• Empreendedor Social

    Tuesday, 23-Apr-2024 10:49:19 -03

    Projetos investem em tornar a indústria têxtil mais sustentável

    ELIANE TRINDADE
    ENVIADA ESPECIAL A COPENHAGUE

    27/05/2016 02h00

    A americana Stacy Flynn, 42, almeja fazer da sua start-up de moda, a Evrnu, o primeiro negócio social do mundo a se transformar numa corporação de US$ 1 bilhão.

    Um dos passos para concretizar seu sonho até 2020 foi dado na semana passada, em Copenhague, capital da Dinamarca, onde a CEO de uma empresa que tem como slogan "o futuro do vestuário" ganhou o desafio "Fabric for Change" –no Brasil Tecendo a Mudança.

    Flynn se destacou entre os dez finalistas do concurso mundial realizado pela C&A Foundation, representada no Brasil pelo Instituto C&A, e pela rede de empreendedorismo social Ashoka, em busca de inovações para uma indústria têxtil mais sustentável.

    "Criei uma empresa de reciclagem e tecnologia que recicla algodão a partir de um processo de quebra de moléculas do fio original, gerando uma nova fibra genérica com a resistência do algodão e a delicadeza da seda", explica a empreendedora, baseada em Seattle.

    É uma inovação tecnológica que usa tecido descartado para tentar responder a um dos maiores desafios de um dos setores industriais que mais agridem o ambiente.

    Somente nos Estados Unidos, no ano passado, foram descartadas 14,3 milhões de toneladas de tecido e apenas 2 milhões delas foram recicladas, segundo Flynn. Um tecido pode levar de 100 a 400 anos para se decompor, além de resultar de um processo produtivo que abusa do uso da água e de poluentes.

    "Nós estamos preocupados em reduzir o impacto ambiental em até 99%, como é o caso da redução do uso de água no processo de produção desta nova fibra, quando comparado ao do algodão", diz.

    A redução na emissão de CO² chegaria a 90% com a nova tecnologia, em comparação à produção de poliéster, grupo de resinas derivadas do petróleo.

    Graduada em desenvolvimento têxtil e marketing pelo New York Fashion Institute e com passagem por grandes companhias, como a DuPont, Flynn recebeu um prêmio de € 40 mil (R$ 160,5 mil)em um jantar de gala do Copenhagen Fashion Summit, no último dia 12 de maio.

    BRASIL NA FINAL

    Duas iniciativas brasileiras figuraram entre as dez finalistas mundiais. Lu Bueno, criadora do Banco de Tecidos, chegou lá com um negócio que reúsa o material têxtil, evitando que restos de tecido vão parar no lixo.

    "Participar do desafio acrescentou muito para uma empresa que tem pouco mais de um ano, a começar pela visibilidade de estar entre as dez iniciativas mais inovadoras do mundo", diz Bueno.

    O banco de troca de tecido usado surgiu diante do impasse do que fazer com os 800 quilos de retalhos que ela acumulara ao longo de décadas de trabalho como cenógrafa de diretores como Gerald Thomas e Antunes Filho.

    A troca informal de retalhos entre amigos virou um banco, com uma rede de "correntistas" que levam suas sobras e fazem escambo entre si ou depositam e retiram seus créditos de tecido quando precisarem. Cada quilo de tecido pode ser também vendido por R$ 35.

    Outro projeto brasileiro "made in Brazil" a chegar à final foi o Alinha, plataforma on-line que promove capacitação para melhoria das condições de trabalho e de gestão das oficinas de costura em São Paulo, foco de trabalho escravo na cadeia da moda em todo o mundo.

    "Ficamos muito orgulhosos da participação do Brasil nesse desafio global. A qualidade dos projetos apresentados superou as expectativas", avalia a diretora-executiva do Instituto C&A, Giuliana Ortega. "Aqueles que chegaram à final têm potencial transformador para a indústria têxtil, contribuindo para que o setor se torne mais sustentável em todo o mundo."

    RETALHOS

    Para Isabela Carvalho, coordenadora de avaliação do programa Ashoka Changemakers, a ideia do Tecendo a Mudança "era desenvolver uma jornada de inovação". "A primeira etapa foi entender os desafios da indústria têxtil para identificar oportunidades na perspectiva do empreendedorismo social." Foram mais de 300 inscrições oriundas de 50 países.

    Um brasileiro foi ainda vencedor na categoria Prêmio Jovem Empreendedor do desafio global. Jonas Lessa, 24, foi laureado como idealizador da iniciativa Retalhar, focada no descarte ecologicamente correto e na reutilização de resíduos têxteis pelas confecções.

    Ele e os dez finalistas da categoria principal participaram do Copenhagen Fashion Summit e também de um workshop com especialistas para afinar seus modelos de negócios. "Foi uma oportunidade para expandir a visão sobre o nosso potencial e ter base do que está acontecendo no mundo", diz Lessa. "Agora, temos que consolidar o negócio em São Paulo e expandir pelo Brasil."

    A editora do Empreendedor Social Eliane Trindade viajou a convite do Instituto C&A

    Divulgação
    Produtos do Banco de Tecidos, organização fundada por Luciana Bueno
    Produtos do Banco de Tecidos, organização fundada por Luciana Bueno

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024