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    ensino fundamental 2

    Disciplinas sem conexão com a vida do aluno são falhas do fundamental 2

    FABIANA FUTEMA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    28/04/2016 02h00

    Matérias demais, que não conversam entre si, distribuídas em aulas desinteressantes e ensinadas sem didatismo dificultam a adaptação do pré-adolescente recém-chegado ao fundamental 2.

    A falta de sintonia entre a vida da criança e o conteúdo ensinado também empurra o aluno para fora da sala de aula, segundo especialistas.

    "Eles abandonam a escola por desconexão, falta de estímulo", afirma Patrícia Mota, gerente de educação da Fundação Itaú Social.

    Os educadores querem saber qual será o impacto do novo conteúdo do currículo, em discussão no país, sobre a etapa do fundamental 2.

    A chamada BNC (Base Nacional Comum Curricular), proposta para garantir o mínimo que se ensina nas escolas do Brasil e melhorar a educação, passou por debate público e sua primeira versão está sendo reformulada por uma comissão do MEC (Ministério da Educação).

    Em seguida, esse texto deverá será debatido no âmbito dos Estados. A previsão é de que se chegue a uma proposta um pouco mais definitiva no mês de junho.

    Está em apreciação, por exemplo, a antecipação de alguns conteúdos e competências do ensino médio para o fundamental 2, como explica Manuel Palacios, secretário de Educação Básica do MEC.

    "Um debate crítico frequente nessa questão da proposta da base curricular é sobre a necessidade de os últimos anos do fundamental prepararem melhor para o estudo de química, física e tecnologias, objetivos usualmente atribuídos ao primeiro ano do ensino médio".

    O diagnóstico que se faz hoje é de que a transição do ensino dessas disciplinas entre uma e outra etapa precisa ser mais bem preparada.

    Para o presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista, não faz sentido antecipar conteúdos do ensino médio para o fundamental. "Não se está dando conta do que é ensinado agora, como trazer mais? A ideia é fazer pouca coisa, mas bem feita."

    Já Patrícia Mota, do Itaú Social, vê a possibilidade de adiantar para os anos finais do fundamental algumas atribuições que hoje são do ensino médio, não as disciplinas. "O aluno já tem habilidade para eleger, fazer escolhas próprias de matérias, desenvolver projetos."

    Cronologia Ensino Fundamental 2 - Educação - Folha de S.Paulo

    FILHO DO MEIO

    Se a mudança curricular será capaz de jogar luz sobre a "etapa esquecida" do ensino brasileiro, é dúvida.

    O fato é que o fundamental 2 vem sendo negligenciado, aponta Anna Penido, diretora do Instituto Inspirare.

    "É o filho do meio de pais separados. Como a responsabilidade é dividida entre Estados e municípios, ninguém olha para ele, é sempre minoria. O município se preocupa mais com o ensino infantil e o fundamental 1, e o Estado, com o o ensino médio."

    Uma das ideias, diz Virginia Pereira de Melo, presidente da Undime-Goiás (União dos Dirigentes Municipais de Educação), é justamente "estadualizar" a responsabilidade pelo ensino fundamental 2, hoje compartilhada por Estados e municípios.

    "A educação infantil é muito cara para os municípios, daí esse movimento de 'estadualizar' o fundamental."

    Já Batista não vê problema no compartilhamento de responsabilidades: "O problema é a maioria dos alunos chegar ao sexto ano sem bagagem, sem saber ler, sem entender contexto. A transição foi historicamente mal administrada."

    Segundo Palacios, o grande tema da educação é mesmo o do letramento na idade adequada, nos anos iniciais.

    "Precisamos de mobilização da sociedade para enfrentar essa questão. É impossível fazer com que a criança ou o adolescente com dificuldade de leitura se identifique com a estratégia pedagógica nos últimos anos do ensino fundamental. A prioridade absoluta é que todos tenham acesso à cultura letrada, objeto principal da escola."

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