Brasileiros com renda de até R$ 10 mil ao ano doam proporcionalmente duas vezes mais do que quem recebe R$ 100 mil por ano. É o que apontou a pesquisa Country Giving Report 2017 Brasil realizado pelo YouGov, a pedido da CAF (Fundação de Auxílio de Caridade, na sigla em inglês).
"Em termos de percentual da renda, o brasileiro que ganha menos doa mais, apesar de o valor absoluto ser maior", afirma Paula Fabiani, diretora-presidente do Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), representante da CAF no Brasil.
Enquanto a doação típica dos mais pobres ficou em torno de 1,2% de sua renda nos últimos 12 meses (cerca de R$ 100), a de quem tem maior poder aquisitivo representou 0,4% da renda anual (aproximadamente R$ 300).
De maneira geral, o brasileiro segue solidário, ainda que no ranking mundial o país tenha caído para 75ª posição após alcançar, no ano passado, o 68º lugar, melhor colocação desde 2009.
Quase dois terços dos participantes (68%) doaram nos últimos 12 meses, principalmente para igrejas ou organizações religiosas (55%), organizações da sociedade civil (53%) e diretamente para pessoas necessitadas (52%).
"Vejo de uma forma muito positiva [os resultados]. Corrobora que existe uma cultura de doação, mas existem alguns entraves e espaços para melhorar esse comportamento do brasileiro", afirma Fabiani.
Um desses desafios, segundo a diretora-presidente do Idis, é a forma como o brasileiro doa. Segundo a pesquisa, 37% realizaram a doação em dinheiro vivo. "Se conseguíssemos melhorar os canais de doação, como de maneira on-line, iríamos melhorar esse processo."
No Brasil, o volume de doações representa 0,2% do PIB, número sete vezes menor que o dos Estados Unidos, onde o valor equivale a 1,4% do PIB.
Para Fabiani, é preciso tanto aumentar o quanto cada um doa, como a quantidade de doadores e quantas vezes é realizada a doação. "Quando perguntamos sobre doação recorrente, esse número [de 68% que realizaram doações] é muito menor."
A pesquisa da CAF também identificou essa questão. No último mês -recorte que evidencia doações recorrentes-, 21% dos entrevistados doaram dinheiro para uma organização sem fins lucrativos. Isso é mais da metade daqueles que fizeram o mesmo tipo de doação no último ano (53%). "Temos que trabalhar o número de vezes que se doa", afirma Fabiani.
O estudo ouviu 1.313 brasileiros com mais de 18 anos, que moram em cidades e que tenham acesso à internet.