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    Crítica

    Livro traz bastidor de reportagem sobre vazamento no Enem

    NAIEF HADDAD
    DE SÃO PAULO

    14/10/2017 02h00

    Lucas Pontes/UOL
    Alunos fazem a prova do Enem na PUC-PR
    Alunos fazem a prova do Enem na PUC-PR

    Um grande furo de reportagem pode ser gestado por dias, semanas, meses. Seja qual for o tempo, há sempre um momento decisivo, uma ocasião em que qualquer deslize do jornalista pode colocar todo o trabalho de apuração a perder.

    A jornalista Renata Cafardo, especializada em educação, abre seu livro recém-lançado, "O Roubo do Enem", justamente com esse instante fundamental.

    Em um café em São Paulo, ela, o também repórter Sergio Pompeu e o fotógrafo Evelson de Freitas, todos do jornal "O Estado de S. Paulo", se reuniram com os homens que tinham em mãos a prova do Enem, três dias antes de sua realização.

    No encontro marcado pela tensão, os criminosos ofereceram a prova a eles em troca de R$ 500 mil. Os jornalistas jamais cogitaram pagar pela informação, mas ganharam tempo numa suposta negociação para que Renata memorizasse algumas questões.

    Depois de deixar o café, ela conseguiu confirmar a veracidade da prova com o Ministério da Educação, o que resultou na manchete do jornal do dia seguinte, 1º de outubro de 2009: "Prova vaza e MEC decide cancelar o Enem".

    Um dos grandes furos daquele ano, agora detalhado em livro, trazia uma informação com impacto para afetar a vida de mais de 4 milhões de jovens.

    Além de registrar o envolvimento de cinco homens na ação de roubar o Enem e tentar vendê-lo, Renata mostra como o consórcio Connasel, escolhido pelo MEC para organizar a prova, estava despreparado para a encomenda. A diretora do consórcio não quis falar com a repórter durante a apuração para o livro.

    FALHAS

    A jornalista também aponta falhas de alguns integrantes do ministério, embora seja clara em relação à integridade da cúpula da pasta, comandada à época pelo petista Fernando Haddad (sem parentesco com o autor deste texto).

    O relato de Renata não atribui responsabilidade direta à gráfica Plural, parceria do Grupo Folha com a Quad Graphics, contratada pelo Connasel para imprimir as provas. Mas expõe dúvidas sobre ações pontuais da empresa nesse episódio.

    Segundo a Plural, o vazamento ocorreu na fase de manuseio da prova, etapa que já não era de sua responsabilidade, mas do consórcio.

    O Roubo do Enem
    Renata Cafardo
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    Embora conciso, o livro vai além da descrição do crime. Renata aponta a importância das gestões do PSDB e do PT para a criação e o fortalecimento do Enem. Por outro lado, lembra como erros de organização, ocorridos depois do roubo de 2009, retardaram a consolidação da prova no que diz respeito à sua confiabilidade.

    "O Roubo do Enem" também agrega análises pertinentes sobre procedimentos do trabalho jornalístico, como a relação do repórter com a fonte e o uso das declarações de entrevistas em "off". Aliás, o prefácio do jornalista e professor Eugênio Bucci enriquece a discussão sobre os compromissos da profissão.

    *

    O ROUBO DO ENEM - A HISTÓRIA POR TRÁS DO VAZAMENTO DA PRINCIPAL PROVA DO PAÍS (muito bom)
    AUTORA: Renata Cafardo
    EDITORA: Record (210 págs.)
    PREÇO: R$ 40

    Edição impressa

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