Estudantes da rede estadual de São Paulo realizaram na manhã desta terça-feira (22) uma manifestação contra os desvios de recursos destinados à merenda das escolas. O grupo também se mobilizou contra o suposto fechamento de salas de aula.
Os estudantes iniciaram o protesto às 7 horas na estadão Butantã do Metrô, na Avenida Vital Brasil, zona oeste da cidade. Seguiram em passeata pela Ponte Eusébio Matoso e, por volta das 12h, chegaram a interromper o cruzamento entre as Avenidas Brigadeiro Faria Lima e Rebouças. "Estamos aqui hoje lutando pela educação e contra o desvio da verba da merenda", entoaram, em coro, enquanto permaneceram sentados no chão.
O ato seguiu até Perdizes e foi encerrado em frente à Diretoria de Ensino Centro-Oeste, na Rua Dr. Paulo Vieira, 257, por volta das 13h30. A PM (Polícia Militar) não estimou o número de participantes.
A Polícia Civil e o Ministério Público Estadual de São Paulo investigam um esquema de fraude na compra de alimentos para merenda no governo Geraldo Alckmin (PSDB).
Em depoimento à polícia, ex-dirigentes da Coaf (Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar) admitiram ter pagado propina em um contrato com a Secretaria Estadual da Educação para fornecimento de R$ 8,5 milhões em suco de laranja. Membros da cooperativa citaram como beneficiário do esquema o presidente da Assembleia Legislativa, Fernando Capez (PSDB).
A maioria dos estudantes presentes no ato era da Escola Fernão Dias, em Pinheiros, zona oeste. A unidade se tornou, no ano passado, símbolo do movimento de ocupações contrário ao projeto de reorganização da rede estadual. O governo pretendia fechar 93 escolas e transformar 754 prédios em unidades de ciclo único.
Após uma onda de ocupações de escolas, o governo suspendeu a reorganização no fim do ano passado.
Os estudantes acusam o governo de fechar e lotar salas de aulas neste ano. Segundo a Apeoesp (principal sindicato dos professores estaduais), cerca de 1,2 mil salas teriam sido fechadas neste ano. A Secretaria Estadual de Educação nega que isso esteja ocorrendo e que a classes são abertas de acordo com a demanda. "A readequação do número de salas de aula é rotina a cada início de ano letivo e sempre aconteceu", informou em nota.
Na Escola Estadual Brigadeiro Gavião Peixoto, em Perus, zona norte, os alunos também fizeram uma manifestação nesta manhã contra os desvios na merenda. O ato levou cerca de duas horas, dentro da escola, e depois as aulas voltaram ao normal, segundo funcionários da unidade.
TROCA
A Secretaria Estadual de Educação oficializou nesta terça a troca do chefe de gabinete da pasta. No cargo há pouco mais de um mês, o promotor Antonio Carlos Ozório Nunes saiu do governo. No seu lugar, entrou Juliana Ribeiro e Silva de Paula, que há três anos estava à frente do Departamento de Administração da pasta.
Segundo o governo, a saída de Nunes ocorreu para atender determinação do STF (Supremo Tribunal Federal) que vetou, no início do mês, que membros do Ministério Público exerçam função no Executivo. Nunes confirmou que foi essa a motivação.
O promotor havia assumido o cargo no lugar de Fernando Padula assim que José Renato Nalini assumiu como secretário de Educação, no fim de janeiro. No processo de tentativa de reorganização, o vazamento do áudio de reunião com dirigentes mostrou Padula afirmando que o governo venceria a "guerra" contra alunos, o que provocou desgaste na relação entre o governo e o movimento.
Padula também foi citado nas denúncias da merenda. No mês passado, a Justiça autorizou a quebra de sigilo bancário e fiscal do ex-chefe de gabinete. Ele nega irregularidades.
Em nota, a Secretaria de Estado da Educação afirmou que "apoia o livre direito às manifestações dos alunos e tem dialogado constantemente com toda a comunidade, inclusive iniciou já visitou unidades que foram ocupadas em 2015".
A pasta afirma que nenhuma aula foi interrompida. "É importante mencionar que os alunos foram recebidos na Diretoria de Ensino, mas sem uma pauta, pediram para não conversarem com o dirigente e deixaram o local", completou a pasta.
Veja galeria especial sobre a ocupação da escola Fernão Dias Paes