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    Surdo recebe ajuda, mas enfrenta problemas no 1º Enem adaptado

    LUIZA FRANCO
    DO RIO

    13/11/2017 02h00

    Raquel Cunha/Folhapress
    O estudante Miguel Oliveira de Carvalho, 20
    O estudante Miguel Oliveira de Carvalho, 20

    Miguel Carvalho, 20, dormiu até o último minuto possível na manhã deste domingo (12). Queria estar descansado para encarar as horas de prova do Enem. Pelo menos desta vez o exame seria na sua língua, Libras (Língua Brasileira de Sinais).

    Ao chegar na escola, na Freguesia, zona oeste do Rio, uma intérprete esperava por ele na porta. Foi um grande progresso em relação ao domingo passado, quando teve que achar sua sala sozinho, e maior ainda em relação a anos anteriores, quando não havia qualquer tipo de apoio.

    No meio do exame, no entanto, surgiu um percalço. Assim como outros 1.634 candidatos, ele havia optado pela videoprova traduzida em Libras, oferecida pelo Inep pela primeira vez. Tanto o seu computador quanto o de colegas tiveram problemas técnicos, que os obrigaram a interromper o teste.

    O problema foi relatado à Folha por outros surdos. Aconteceu com Isabelle Maia, 27, por exemplo. Seu vídeo congelou, e ela teve que mudar de máquina. "Por sorte, um surdo havia faltado, então fiquei no computador dele. Isso me afetou, fiquei preocupada, te desconcentra."

    Miguel conta que houve certo pânico na sala, mas ele ficou calmo. Esperou o problema ser resolvido e continuou a resolver a prova. O pior, na visão dele, já havia passado: a redação, que foi feita no último domingo e teve como tema justamente os desafios para a educação de surdos.

    Surdez

    A escrita pode ser um problema para surdos não oralizados porque a sua língua materna não é o português, e sim a Libras. Outras pessoas ouvidas pela reportagem também relataram a mesma dificuldade. Elas dizem que, para competir com ouvintes, precisam ter a possibilidade de fazer a redação em seu idioma.

    Esse não é o primeiro obstáculo que Miguel enfrenta no sistema educacional. Ele foi aluno do Ines (Instituto Nacional de Educação de Surdos) e hoje cursa recursos humanos em faculdade particular.

    Junto com os pais, teve que brigar para que a instituição oferecesse bons intérpretes nas aulas. Sua mãe, Susana Carvalho, diz que há casos de surdos formados no Ines que abandonaram boas faculdades pela falta desses profissionais.

    Miguel está participando de entrevistas para uma vaga em uma empresa farmacêutica, mas o que quer mesmo é estudar psicologia e trabalhar com teatro. Recentemente, foi contratado por uma produtora de filmes para treinar um ator que faria o papel de surdo. Ao final da prova deste domingo, enquanto comia com a família, perguntou: "Por que eu não posso estar no lugar dele?"

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