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    Momento e atitude do consumidor são decisivos para realizar microdoações

    PATRICIA PAMPLONA
    DE SÃO PAULO

    24/01/2017 02h00

    Na hora de arredondar o troco em redes de supermercados em forma de doação para ONGs, uma pesquisa constatou que o momento e a atitude altruísta do consumidor são os dois fatores de maior impacto.

    A professora da FGV Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas) Tânia Veludo, que coordenou a pesquisa realizada pela instituição em parceria com o Grupo Pão de Açúcar e o Instituto Arredondar, afirma que "a doação está ligada à experiência de loja e ao trabalho do operador de caixa".

    Ela ainda complementa que fatores demográficos, como gênero, idade e escolaridade, não mostraram indicadores relevantes na pesquisa.

    Outro fator decisivo na decisão do arredondamento é o valor do troco. A maioria (38,6%) das doações realizadas não ultrapassavam R$ 0,10.

    A pesquisadora ressalta que é igualmente importante a relativização do troco. "Quanto maior o valor da compra, mais chances de realizar a doação", explica. Por isso, mais da metade (65,8%) dos arredondamentos foram realizados em compras acima de R$ 40.

    PERFIL DO DOADOR

    O estudo dividiu as 1.449 pessoas (clientes de 42 lojas do Minuto Pão de Açúcar em São Paulo) que participaram em três grupos: doadores engajados, ocasionais e raros.

    O grupo dos engajados corresponde a 49% das doações, arredondaram o troco em 70% das compras e têm um alto nível de altruísmo. Já os ocasionais representam 45% do valor dado, mas arredondam entre 20% e 70% das vezes e sua atitude está muito mais ligada à experiência na hora da compra.

    Os doadores raros, no entanto, ainda são maioria. Cerca de 96% nunca doaram e eles têm um baixo nível de altruísmo.

    "Existe um processo de expansão da cultura de doação. O doador raro, naturalmente, tem uma resistência, um ceticismo em relação às ONGs", esclarece Veludo.

    Esse processo se confirma com a ascensão de 37 posições do Brasil no ranking da solidariedade, o World Giving Index, para 68º, o melhor lugar desde 2009. De maneira geral, 54% dos brasileiros disseram que ajudaram um estranho no mês anterior à pesquisa, em 2015, e a parcela de pessoas que doam dinheiro aumentou de 20% para 30%.

    O levantamento é realizado pelo CAF (Charities Aid Foundation), parceiro do Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), que traçou, em 2016, um perfil do doador brasileiro.

    Mais da metade (52%) dos que responderam à pesquisa realizaram alguma doação em dinheiro em 2015. Os mais altruístas são mulheres, que doam mais conforme a idade, moram no Nordeste ou no Sudeste, têm religião e instrução superior. Quem mais se beneficiou da solidariedade foram as ONGs, laicas ou religiosas, que receberam 37% das doações.

    O valor total ficou em R$ 13,7 bilhões, número expressivo, mas que corresponde a 0,23% do PIB brasileiro. "O brasileiro é solidário, mas tem espaço para aumentar", afirma Paula Fabiani, diretora-presidente do Idis. "É preciso resgatar a confiança nas organizações sociais, fortalecer a sociedade civil."

    Para Laura Pires, diretora de Sustentabilidade do Grupo Pão de Açúcar, a pesquisa da FGV mostrou que a estratégia para incentivar doações passa por essa confiança. "O consumidor quer ter os detalhes sobre as ONGs apoiadas."

    MOVIMENTO ARREDONDAR

    O Movimento Arredondar começou a ser desenhado no Brasil em 2011, mas ganhou força em 2014, a partir da legalização das microdoações. Ele surgiu da parceria de Ari Weinfeld com Nina Valentini, vencedora do Prêmio Empreendedor Social de Futuro 2016 pelo seu trabalho com o instituto.

    A premissa é o arredondamento de centavos no troco em redes varejistas que se transformam em doações para o custeio de ONGs. Uma delas é o Instituto Fazendo História, que recebe recursos do Arredondar há dois anos, quando entrou por meio de um concurso.

    "Uma pessoa fez uma compra em uma loja, arredondou e ficou curiosa para conhecer o destino do troco. Hoje é nosso voluntário", afirma Daniela Vasconcellos, do instituto. "É imediato o bem que as doações podem fazer."

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