• Educação

    Sunday, 05-May-2024 21:20:12 -03

    Ampliar ensino integral custa 1% do orçamento dos governos estaduais

    PAULO SALDAÑA
    DE SÃO PAULO

    26/09/2016 02h00 - Atualizado às 15h56

    O governo federal promete repassar dinheiro nos próximo quatro anos às redes estaduais para que essas ampliem as matrículas de tempo integral no ensino médio.

    Mesmo com o apoio, que será temporário, uma expansão efetiva exigirá aumento de gastos dos governos estaduais na área da educação.

    Um estudo do Instituto Natura indica que ampliar a modalidade de ensino integral, para atingir 80% das matrículas em um projeto pedagógico modelo, exigiria um aporte equivalente a 1% do orçamento dos governos estaduais ao longo de 20 anos.

    Reforma do ensino médio

    Isso representaria uma elevação de 4,5% nos recursos destinados à educação.

    O país registra 6% das matrículas no ensino médio em jornada estendida, de ao menos sete horas de aulas por dia. Manter um aluno em tempo integral tem custo superior por aluno que pode chegar até 67%, quando comparado à matrícula em uma unidade de tempo parcial (de quatro horas aulas ao dia).

    A estimativa de custos indica uma viabilidade da expansão, segundo o presidente do Instituto Natura, David Saad. "Considerado os resultados positivos do modelo, se os governadores falarem 'eu que quero fazer', é viável com planejamento a longo prazo."

    A análise do instituto partiu do modelo de tempo integral adotado pelo Estado de Pernambuco, que prevê, entre outras ações, dedicação exclusiva dos professores às unidades –com gratificação extra para os docentes.

    O modelo tem ação pedagógica concentrada no projeto de vida do aluno, disciplinas eletivas, estudo orientado e práticas em laboratório.

    REFORMAS NO ENSINO MÉDIO - Principais mudanças propostas pela medida provisória do governo Temer

    Pernambuco saiu da sexta pior média do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) em 2007 para a primeira posição em 2015. Com metade das escolas em tempo integral, houve bons resultados também em escolas com alunos mais pobres.

    A evasão nessas unidades é de 0,5%. A média das redes estaduais do país é de 8%.

    Para chegar à estimativa de custo aos governos, o estudo projetou uma rede fictícia, a partir de uma média dos dados dos Estados do Nordeste.

    Também prevê ajustes necessários para equacionar custos, como adoção de escolas maiores e limite da gratificação para docentes em 20% (em Pernambuco e São Paulo, por exemplo, esse valor extra para professores se dedicarem apenas a uma escola varia entre 60% a 75% a mais do salário base).

    Pedro Ladeira/Folhapress
    Michel Teme (PMDB) durante cerimônia de assinatura da medida provisória para reestruturação do ensino médio, em Brasília (DF)
    Michel Teme (PMDB) em cerimônia de assinatura da MP para reestruturação do ensino médio

    O cálculo leva em conta uma carga-horária de 9 horas por dia, além de gastos com readequação e reforma de escolas para permitir a expansão do tempo integral e merenda. "Mas ao longo do tempo ainda há ganhos de eficiência do modelo, com a diminuição da reprovação, que evita que o mesmo aluno fique mais um ano na escola", exemplifica Saad, do Natura.

    META

    Ao apresentar a medida provisória de reforma do ensino médio, na semana passada, o governo Michel Temer (PMDB) prometeu pagar às redes, nos próximos quatro anos, um extra de R$ 2.000 por aluno em tempo integral.

    O governo quer incluir 500 mil alunos nesse modelo até 2018, o que mais que dobraria o total de alunos na modalidade. Hoje são 386 mil. A estimativa é investir até R$ 1,5 bilhão nesses dois anos.

    O governo reforça, no projeto do ensino médio, a meta do Plano Nacional de Educação de ter 25% dos alunos em tempo integral até 2024.

    Escolas com alunos mais pobres devem ser priorizadas. Critérios de tamanho de escola e metas de evasão serão levados em conta.

    O secretário de Educação de Pernambuco, Fred Amancio, explica que, para levar o tempo integral a 335 escolas (do total de 760), o governo precisou expandir a participação da Secretaria de Educação no orçamento total do Estado. Foi de 25% para 27%.

    "O custo do programa é fortemente impactado por merenda e pelo gasto com gratificação, para garantir dedicação exclusiva do professor na escola", diz ele.

    A rede de São Paulo, que adota em parte das escolas o modelo inspirado em Pernambuco, deve receber recursos federais para 30 escolas.

    "Há um consenso que escola em tempo integral é a alternativa, mas ela é mais dispendiosa. E em uma crise financeira, não conseguimos ampliar neste ano", diz o secretário de Educação, José Renato Nalini, ressaltando dificuldades maiores em uma rede com 5.300 escolas.

    SP tem 4,5% de alunos do médio em tempo integral. São 68 mil alunos nessa etapa, de 1,5 milhão de estudantes.

    -

    REFORMAS NO ENSINO MÉDIO

    _Principais mudanças propostas pela medida provisória do governo Temer _

    CARGA HORÁRIA

    Como é hoje
    Carga horária mínima é de 800 horas anuais (ensino parcial)

    O que o plano propõe
    Grade será ampliada gradualmente para 1.400 horas anuais (ensino integral)

    Vantagens
    Há evidências de que a carga expandida melhora o desempenho dos alunos

    Entraves
    Modalidade integral requer um bom projeto pedagógico e gastos maiores

    DISCIPLINAS OBRIGATóRIAS

    Como é hoje
    Alunos cursam 13 disciplinas obrigatórias nos três anos

    O que o plano propõe
    Só parte da grade será igual para todos; depois, aluno poderá se aprofundar entre cinco opções: linguagens, matemática, ciências da natureza, humanas e ensino técnico

    Vantagens
    Flexibilizar a grade dá autonomia e atrai os adolescentes

    Entraves
    Oferta de habilitações pode ser desigual entre escolas e redes

    DIVISÃO

    Como é hoje
    Oferta de habilitações pode ser desigual entre escolas e redes

    O que o plano propõe
    Oferta de habilitações pode ser desigual entre escolas e redes

    Vantagens
    Oferta de habilitações pode ser desigual entre escolas e redes

    Entraves
    Oferta de habilitações pode ser desigual entre escolas e redes

    PROFESSORES

    Como é hoje
    Oferta de habilitações pode ser desigual entre escolas e redes

    O que o plano propõe
    Oferta de habilitações pode ser desigual entre escolas e redes

    Vantagens
    Oferta de habilitações pode ser desigual entre escolas e redes

    Entraves
    Oferta de habilitações pode ser desigual entre escolas e redes

    EDUCAÇÃO FÍSICA

    Como é hoje
    Educação física e artes eram obrigatórias no ensino infantil e em todo o básico

    O que o plano propõe
    Educação física e artes eram obrigatórias no ensino infantil e em todo o básico

    Vantagens
    Educação física e artes eram obrigatórias no ensino infantil e em todo o básico

    Entraves
    Educação física e artes eram obrigatórias no ensino infantil e em todo o básico

    INCENTIVO

    Como é hoje
    Governo federal tinha programas menores de incentivo ao ensino integral

    O que o plano propõe
    União dará aporte financeiro por quatro anos a escola que introduzir ensino integral

    Vantagens
    Investimento incentiva instituições a aderirem à modalidade

    Entraves
    Governo diz que valor respeitará disponibilidade orçamentária, mas vive momento de cortes

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024