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    Mesmo com vagas no Sisu, cai inclusão de alunos de escola pública na USP

    PAULO SALDAÑA
    DE SÃO PAULO

    25/05/2016 17h25 - Atualizado às 19h51

    A USP (Universidade de São Paulo) registrou queda no ingresso de alunos de escola pública no vestibular de 2016. O resultado ocorre mesmo com a adoção do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) para selecionar parte dos ingressantes, aposta da instituição para ampliar a inclusão.

    Das 11.057 vagas da USP neste ano, 34,6% foram preenchidas por alunos de escola pública –o que representa 3.767 alunos. No ano passado, esse percentual foi de 35,1%.

    A meta era de que 39% dos ingressantes neste ano viessem de escola pública. Essa mesma marca havia sido traçada como objetivo no ano passado, quando também não foi alcançada.

    A universidade pretende registrar ao menos 50% dos ingressantes de escola pública até 2018. Para tentar reverter esse quadro, a instituição promete ampliar no próximo ano a quantidade de vagas oferecidas no Sisu (Sistema de Seleção Unificada), que usa a nota do Enem. Cerca de 85% dos estudantes de ensino médio estão nas escolas públicas.

    Neste ano, 13,4% das vagas entraram no sistema. A direção da USP pretende chegar a 20% no próximo ano.

    Em 2016, a inclusão de pretos, pardos e indígenas também caiu: passou de 1.232 alunos em 2015, para 1.089 neste ano. Em percentual sobre o total de alunos de escola pública, o número deste ano representa 29%. Em 2015 foram 32%.

    De acordo com pró-reitor de Graduação da USP, Antônio Carlos Hernandes, os resultados deste ano serviram "como experimento" sobre o uso do Sisu como porta de entrada na USP além do vestibular da Fuvest. "Vamos manter a bonificação no vestibular e ampliar as vagas no Sisu. Se não resolver, teremos que ter uma medida mais radical para atingir a meta de ter 50% dos alunos de escola pública até 2018", disse.

    Das 1.489 vagas oferecidas pela USP no Sisu, 814 (55%) foram preenchidas pelo sistema. Desse total, 1.038 eram exclusivas para a escola pública –e só 567 (55%) dessas foram ocupadas.

    A imposição de notas de corte muito altas no Sisu em vários cursos e a realização de apenas quatro chamadas pelo sistema dificultaram, segundo Hernandes, que as vagas fossem todas preenchidas. "Esses dois descompassos fizeram com que a USP não preenchesse todas as vagas no Sisu", diz ele.

    Após o não preenchimento pelo Sisu, as vagas foram redirecionadas para a lista da Fuvest.

    Sisu

    No ano passado, as unidades decidiram a quantidade de vagas que seriam oferecidas por cada curso no Sisu e se haveria reserva para a escola pública. Cursos tradicionais, como Medicina, Engenharia e Economia, não entraram no sistema.

    A pró-reitoria quer agora que as faculdades ampliem essa quantidade, mas a decisão vai depender de cada unidade de ensino. "As direções terão a responsabilidade de decidir isso, não dá pra gente repetir em 2017 o experimento deste ano", diz Hernandes.

    Não está nos planos da universidade alterar o sistema de bonificação na Fuvest. Alunos de escola pública podem garantir até 15% de incremento na nota. Caso ele seja preto, pardo ou indígena, o bônus pode chegar a 20%.

    Para frei Davi Santos, diretor-executivo da Educafro, organização que luta pela inclusão negra, a USP insiste em "fugir da responsabilidade" da inclusão. "É inaceitável que a universidade brasileira mais famosa no mundo não use critérios científicos para criar uma política de inclusão", diz ele.

    Desde 2012, as universidades federais adotam sistema de cotas para escola pública, respeitando critérios de renda e raça. Entre as estaduais, a Unesp passou a adotar sistema de cota a partir de 2014. Na Unicamp, o sistema de bonificação garantiu que 51,9% dos alunos aprovados em 2016 sejam de escolas públicas.

    Para o pró-reitor da USP, o tamanho e a heterogeneidade da USP dificultam mudanças mais velozes. "Mas em dois anos, avançamos mais do que nos últimos 40 [com o ingresso no Enem e reformulação do bônus]", diz Hernandes.

    O pró-reitor comemorou o fato de 15% dos ingressantes pelo Sisu serem de outros Estados. Na média de outros anos, esse percentual era de 11%.

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