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    Cursinhos ensinam pais a não pressionar vestibulandos de medicina

    DANTE FERRASOLI
    DE SÃO PAULO

    06/06/2016 02h00

    É comum que pais de candidatos ao curso de medicina, ainda mais quando são médicos, façam cobranças e esperem dos filhos desempenho igual ao que tiveram no passado, quando entraram na faculdade.

    Acontece que o processo seletivo atual é muito diferente do vestibular do passado.Para efeito de comparação, quem prestou para medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho") em 1980 enfrentou uma concorrência de 11,11 candidatos por vaga. Quem prestou para este ano, 243,8.

    Bruno Santos - 5.mai.2016/Folhapress
     Estudantes em sala de aula do cursinho Anglo, em São Paulo
    Estudantes em sala de aula do cursinho Anglo, em São Paulo

    É claro que a expectativa da família gera mais ansiedade no jovem, já estressado em ano de vestibular. Por isso, cursinhos promovem palestras exclusivas para pais.

    "Tem muito pai que é médico, só que na época que ele entrou na universidade, o vestibular tinha outra concorrência e modelo. Acha que o filho passa pelas mesmas coisas que passou, o que não é verdade", diz Francisco Pequê, coordenador do cursinho Poliedro, em São Paulo.

    A instituição organizou três palestras no início do ano para pais da turma de medicina, cada uma com mais de 400 presentes. No evento, foram apresentadas as respostas dadas pelos alunos à seguinte questão: "O que vocês gostariam que a coordenação explicasse aos seus pais?".

    USP - Concorrência mais que dobrou de 1980 a 2016

    Os resultados mostram queixas sobre comparações, medo de decepcionar e o peso todo da pressão, em frases como "pare de falar que estou engordando".

    "Na família, não deve haver imposição de carreira ou uma cobrança de resultados imediata, mas de postura -isto é, que o aluno frequente as aulas, faça as tarefas e estude", diz Daniel Perry, coordenador do Anglo, outra instituição que organiza palestras para pais de vestibulandos. Na instituição, a maioria dos familiares que busca ajuda também é de candidatos que pretendem ser médicos.

    Orientadora educacional do Poliedro, Elaine Cristina Asano atende os pais para além da palestra. Eles a procuram com dúvidas e aflições em relação ao desempenho e às chances do filho. "Tem pais que vêm escondidos, não querem que o filho saiba que vieram", diz. Segundo ela, boa parte dos atendidos são médicos que querem ver o filho seguir a mesma carreira.

    UNESP - Relação candidato x vaga saltou de 11,11 em 1980 para 243,8 no vestibular deste ano

    Asano recomenda que o pai dê ao filho o apoio necessário. Diz que pequenas atitudes, como incentivos e elogios, contribuem muito. "Uma menina me falou que o simples fato de a mãe dar carona para ela até o metrô a incentiva", exemplifica.

    As cinco orientadoras educacionais do Anglo fazem atividades semanais de ajuda psicológica a vestibulandos, que incluem análise de desempenho nos simulados e da relação com a família.

    A relação em casa deve complementar o suporte dado nos cursinhos, diz o coordenador do Etapa, Marcelo Dias. "Os pais devem verificar se há muita ansiedade, se o filho está conseguindo estudar, se está dormindo bem, se alimentando direito e se tem algum lazer. Isso tudo contribui com o trabalho que fazemos aqui."

    UNICAMP - Relação candidato/vaga aumentou quase dez vezes desde 1987*

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    O QUE EU GOSTARIA DE DIZER PARA A MINHA FAMÍLIA
    Veja algumas respostas dadas por alunos de curso preparatório

    1) "Gostaria de pedir para que eles valorizassem cada conquista minha e que entendessem a minha necessidade de estudar muito"

    2) "Eu quero fazer faculdade longe deles e, embora agradeça muito por todo o apoio que me deram, chegou a hora de sair de casa"

    3) "Sim, sou maluca e estou perdendo parte da vida no cursinho, mas é uma escolha minha e eu preciso de apoio nisso"

    4) "Quero cursar universidade pública, mesmo que para isso seja necessário pelo menos mais um ano de cursinho"

    5) "É muito difícil manter a tranquilidade. Parem de me cobrar porque eu já me cobro mais que o suficiente"

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