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    mosquito aedes aegypti

    Duas bebês da Grande São Paulo nascem cegas por causa da zika

    GABRIEL ALVES
    DE SÃO PAULO

    11/01/2017 02h01

    Divulgação
    Retina de bebê com zika
    Comparação de uma retina normal com a de uma bebê afatetada pela zika
    Divulgação
    Retina normal

    Mesmo fora das regiões mais afetadas, o vírus da zika faz vítimas. Em um artigo científico publicado na última semana, cientistas brasileiros relataram dois casos de cegueira em bebês da Grande São Paulo –um em Guarulhos e outro na capital– por causa do vírus da zika.

    As duas mães, que tinham 14 e 18 anos na época do parto, disseram aos médicos não terem tido nenhum dos sintomas relacionados à zika, tais como vermelhidão na pele e nos olhos, dores articulares e febre. Outras infecções que poderiam ter gerado microcefalia e as más-formações oculares nas bebês (como toxoplasmose e rubéola) foram descartadas.

    Os achados oftalmológicos nas bebês são diversos: subdesenvolvimento do nervo óptico, degeneração da retina, excesso de pigmentação na região da mácula –importante para a captação de cores. Todas essas condições são deficitárias e contribuem para a perda de visão.

    Zika e microcefalia

    Para o oftalmologista Rubens Belfort Jr., professor da Universidade Federal de São Paulo, os novos achados são coerentes com aqueles já encontrados anteriormente, principalmente em outras regiões do país.

    "Já está claro que o vírus não atinge apenas a parte da retina e o nervo óptico, mas também outras partes do olho, levando à alteração da pressão intraocular, lesando o nervo e propiciando o aparecimento de glaucoma."

    As bebês foram examinados em 2016: uma delas aos 23 dias de vida e outra aos 7 meses. Os relatos dos pesquisadores são consistentes com outros achados relacionados à condição que ficou conhecida como Síndrome Congênita da Zika.

    Além dos achados oftalmológicos, as bebês apresentaram achados radiológicos como ventriculomegalia (aumento das cavidades do cérebro), menor quantidade de giros e sulcos no cérebro (órgão mais "liso"), ausência do corpo caloso (estrutura que liga os dois hemisférios do cérebro) e calcificações.

    O relato dos dois casos está na revista "Retinal Cases & Brief Reports".

    Doenças transmitidas pelo Aedes aegypti

    POBREZA

    O que ainda não se sabe, afirma Belfort, é o modus operandi do vírus. Ele poderia exercer seus efeitos negativos por meio de seu potencial inflamatório ou alterando, de alguma maneira, a expressão de genes importantes para o desenvolvimento normal das estruturas cerebrais e oculares, por exemplo.

    Os atuais achados são importantes, diz, por uma razão epidemiológica: também existem casos graves em São Paulo, que não concentra casos de zika. Em 2016 foram 12,6 casos para cada 100 mil habitantes no Estado, contra 407,7 do Rio de Janeiro, por exemplo.

    Outra hipótese já aventada, de que pessoas pobres estariam mais sujeitas aos efeitos deletérios da zika, não pôde ser testada, já que se tratou de relato de caso. No entanto, ela vem ganhando força, diz Belfort. "Nossa impressão é que existe uma ligação entre a síndrome e fatores sociais."

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