• Educação

    Sunday, 28-Apr-2024 06:56:53 -03

    educação a distância

    Concorrência no ensino a distância obriga educador a virar 'showman'

    ANA LUIZA TIEGHI
    DE SÃO PAULO

    27/07/2017 02h00

    Eduardo Knapp/Folhapress
    Carlos Possani, 61, é professor aposentado da USP e agora ensina a distância pela Univesp
    Claudio Possani, 61, é professor aposentado da USP e agora ensina a distância pela Univesp

    Entre professores e tutores, 48 mil pessoas trabalham com o ensino a distância no Brasil, número que cresceu 67% de 2014 para 2015, segundo dados do setor. A escalada acompanha o aumento na quantidade de alunos e cursos da modalidade.

    A concorrência para trabalhar na área também subiu. Um edital para contratação de tutores realizado no ano passado pela Universidade Cruzeiro do Sul recebeu mais de 3.000 candidaturas para apenas 25 vagas.

    Muitos concorrentes chegam com cursos na área, mestrado e até doutorado. "Como o mercado evoluiu, pedimos experiência", diz Carlos Fernando de Araújo Júnior, pró-reitor de educação a distância da Cruzeiro do Sul.

    A maioria dos profissionais que trabalham com ensino a distância é tutor (61% do total). É ele que faz o acompanhamentos das atividades, virtualmente ou nos polos. O professor fica a cargo de planejamento, escrita e gravação do material das aulas.

    "Já temos dois tutores com doutorado", diz Carlos Eduardo Garcia, coordenador de EaD do curso de ciências biológicas da Universidade Cruzeiro do Sul.

    Mais ainda é cobrado dos professores. Profissionais com especialização na área contam pontos na avaliação do MEC, explica Alcir Vilela Junior, gestor de ensino superior EaD no Senac. Para preencher essa lacuna, as instituições capacitam aqueles que mais se encaixam no perfil da modalidade.

    Aposentado depois de 40 anos como docente da USP, o matemático e professor da Univesp Claudio Possani, 61, diz que a maioria dos seus colegas de geração "não entraram nessa proposta de novas tecnologias".

    Para ele, a migração foi natural. Começou gravando suas aulas na USP e disponibilizando-as em vídeo pela Univesp, há mais de três anos. Deu tão certo que, em sua última turma presencial, os alunos lhe pediram que parasse de fazer chamada, porque preferiam assistir ao conteúdo pela internet.

    "No dia em que isso aconteceu, me convenci de que em um futuro próximo teria que mudar a forma de trabalhar." Hoje, só leciona a distância.

    A resistência de profissionais mais velhos atrapalha as contratações na área. "As instituições precisam de professores que saibam lidar com tecnologia. Quem não tem Facebook e odeia WhatsApp não deve ir para a educação a distância", diz Janes Fidélis Tomelin, conselheiro da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância).

    Os professores que decidem investir na modalidade não precisam deixar as aulas presenciais de lado. Como a maior parte do trabalho na EaD acontece com antecedência, há tempo para se dedicar a outras atividades.

    O advogado Everton Zadikian, 38, trabalha na secretaria municipal do meio ambiente de São Paulo, mas também é professor de três cursos preparatórios para a prova da OAB, dois a distância.

    "O conteúdo que eu daria em dez horas presenciais consigo passar em sete horas gravadas, por não haver interrupções", diz. A hora/aula também é mais valiosa: Zadikian recebe 50% a mais.

    ESPECIALIZAÇÃO

    Há muitos cursos para se especializar na área. Só o Senac oferece cinco pós-graduações em EaD, como "Elaboração de Materiais Didáticos com Recursos Tecnológicos".

    Formações que vão além da pedagogia, como teatro e locução, ajudam quem quer seguir na área a ficar a vontade diante das câmeras. Zadikian fez um curso livre de "Apresentação de Programas de Variedades". "Me ajudou a perceber vícios corporais e de linguagem."

    *

    R$ 31 a R$ 45
    é o valor pago por hora para 68% dos tutores e 52% dos professores de EaD
    Fonte: Abed

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024