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    Fiocruz revela 'livro médico' do século 18 que receitava até cozinhar galo

    LUÍS COSTA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO

    20/11/2017 02h01

    Rodrigo Méxas/Fiocruz
    Formulário Médico', manuscrito jesuíta de 225 páginas, datado de 1703
    'Formulário Médico', manuscrito jesuíta de 225 páginas, datado de 1703

    Dor de estômago: deve-se cozinhar o galo mais velho da casa por toda a noite com muito sal. Logo pela manhã, para cessar a dor, basta comer a iguaria e beber o caldo quente do cozimento.

    Essa é uma das prescrições do "Formulário Médico", manuscrito jesuíta de 225 páginas, datado de 1703. O livro raro foi selecionado para compor o registro brasileiro do programa Memória do Mundo, da Unesco, que lista a cada ano patrimônios documentais considerados representativos da memória coletiva dos países.

    O "Formulário" é um compilado de receitas médicas que circulavam entre padres jesuítas nos primeiros séculos do Brasil colonial. O livro traz remédios para doenças epidêmicas graves como varíola e sífilis, e para males como azia e mau hálito.

    Guardado por mais de um século na biblioteca de obras raras da Fiocruz, no Rio, o manuscrito foi agora transcrito por paleografia –técnica que decifra a escrita incompreensível de documentos antigos– e será lançado em livro ano que vem pela editora da instituição.

    O trabalho de transcrição e análise histórica do volume envolveu mais de 40 profissionais de 17 instituições, segundo Maria Claudia Santiago, chefe da biblioteca de obras raras da Fiocruz.

    Além de prescrições da farmacopeia clássica, o manual contém indicações de ervas brasileiras nomeadas pelos indígenas e receitas com frutos vindos da África.

    GARRAFADA

    Entre as receitas, os jesuítas guardavam um tesouro médico: a "Triaga Brazilica", composto de 27 ervas (25 das quais brasileiras) cuja composição era mantida em sigilo pelos missionários.

    A triaga (ancestral das "garrafadas") prometia curar mordidas de animais peçonhentos, dor de estômago, vômito, cólica, flatulência, epilepsia, sarampo e outros males.

    O composto ganhou fama internacional e chegou a ser a segunda maior fonte de renda da Companhia de Jesus.

    A influência indígena é farta nas receitas. O conservador da Fiocruz Marcelo Lima, que estudou o manuscrito, afirma que a relação entre jesuítas e pajés era, em geral, de distanciamento.

    "Mas essa relação não foi sempre de embate", diz Lima, que viu indícios de que padres buscaram informações sobre ervas nativas com pajés.

    O manuscrito está digitalizado e disponível para download no site da Fiocruz.

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