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    Meditação da 'atenção plena' monopoliza pesquisas sobre o tema

    JULIANA CUNHA
    DE SÃO PAULO

    01/03/2016 02h00

    Talvez você já tenha se perguntado se meditação "funciona" —no sentido de trazer benefícios à saúde—, mas as questões que se seguem a essa são ainda mais capciosas. A primeira delas é como mensurar os benefícios desse tipo de prática.

    A maior parte dos testes na área de saúde são feitos do seguinte modo: enquanto um grupo de voluntários recebe o tratamento que está sendo testado, um segundo grupo recebe um placebo. Como o efeito placebo costuma funcionar em até 30% dos casos, é importante que nenhum dos participantes saiba se está recebendo o tratamento real ou uma água com açúcar, assim os resultados podem ser comparados.

    Mas como administrar um placebo de meditação? Um estudo publicado este mês na revista "Biological Psychiatry" buscava investigar os efeitos da meditação "mindfulness" [atenção ou consciência plena] na redução de estresse.

    Para isso, os pesquisadores recrutaram 35 pessoas desempregadas que estavam passando pelo estresse de buscar um novo trabalho e mandou todas elas para um retiro de três dias de meditação. Enquanto metade do grupo recebia aulas de "mindfulness", a outra metade fazia sessões de relaxamento nas quais o instrutor inseria piadas e distrações em momentos-chave para impedir que os participantes de fato se concentrassem.

    "Fizemos questão de chamar pessoas que não tinham experiência prévia com meditação, de modo que não percebessem o truque", explica David Creswell, psicólogo da universidade americana Carnegie Mellon que chefiou o estudo.

    No fim da experiência, quase todos os participantes afirmaram que se sentiam mais relaxados e que tinham desenvolvido respostas melhores ao estresse, mas ressonâncias magnéticas mostraram alterações significativas —como ativação de áreas cerebrais associadas à sensação de calma— apenas no grupo que meditou de verdade.

    Quatro meses depois, um exame de sangue mostrou que o grupo da meditação apresentava níveis de inflamação consideravelmente menores do que o grupo do relaxamento, ainda que poucas pessoas de ambos os grupos tivessem dado prosseguimento às práticas aprendidas durante o retiro.

    O tipo de meditação que Creswell utilizou em sua pesquisa tem raízes budistas e deu origem a um programa de redução de estresse criado pelo professor Jon Kabat-Zinn, da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, na década de 1970.

    Iniciado no budismo, Kabat-Zinn queria desenvolver um método que ajudasse pacientes crônicos a lidar com a doença, melhorando sua resposta aos tratamentos.

    "Toda meditação busca a atenção plena, mas a particularidade do mindfulness é buscar estar no presente com curiosidade", explica o físico e budista ordenado Stephen Little, diretor do Centro de Vivência em Atenção Plena e professor da sucursal brasileira da School of Life.

    Nas aulas, os alunos devem prestar atenção à própria respiração e sensações corporais, inclusive às desagradáveis, e tentar "aceitar o sofrimento".

    "Grande parte dos fatores que nos causam ansiedade não são moldáveis, então precisamos desenvolver respostas mais saudáveis a eles", diz Little.

    Em parte por ter nascido em um ambiente acadêmico, a mindfulness tem se estabelecido como a modalidade queridinha dos médicos e monopoliza boa parte das pesquisas sobre meditação. No Brasil, a Unifesp, por exemplo, tem um centro dedicado a ela.

    "Imagino que outros tipos de meditação tenham eficácia semelhante, mas como a maior parte das pesquisas recentes trabalha com mindfulness, ela acaba chamando atenção dos médicos. Já sabemos, por exemplo, que melhora o parâmetro imunológico e reduz a ansiedade", diz a psiquiatra Valéria Melo, do hospital Emilio Ribas.

    O treinamento de mindfulness costuma ser feito em dois meses, com sessões de 2h30 por semana, e inclui exercícios de respiração e postura, além de explicações científicas sobre a origem e os efeitos do estresse. Custa cerca de R$ 900 e inclui material didático para praticar em casa.

    Quem quiser se inteirar da técnica pode recorrer a palestras sobre o tema como a da School of Life (R$ 185, com encontro no dia 17/03, tel. 11. 26387130) ou a do Centro Cultural da Índia (gratuita, 15/03, tel. 11. 3149 3340).

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