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    Tecnologia usada só como suporte pode deixar aluno ainda mais passivo

    DHIEGO MAIA
    EVERTON LOPES BATISTA
    DE SÃO PAULO

    11/09/2016 02h00

    A presença na escola de novas ferramentas, por si só, não garante educação de qualidade. "A tecnologia precisa estar articulada com outras atividades para o desenvolvimento de diferentes habilidades dos alunos", diz Anna Penido, diretora do Instituto Inspirare, voltado à inovação na área de ensino.

    No colégio Stockler, da zona sul de São Paulo, as salas são equipadas com projetor e lousa digital, e internet.

    Nem por isso há certeza de retorno pedagógico positivo, diz Mariana Stockler, mantenedora da instituição. "A tecnologia só é benéfica quando integra uma estratégica didática. Se o professor a usa só como suporte, corre o risco de tornar o aluno ainda mais passivo em sala", diz.

    É como transferir todo o conteúdo de uma aula que seria feita em uma lousa tradicional para uma apresentação de "powerpoint" projetada em uma tela. "Em que isso enriquece a experiência do aluno?", pergunta Stockler.

    No colégio Prima, na zona sul, os estudantes do ensino fundamental são estimulados a fomentar competências que não dependem apenas de recursos digitais, como a autonomia e a gestão do tempo.

    Aluna do sétimo ano, Maria Fernanda Belmonte, 12, está quebrando a cabeça para colocar sua agenda em ordem e resolver 58 exercícios de matemática até o final do mês. "Vou ter que sacrificar todas as minhas sextas-feiras para dar conta disso", diz.

    A garota é "cria" da metodologia Montessori, que estimula o aluno a desenvolver senso de responsabilidade sobre o seu próprio aprendizado. Em sala de aula, o professor é só um guia que remove obstáculos entre a turma e o entendimento do conteúdo.

    Para a psicopedagoga Edimara de Lima, diretora do Prima, o recurso digital só faz sentido quando tem um viés pedagógico claro. "Não precisa de muito. Jogando 'paciência' no computador o aluno fraco em lógica aprende."

    JETSONS

    Antônio Batista, coordenador de pesquisa do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), não espera mudança brusca na escola pautada pela tecnologia.

    "Não vamos entrar na era dos Jetsons. O que as plataformas digitais trazem são novos textos na forma oral, escrita e imagética", diz.

    Para que esses textos transmitam algo, é preciso um professor preparado. Segundo pesquisa nacional feita pelo Cetic (centro de estudos na área de tecnologia), só 57% dos docentes disseram em 2014 usar internet em sala.

    "O aluno tem um computador no bolso que não é explorado", diz Silvio Fiscarelli, sociólogo que estuda tecnologia no ensino.

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