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    Na USP, calouro da periferia é de 'outro mundo'

    LUISA LEITE
    DANTE FERRASOLI
    DE SÃO PAULO

    27/11/2016 02h00

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 24-11-2016: Retrato do aluno Adiban Henrique da Silva, 19, que estuda na USP, para o caderno especial sobre a USP. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, FSP-TREINAMENTO) ***EXCLUSIVO***
    Abidan da Silva, 19, aluno da Escola Politécnica

    A mãe de Jefferson Barreto dos Santos levava os cães da patroa para passear na Cidade Universitária. Empregada doméstica, ela nem sonhava que o filho estudaria ali.

    Morador da periferia sul de São Paulo, Jefferson é o primeiro da família a se matricular numa universidade. Está na USP, no campus da zona leste, onde fica a Escola de Artes, Ciências e Humanidades. "Só descobri que havia universidade pública na sétima série", conta o aluno de ciências da natureza.

    Seu colega de curso Vitor de Amorim Rodrigues, 19, descobriu a USP ainda mais tarde, no terceiro ano do ensino médio. "Fiquei sabendo que existia a USP e as federais apenas quando fui fazer o Enem", conta.

    Filho de uma diarista e vivendo em Guaianases (periferia leste de SP), diz que não havia incentivo nem na escola nem em casa para que fosse à universidade. "Minha mãe não sabia que havia faculdade de graça."

    Reinaldo Canato / Folhapress
    FSP SAO PAULO SP BRASIL 24.11.2016 - Caderno Especial USP-Fotos produzidas na USP LESTE Rua Arlindo Bettio, 1000 - Jardim Keralux, Sao Paulo. Alunos da classe C Na foto Vitor de Amorim Rodrigues 19 Ciencias da Natureza e Licenciatura Foto Reinaldo Canato / Folhapress
    Vitor de Amorim Rodrigues, 19, cursa ciências da natureza

    Vitor acha a USP completamente diferente das escolas que frequentou, todas públicas. "É outro mundo, muito diferente do mundo de onde eu vim. Tem salas de aula limpas e bons professores."

    Egresso da rede pública, Abidan da Silva, 19, segundo ano de engenharia civil na Escola Politécnica da USP, também nem pensava em faculdade. "Eu não sabia o que era Enem, o que era Fuvest. Achava que universidade não era para mim. Quando a gente é pobre, não tem referência. As minhas eram o Neymar, o Ganso. Queria jogar futebol."

    A mudança veio com a indicação de uma professora que o chamou para o processo seletivo de um instituto privado que dá bolsas em escolas particulares. "Não percebia o quanto o ensino público era ruim até mudar. Foi difícil no início, porque eu não tinha base." Abidan acha que nunca teria passado na USP se tivesse ficado na rede pública. Na Fuvest 2016, para ser aprovado na primeira fase para a Poli, era necessário acertar 60 de 90 questões.

    Para se preparar para a redação, o aluno lia editoriais e artigos de opinião na Folha e no "Estado de S. Paulo".

    Colega de Abidan na Poli, Thays Pires, 20, suou muito até obter uma vaga na USP. Formada em uma escola técnica estadual, conseguiu bolsa parcial em um cursinho, mas percebeu que o que havia aprendido na rede pública era insuficiente.

    Prestou duas vezes e foi aprovada com a bonificação na nota. "Algumas vezes eu achava que jamais seria aprovada."

    Thays sente a diferença social. "Todos vêm de carro e costumam falar sobre as viagens que fizeram à Europa. Eu passo uma hora e meia no transporte público para chegar até aqui."

    Editoria de arte/Folhapress
    PORTAS DE ENTRADA NA USP
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