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    Regra dos 5 segundos não funciona, diz pesquisa americana

    RICARDO AMPUDIA
    DE SÃO PAULO

    09/10/2016 02h00

    Dannielle Blumenthal/Flickr
    Melancia, em contato com superfícies, foi campeã de contaminação
    Pão, em contato com superfícies, adquire bactérias

    De acordo com a sabedoria popular, qualquer alimento que caia no chão pode ser consumido sem risco, se for coletado em até cinco segundos. O tempo de exposição varia de acordo com as regiões do globo –há defensores dos três segundos e até quem arrisque 15.

    A má notícia vem de um estudo da Rutgers University, em Nova Jersey, Estados Unidos. Os pesquisadores selecionaram quatro tipos de pisos (azulejo, madeira, carpete e aço inox) e quatro tipos de alimentos (pão branco, pão com manteiga, melancia e bala de goma), que entraram em contato por tempos de menos de um segundo até cinco minutos, antes de serem analisados.

    "Nossa principal conclusão é que a regra dos cinco segundos não é verdadeira. Bactérias podem se transferir para o alimento mesmo em uma fração de segundo. Mas o tempo de contato faz bastante diferença", comenta o professor Donald Schaffner, um dos responsáveis pelo estudo, publicado no início de setembro na revista "Applied and Environmental Microbiology".

    Superfícies foram contaminadas com bactérias Enterobacter aerogenes, similar à salmonela. Alimentos, com bactérias contadas, tinham contato com as superfícies, eram processados e passavam por nova contagem.

    Regra dos 5 segundos

    A melancia teve as taxas de contaminação mais altas do experimento, com até 97% em cinco segundos sobre o piso cerâmico. Com menos de um segundo no aço inox, a contaminação já era de 91%.

    Isso ocorre, de acordo com os cientistas, pela composição da fruta, que tem muito líquido e é pegajosa. As balas de goma de ursinhos, bastante populares nos Estados Unidos, são mais secas e obtiveram as menores taxas de contaminação, com 11% após cinco minutos sobre o azulejo.

    O carpete foi a superfície menos contaminante. Segundo o pesquisador, isso não quer dizer que seja o mais seguro ou limpo. A topografia do tecido impede que o alimento entre em contato com a sujeira, o que pode influenciar nos dados.

    "Eu jamais recomendaria que alguém colocasse carpete na cozinha. A questão é que esse tipo de ambiente precisa de superfícies fáceis de limpar, o que não é o caso", diz Schaffner.

    FAZ MAL?

    Segundo o professor, o risco de contrair alguma doença após consumir comida do chão, não depende só da presença ou não de bactérias, mas do tipo delas. A maioria delas é inofensiva para o organismo humano e não causará mal algum.

    Algumas cepas de bactérias como a E. coli ou salmonela, no entanto, podem causar graves infecções abdominais. No Brasil, em 2015, cerca de 9.300 pessoas foram hospitalizadas por doenças transmitidas por alimentos.

    Alguns ativistas da "regra dos cinco segundos" acreditam ainda que uma boa assoprada na comida logo após o contato com o chão garante a segurança de quem consome. De acordo com Schaffner, não existem estudos que comprovem a eficácia dessa modalidade "profilática", mas o cientista cita outro estudo que mostra que lavar em água corrente pode eliminar até 90% das ameaças. De todo modo, ele não é a favor do "assopro higienizador".

    Após mergulhar nos resultados das 2.560 medições feitas durante o estudo, porém, Schaffner, sim, come do chão: "Eu como quando é algo seco e cai no chão da minha casa, porque eu sei que foi limpo recentemente. Nunca como quando é um alimento úmido e jamais comeria do chão dos outros".

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