algum dia a demanda pelo MBA em tempo integral desapareça, mas hoje ela é muito forte (nas grandes escolas)."

    Christoph Loch, diretor da Cambridge Judge Business School, não é tão confiante. "O mercado de MBAs é um mercado maduro. O setor se expandiu demais." Ele acha que esse fato vai levar a uma depuração. "Mas não significa que o MBA vai morrer."

    Os empregadores podem querer se certificar da lealdade de funcionários que querem que a empresa ajude a financiar um MBA, escreve Laurent Ortmans. Esses funcionários dirão às empresas que querem melhorar sua habilidade nos negócios, ampliar suas redes e elevar seus ganhos -todos objetivos elogiáveis.

    Mas dados colhidos para a criação do ranking Financial Times 2016 Global MBA revelam que ex-alunos que se formaram em 2012 qualificaram a promoção dentro da empresa em que se encontram como a última entre oito razões que os levam a querer fazer um MBA. Com nota de 4,2 em dez possíveis, o quesito ficou muito atrás da penúltima motivação mais popular, abrir sua própria empresa, que ganhou nota 5,2.

    "Voltei para minha empresa anterior por questão de lealdade", disse um graduado, que, um ano mais tarde, passou para um emprego novo.

    Trocar de empresa e carreira estiveram entre as principais prioridades citadas pelos estudantes, avaliadas respectivamente em 7,7 pontos e oito pontos em dez possíveis. Uma expressão que faz parte do jargão atual dos MBAs é o "salto triplo" -o que acontece quando pessoas que concluem um MBA mudam para outra empresa, em um setor diferente e em um país diferente.

    Três anos depois de concluírem seus MBAs, cerca de três em cada cinco (61%) dos que os concluíram estavam trabalhando em setores diferentes dos de seus empregos pré-MBA. Quase um terço (31%) tinham mudado de país.

    Aqueles que trabalhavam no setor financeiro antes do MBA foram os que tiveram menor tendência a mudar de setor -apenas 40% o fizeram–, comparados com dois terços dos que trabalhavam com consultoria e 91% dos que trabalhavam no setor militar. Em termos de mobilidade internacional, os que trabalhavam em Israel, Emirados Árabes Unidos ou França antes do MBA foram os que mais trocaram de país: 60% o fizeram, contra 11% dos que trabalhavam nos Estados Unidos.

    A atração do empreendedorismo pode mostrar-se forte demais mesmo para os que têm intenções de fidelidade. Cerca de 19% dos que concluem MBAs abrem sua empresa própria.

    "A ideia era que eu voltasse para a empresa da família", explicou um formado em Stanford, "mas agora estou abrindo minha própria companhia."

    Tradução de Clara Allain

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