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    Ocupação de escolas murcha no PR em meio a protestos e ações judiciais

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA

    01/11/2016 02h00

    Em meio a ordens judiciais e ao acirramento de protestos, o número de escolas ocupadas por estudantes no Paraná caiu a menos da metade nos últimos dias.

    Nesta segunda (31), 315 unidades permaneciam ocupadas, segundo a Secretaria da Educação do Paraná. O pico foi atingido dez dias atrás: eram 850 escolas da rede estadual tomadas pelos alunos, de um total de 2.100.

    O movimento Ocupa Paraná admite que o número "caiu drasticamente", mas não tinha números atualizados na noite desta segunda.

    Eles atribuem a queda às dezenas de reintegrações de posse obtidas pelo governo estadual: foram pelo menos 78 ordens concedidas no Estado na última semana. Outros 81 pedidos ainda seriam avaliados pela Justiça, segundo balanço parcial.

    A inflexão também coincide com a morte do adolescente Lucas Mota, 16, assassinado por um colega numa ocupação em Curitiba na última segunda-feira (24).

    O fato motivou reações do governo de Beto Richa (PSDB), que afirmou que o movimento havia "ultrapassado os limites do bom senso" e pediu o fim das ocupações. Para ele, os adolescentes estão sendo manipulados politicamente. Sindicatos e grupos anti-Temer têm manifestado apoio ao movimento dos estudantes.

    Pais, alunos e grupos anticorrupção que dizem "apoiar o desejo da maioria" fizeram protestos em frente às escolas, pedindo a volta às aulas. Em pelo menos duas delas, houve discussão, xingamentos e tentativas de desocupação na semana passada.

    O Ocupa Paraná afirma que a morte do garoto não tem relação com a ocupação, e foi causada por circunstâncias alheias ao movimento, que dizem ser apartidário e horizontal. Para eles, o governo tenta criminalizá-los a partir do episódio.

    Os alunos protestam contra a reforma do ensino médio e a PEC que estabelece um teto para os gastos públicos, propostas pelo governo de Michel Temer (PMDB).

    Eles afirmam que o movimento é legítimo, que estão lutando pelo seu futuro e que só sairão das escolas com a retirada da medida provisória que trata da reforma -algo que o governo Temer não parece disposto a realizar.

    Guilherme Pupo - 28.out.2016/Folhapress
    Estudantes na ocupação do Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba
    Estudantes na ocupação do Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba

    NOVA ESTRATÉGIA

    Mesmo com a queda no número de escolas ocupadas, os alunos dizem que não saem enfraquecidos e que estão mudando de estratégia.

    Nesta segunda, numa reação às ordens judiciais, eles ocuparam o Núcleo Regional da Educação em Curitiba, unidade administrativa do Estado. Encapuzados, vestindo moletons e lenços sobre o rosto, cerca de 40 estudantes entraram no prédio pela manhã gritando "ocupa tudo" e apagando as luzes. Na porta, cartazes pediam "Fora, Temer", "Fora, Richa" e "Aqui não tem arrego".

    "Foi um pouco assustador. Eles são alunos, por que não vêm de uniforme?", disse uma funcionária do local. Um aluno respondeu que queriam proteger suas identidades: "O que assusta mais é a perseguição e a retaliação de pessoas que não têm a mínima civilidade".

    Para lá, estão indo parte dos estudantes que deixam os colégios que passaram por reintegrações de posse, munidos de sacolas com alimentos e travesseiros.

    Na maioria das escolas com ordem judicial, os estudantes têm saído espontaneamente, sem resistência. Uma comissão de advogados da OAB e conselheiros tutelares estão acompanhando o cumprimento das medidas, além de policiais militares. O objetivo é proteger a integridade física dos adolescentes e evitar o uso da força.

    Em algumas unidades, no entanto, os alunos dizem que irão resistir. "Se a gente não incomodar, nada vai mudar", afirmou uma secundarista do colégio Paulo Leminski, em Curitiba.

    O governador Beto Richa reagiu à nova estratégia. "Estamos conversando democraticamente, mas baderna, não vamos permitir. Não é assim que se consegue qualquer tipo de mudança", declarou.

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