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Educação
Saturday, 21-Dec-2024 22:43:07 -03Governo paga youtubers para fazer elogios às mudanças do ensino médio
NATÁLIA PORTINARI
PAULO SALDAÑA
DE SÃO PAULO17/02/2017 02h00 - Atualizado às 18h27
Um vídeo no YouTube que explica "tudo que você precisa saber sobre o ensino médio" já tem mais de 1,6 milhão de visualizações. Com conclusões positivas sobre a reforma, o material tem a aparência de espontaneidade, mas trata-se de publicidade disfarçada do MEC (Ministério da Educação).
O governo Michel Temer pagou R$ 65 mil para o canal Você Sabia falar bem da reforma. Comandado por dois jovens, o canal no YouTube conta com 7,1 milhões de assinantes.
No vídeo, publicado em 31 outubro de 2016, os youtubers Lukas Marques e Daniel Molo explicam benefícios da reforma. "Com esse vídeo você aí deve estar dando pulo de alegria. Se eu tivesse que fazer o ensino médio e soubesse dessa mudança eu ficaria muito feliz", diz um deles.
Nada no vídeo diz que se trata de conteúdo pago. Pelo contrário. "A gente achou o tema bastante interessante, uma galera [estava] discutindo nas redes sociais, e então falamos: deixa com nós que a gente explica direitinho", reforça um deles no final.
REFORMA DO ENSINO MÉDIO - Texto sancionado altera Lei de Diretrizes e Bases da Educação
A reforma no ensino médio foi sancionada nesta quinta-feira (16) pelo presidente Michel Temer. O governo acelerou a tramitação no Congresso Nacional por meio de uma medida provisória.
Os youtubers ressaltam aspectos do projeto, como a possibilidade de escolher as áreas de aprofundamento. "Você ai que quer trabalhar com história, não vai ficar perdendo tempo com célula".
Daniel Miolo afirmou que frequentemente trabalham com conteúdo patrocinado. Quando julgam que o resultado será "interessante".
"A gente já ia fazer um vídeo sobre o novo ensino médio. Como recebemos a proposta, decidimos aceitar", diz Molo, que não comentou valores. "Recebemos uma coxinha e um refrigerante em troca", brincou.
O canal do youtuber Pyong Lee também produziu um vídeo sobre o novo ensino médio, com 86 mil acessos (veja acima). Os dois canais estão associados à produtora Digital Stars, que encomendou os vídeos. A empresa representa alguns dos youtubers mais bem-sucedidos do Brasil, como Kéfera Buchmann, Christian Figueiredo, Felipe Castanhari e Flavia Calina.
"Uma das condições incluídas pela Digital Stars foi dar os influenciadores total liberdade sobre o teor de suas opiniões sobre a reforma do ensino médio, sem a necessidade de seguir qualquer roteiro ou diretriz política", afirmou à Folha o CEO da Digital Stars, Luiz Felipe Barros.
Em seu vídeo, Pyong Lee afirma: "Sinceramente, acho que [com a reforma] a gente tem um caminho, uma luz. O fato de haver uma preocupação em relação à educação, o que há muito tempo a gente não vê, é positivo e inovador, independente do que deve ser reformado."
Nesta sexta-feira (17) à tarde, o MEC informou, após novo questionamento da Folha, que outros quatro canais do YouTube foram contratados pelo governo ao custo total de R$ 295 mil.
Além do Você Sabia e do LeePyong Lee, os canais Malena (de Malena Nunes), T3ddy, Rafael Moreira e Rato Borrachudo foram pagos pelo MEC.
A Folha apurou que outros dois canais foram procurados, mas ambos recusaram as propostas.
Segundo o MEC, canais de influenciadores digitais complementam a estratégia de comunicação institucional. A pasta informou que o pagamento foi realizado dentro da legalidade, por meio da agência já escolhida por licitação para atender o MEC. "As mídias digitais são uma realidade e a campanha institucional do MEC nestes canais é adequada, legal, barata e eficiente para atingir o público-alvo do Ensino Médio", diz nota da pasta.
Para rebater críticas à reforma do ensino médio, o MEC reforçou o gasto com publicidade. De outubro a janeiro, gastou R$ 13 milhões, valor 51% superior ao gasto no período anterior.
Ao menos até esta quinta-feira (16), propagandas oficiais na TV, rádio e internet divulgavam a reforma do ensino médio.
Reprodução/Youtube Youtubers Lukas Marques e Daniel Molo em vídeo que fala do reforma do ensino médio Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br
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