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    escolha a escola

    Reforma incentiva ensino integral, mas sucesso depende do currículo

    DANTE FERRASOLI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    10/09/2017 02h00

    Quando Matheus Silva, 17, chegou ao ensino médio, em 2015, sua mãe pesquisou escolas da rede pública estadual paulista e escolheu para o filho o colégio Ministro Costa Manso, no Itaim Bibi, mesmo não sendo esse o mais próximo de onde a família mora, na Vila Sofia.

    A escolha foi tomada muito pelo fato de o colégio oferecer o ciclo em sistema integral.

    Quem conta é o próprio Matheus, hoje no terceiro ano. "Meu rendimento melhorou muito, tenho mais tempo dentro da escola para estudar, fazer trabalhos, ir à biblioteca", diz. A carga horária é das 7h às 16h, com três refeições na escola.

    Além das matérias tradicionais, há também matérias eletivas, tutoria (um professor acompanha todo o ciclo do estudante) e elaboração de um projeto de vida, espécie de plano para o futuro.

    Matheus, que pretende prestar direito ou economia, faz uma aula para aprender a escrever gêneros textuais, como crônica ou poesia.

    "O número de projetos além das aulas normais me agrada. É bom para conhecer coisas diferentes", afirma.

    Casos como o dele não são raros no colégio. "Só 5% dos alunos moram na região, a maioria vem de longe. Há os que vêm de outros municípios para estudar aqui", diz Marcelo Léo, coordenador.

    Desde quando virou integral, em 2014, a Ministro Costa Manso evoluiu no Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo), que considera as notas do Saresp (Sistema de Avaliação e Rendimento Escolar do Estado) em língua portuguesa e matemática e as taxas de aprovação, reprovação e abandono.

    Em 2013, tinha nota 1,9; em 2016, ficou com 4,18: aumento de 120%. O índice vai de 0 a 10.

    Para Léo, uma mudança importante foi que os docentes se tornaram exclusivos da escola. "Quando o professor faz a adesão ao programa, é dedicação exclusiva. Ele permanece aqui as 40 horas semanais, está mais junto do aluno", diz o coordenador.

    O modelo de ensino integral será incentivado com a reforma do ensino médio. A União se compromete a dar aporte financeiro às escolas que o adotarem.

    Com isso, o governo espera ter um quarto dos alunos no integral até 2024. O número hoje é de 6%.

    "Temos bastante evidência de que a ampliação do número de horas está associada a um melhor desempenho escolar. Entretanto, há estudos que mostram que depende muito da forma como o currículo é desenhado, de como os professores oferecem a instrução. Aumentar somente o tempo não garante melhoria de desempenho", diz Patrícia Mota Guedes, gerente de pesquisa e desenvolvimento na Fundação Itaú.

    Simone André, gerente-executiva de educação do Instituto Ayrton Senna, concorda. "Mais tempo para ensinar a mesma coisa do mesmo jeito não se reverte em mais aprendizado."

    Ela chama ainda a atenção para a necessidade de melhorar o nível das escolas regulares antes de uma implementação disseminada do integral.

    "Por mais que nosso horizonte seja chegar no tempo integral, não vamos fazer isso a curto prazo. Precisamos melhorar o ensino do tempo parcial, para não correr o risco de ampliar algo ruim", diz.

    A Ministro Costa Manso se tornou integral por meio de um programa do sistema estadual paulista, iniciado em 2012. Hoje, há 309 escolas no Estado com esse sistema.

    Nesses cinco anos, as escolas avançaram 73,4% no Idesp, passando de 2,14 para 3,71. Em 2016, o ensino médio regular ficou com nota 2,3.

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    309
    é o total de escolas com o sistema de ensino integral na rede estadual paulista

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