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    ensino fundamental 2

    Planejamento faz o Acre colher resultados no ensino fundamental 2

    BRUNO BENEVIDES
    ENVIADO ESPECIAL A BRASILÉIA E RIO BRANCO (AC)

    28/04/2016 02h00

    Lalo de Almeida/Folhapress
    Os estudantes do 6º ano Talita Mendes Rodrigues, 11, Raphaela Nicoly Inácio da Silva, 11, Liédson Crispim de Araújo, 12, da escola Valeria Bispo Sabala, em Brasiléia (AC)
    Os estudantes do 6º ano Talita Mendes Rodrigues, 11, Raphaela Nicoly Inácio da Silva, 11, Liédson Crispim de Araújo, 12, da escola Valeria Bispo Sabala, em Brasiléia (AC)
    Lalo de Almeida/Folhapress
    Os estudantes do 6º ano Talita Mendes Rodrigues, 11, Raphaela Nicoly Inácio da Silva, 11, Liédson Crispim de Araújo, 12, da escola Valeria Bispo Sabala, em Brasiléia (AC)
    Os estudantes do 6º ano Talita Mendes Rodrigues, 11, Raphaela Nicoly Inácio da Silva, 11, Liédson Crispim de Araújo, 12, da escola Valeria Bispo Sabala, em Brasiléia (AC)

    Localizada na reserva Chico Mendes, no meio da Amazônia, a escola Airton Sena recebe todo mês um coordenador pedagógico, que percorre 40 quilômetros floresta adentro para chegar ao local.

    O objetivo da visita é ajudar o professor a planejar as aulas. Foi o modo que o Acre encontrou para melhorar o seu nível de ensino.

    A rede estadual acreana é a terceira melhor do país no fundamental 2, mostra o Ideb (indicador do desenvolvimento da educação), atrás da líder Minas e de Goiás.

    "Esse planejamento é importante porque tira o professor do automático", diz Denis Brito, coordenador das escolas de difícil acesso de Brasiléia -é ele quem faz as visitas.

    O acompanhamento, repetido em todo o Acre, é feito em duas fases. A cada 15 dias o professor se reúne com o coordenador para debater problemas da sua matéria. E pelo menos uma vez por bimestre todos os docentes da escola participam do encontro interdisciplinar. Neste último, o foco é como levar o ensino de português e matemática para as outras matérias.

    "Não há mais um palco, em que o professor vai falar. O estudante precisa entender o que é ensinado, ver que as matérias se conectam e fazem sentido umas com as outras", diz Francisco Lira, coordenador da escola estadual Padre Diogo Feijó, de Rio Branco.

    Para o secretário de Educação do Acre, Marco Brandão, é preciso que o ensino de uma matéria esteja presente na outra. "Você tem que fazer com que nove professores de diferentes formações pensem de forma integrada e transdisciplinar. Daí a necessidade de acompanhamento."

    Em Brasiléia esse planejamento ajudou o município, que fica a 150 quilômetros de Rio Branco e faz divisa com a Bolívia, a ter a melhor nota do Estado: 5,3. Para comparação, São Paulo tirou 4,4.

    A proximidade com a fronteira e o bom desempenho atraem estrangeiros para as escolas locais.

    O boliviano Luis Armando Werthemeier matriculou seu filho em Brasiléia, em vez de optar por uma escola em seu país. "O ensino é muito melhor, é visível", diz. O menino se formou ano passado no nono ano e ganhou bolsa para fazer o ensino médio no Rio. "A formação que ele teve aqui foi forte", diz o pai.

    É comum ver garotos com uniforme e mochila atravessando a ponte que liga Brasiléia à boliviana Cobija, como Heinny Pamela, 13. "Gosto de estudar aqui, as aulas de português são legais", diz. Ela mora do lado boliviano a faz o trajeto de bicicleta.

    "Alguns alunos chegam com dificuldade em português, mas trabalhamos no início para resolver", diz Ana Maria Cruz, diretora da escola estadual Odilon Pratagi, de Brasiléia, que tem o segundo melhor Ideb do Acre.

    Segundo ela, a melhoria do ensino tem a ver com exames e simulados que a escola faz. Com isso, a dificuldade de cada um é identificada. "Fazemos um diagnóstico com a habilidade que falta ao aluno e que ele já deveria saber. Assim, os professores vão direto ao problema", diz Cruz. "Se você não resolve a dificuldade logo no sexto ano, isso vai refletir lá na frente."

    Pensando nisso a escola Valeria Bispo Sabala, na zona rural de Brasiléia, implementou reforços em português e matemática para alunos do sexto ano. O objetivo é gerar resultados visíveis a longo prazo, quando a turma acabar o nono ano.

    "Começamos identificando os problemas dessa série, e um professor vai trabalhar para resolver já. Se deixamos para depois, isso vai explodir lá em 2019, quando eles se formarem" explica o diretor, José Henrique Ribeiro.

    No Acre, os diretores das escolas estaduais são eleitos pela comunidade (alunos, pais, professores e funcionários) por quatro anos, com direito a uma reeleição. Precisam ser aprovados em um processo da secretaria e podem sofrer "impeachment" em caso de má gestão.

    Para o secretario Brandão, isso dá mais autonomia à escola. "A direção pode estabelecer as prioridades, tanto financeiras quanto pedagógicas, e criar projetos ligados à realidade em que está."

    'COITADINHOS'

    Primeiro lugar no Estado, a João Mariano da Silva, em Rio Branco, usa essa liberdade de várias formas. Há desde aula de história com canções, que ocorre no pátio, a jogos de xadrez no intervalo.

    Para melhorar seus resultados (foi de 3,6 em 2005 para 5,9 em 2013), a escola criou um programa que unifica os dados dos alunos, da frequência às notas. Com isso, é possível fazer gráficos que mostram onde há problemas. E resolvê-los.

    "Antes, os alunos não tinham pretensões, eram tratados de coitadinhos, porque moram em um local muito pobre. Mudamos isso com tecnologia", diz o ex-diretor e atual coordenador de ensino, Wilson Guimarães.
    O colégio fica no Taquari, periferia afetada por violência e alagamentos.

    Nascida e criada no bairro, Neiva Silva estudou no colégio, se formou em letras e hoje leciona ali. "O aluno esquece os problemas de fora quando está na escola, isso ajuda."

    Aluna do nono ano, Joice Lima, 14, concorda. "A escola incentiva para que a gente tenha uma profissão."

    Um salto maior no ensino do Estado emperra nos salários baixos. "O professor precisa trabalhar de manhã, tarde e noite", diz Alcilene Gurgel, presidente do SinproAcre (sindicato dos professores da rede estadual).

    O próprio secretário reconhece que o salário não é o ideal. "Não pagamos o que gostaríamos, mas o que é possível", diz Brandão.

    O Acre enfrentou greve de professores em 2015, que acabou sem aumento. Um acordo prevê alta de 18% em 2017.

    Outro problema, diz a representante do sindicato, é a falta de estrutura das escolas, a maioria não conta com sala de informática ou quadras. Algumas escolas também sofreram com roubo de merendas e alagamentos.
    "Não temos as escolas mais bem equipadas, então o jeito é usar bem o que temos e não desperdiçar o tempo dos professores", diz Guimarães, da João Mariano da Silva.

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