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    Salário inicial de R$ 5.000 é pouco para professor universitário, diz ministro

    GUSTAVO URIBE
    LAÍS ALEGRETTI
    DE BRASÍLIA

    23/08/2017 02h00

    O ministro da Educação, Mendonça Filho, diz achar pouco e avisa que é contra o salário inicial de R$ 5.000 para professor universitário. O patamar foi anunciado na semana passada pela equipe econômica como remuneração de entrada de novos servidores federais.

    Segundo ele, a medida não deve atingir todas as carreiras do Executivo, como professor. Nos bastidores, contudo, há resistência na equipe econômica para criar exceções. O Ministério do Planejamento não confirmou se os docentes serão poupados.

    Em entrevista à Folha, o ministro defende que a política de inclusão no ensino superior leve em conta aspectos de renda, não só raciais. Diz, ainda, ser contra "um tribunal de ideias para julgar professores", em resposta ao movimento Escola Sem Partido.

    "Muitos dos meus professores eram marxistas. Isso contribuiu ainda mais para a minha formação", disse o ministro, que foi líder do DEM.

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    Pedro Ladeira/Folhapress
    Ministro da Educação, Mendonça Filho, em seu gabinete
    Ministro da Educação, Mendonça Filho, em seu gabinete

    MENDONÇA FILHO, 51
    ministro da Educação

    FORMAÇÃO
    Administração

    OUTROS CARGOS
    > Dois mandatos como deputado estadual em Pernambuco (1987-1995)

    > Secretário estadual de Agricultura (1990-1994)

    > Governador de Pernambuco (2006-2007)

    > Deputado federal licenciado, tem três mandatos

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    Folha - O governo anunciou salário inicial de R$ 5.000 para servidores do Executivo, o que envolve professores universitários. O senhor é favor?
    Mendonça Filho - Não está impactando diretamente a carreira de professor. É uma discussão que deve levar em conta –e acho que o professor está fora desse debate– que as carreiras do serviço público devem estabelecer lógica de médio e longo prazo. Não se pode falar em carreira quando tem começo e fim em 10 anos. Isso não é carreira, é um pulo. É lógico que professor universitário não pode ter patamar de início de carreira a partir de R$ 5.000. Não concordo com isso.

    É baixo?
    Para um professor universitário, com certeza.

    A medida, que seria para todo o Executivo, não afeta professores?
    Não afeta. Separa bem a carreira de professores universitários. O nexo e a lógica daquilo que foi aplicado não creio que atinja as carreiras todas do Executivo brasileiro.

    O governo, com o veto na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), abandonou o PNE (Plano Nacional de Educação)?
    Falei com o presidente Michel Temer, manifestando minha discordância com a posição da Fazenda e do Planejamento [em relação ao veto], e o presidente disse que pediu uma reavaliação para orientar a própria base a derrubar o veto. O PNE é uma lei e temos que buscar como objetivo o seu cumprimento.

    E as críticas de que ele foi deixado de lado?
    Para muitos dos críticos, falta autoridade moral de cobrar da atual gestão, que tem pouco mais de um ano, qualquer cumprimento em termos do PNE. Todas as metas fixadas foram descumpridas pelas gestões do PT. Aliás, num quadro de expansão orçamentária, como nunca antes na história deste país.

    As universidades federais estão ameaçando parar por falta de recurso.
    As manifestações são localizadas. Em algumas situações, se mistura com posicionamento político, como a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e dificuldades de gestão, como a UnB (Universidade de Brasília). Desafio qualquer especialista a comparar os 12 últimos meses da presidente Dilma Rousseff com a nossa gestão. É evidente que tem um quadro de escassez de recursos. E eu sou ministro da Educação, e não da Educação superior.

    Especialistas defendem cobrança do estudo em universidade pública, com pagamento após a entrada no mercado de trabalho. É uma boa ideia?
    É uma discussão que ocorrerá, mas não agora. O mundo todo discute o tema.

    O senhor é a favor?
    Neste momento, minha opinião pessoal não seria uma importante contribuição. Esse é um debate que ocorrerá a partir de 2019. Tem alguns assuntos no Congresso que contam com nosso apoio, como fundos patrimoniais, que podem ser elementos de financiamento das universidades. O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) advoga a cobrança de estacionamento nas universidades públicas. Um estudante que tem automóvel poderia contribuir. Isso pode ajudar na manutenção das instituições. Acho que, a um ano do processo eleitoral, não há espaço para debater uma reforma universitária.

    Com endurecimento do Fies e menos recursos, como atingir a meta de uma taxa bruta de 50% de matrícula das pessoas de 18 a 24 anos no ensino superior até 2024?
    Nossa prioridade com o novo Fies é atender a estudantes mais pobres. Ele vai facilitar o alcance das metas. Acabamos com a farra do Fies.

    Como garantir que os bancos privados não cobrem juros abusivos em modalidade do Fies sem taxa definida?
    O que o governo fará é ofertar funding público [financiamento público] para os bancos privados, sendo que o risco será dos bancos, para que possam, na ponta, disponibilizar crédito a juros mais baixos. O limite se dará a partir da boa competição. É isso que vai determinar menor custo final aos estudantes.

    O DEM é criticado por ser contra as cotas raciais. O senhor tem a mesma posição?
    Sou a favor da política de inclusão. Acho que muitas vezes a ênfase se dá na lógica da cota racial, que precisa cada vez mais agregar o componente social. Um jovem pobre precisa ter, dentro de uma educação no país, independente da cor da pele, uma prioridade do Estado brasileiro.

    O senhor defende a substituição da cota racial pela social?
    Defendo que a gente leve em consideração não só os aspectos raciais, mas também os sociais.

    Não foi um sinal ruim a retirada do termo "igualdade de gênero" da base curricular?
    Não, acho que a base é plural e respeita a todos. Ela tem toda a estrutura em uma visão de respeito à diversidade.

    No momento em que há uma discussão na sociedade de respeito à igualdade, retirar o termo não prejudica o debate?
    Se você ler o texto, vê que tem todo seu eixo dirigido ao respeito à diversidade. Muitas vezes uma polêmica gerada a partir de uma interpretação isolada e de uma leitura de pessoas que sequer analisaram o conteúdo torna uma versão pública interpretada a partir de um viés equivocado.

    O senhor é a favor do movimento Escola Sem Partido [que tenta barrar o ensino com suposto viés de esquerda]?
    Defendo a liberdade de opinião, mas sou contra a tese de que vai resolver a questão de discussões mais ideológicas dentro da sala de aula através de uma lei. Não concebo a criação de um tribunal de ideias para julgar professores, se estão sendo mais ou menos ideológicos. O que precisamos é que cada vez mais os professores sejam melhor preparados e aptos a apresentar um leque de conhecimento para o juízo do aluno.

    Acha que há "doutrinação" nas escolas, como alegam?
    Não quero qualificar. Estudei numa escola extremamente esquerdista, uma das mais do país. E, para mim, isso não mudou. Até me ajudou.

    E o senhor virou líder do DEM.
    Muitos dos meus professores eram marxistas. Isso contribuiu ainda mais para a minha formação. A amplitude do conhecimento tem de estar disponível para o aluno fazer suas próprias escolha.

    É possível aprovar a reforma da Previdência neste ano?
    É um desafio e tanto. Um desafio político enorme. Seria muito bom para o Brasil que a gente pudesse aprovar uma reforma da Previdência, mesmo que seja parcial, mesmo que não seja a completa.

    Nós o questionamos sobre temas delicados e essa foi a primeira pergunta em que o senhor fez uma longa respiração antes de responder.
    (Risos). Sabe por quê? Porque tenho a dimensão, como parlamentar, do desafio de articulação política e de convencer a sociedade. Sei que é um tema delicado do ponto de vista político e que tem grande antipatia popular, mas temos de combater os privilégios.

    Já foi definido qual será o novo nome do DEM?
    Não, é uma discussão que está na pauta e alguns defendem até a manutenção do nome do partido.

    Qual nome o senhor prefere?
    Eu gosto do nome Mude, porque é sintonizado com o desejo de evolução e mudança permanente de qualquer sociedade. Mas a minha vontade será tão importante quanto as dos demais filiados.

    O partido lançará candidato à Presidência em 2018?
    É a nossa vontade e a nossa disposição. Estamos à procura de um candidato.

    Se o governador Geraldo Alckmin se lançar candidato pelo PSDB, João Dória poderá disputar pelo novo DEM?
    Tem de perguntar ao prefeito se ele tem disposição de sair do PSDB. A gente respeita o governador, de quem sou amigo pessoal, e o prefeito tem a sua missão como prefeito. O seu caminho político não serei eu quem dirá qual será.

    Qual é o timing para o DEM deixar o governo?
    O DEM não estabelece timing, o DEM assumiu responsabilidade desde o momento do impeachment e adotou posição política e jurídica antes de qualquer partido.

    O DEM ficará até 31 de dezembro de 2018?
    Não estabeleço prazo. O DEM ficará e atuará a serviço do país.

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