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    Decisões e polêmicas marcaram duelo entre Corinthians e Ponte

    RAFAEL VALENTE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    09/03/2011 14h01

    Corinthians e Ponte Preta, adversários desta quarta-feira, no Pacaembu, pelo Campeonato Paulista, disputaram três decisões ao longo dos cem anos do duelo. Duas delas, em 1977 e 1979, valiam o título do estadual. A outra, em 2001, vaga na final da Copa do Brasil.

    Silvestre P. Silva - 1977/Folhapress
    Basílio segura bola do título do Corinthians contra a Ponte em 1977
    Basílio segura bola que deu o título do Paulista de 1977 para Corinthians na vitória por 1 a 0 sobre a Ponte Preta

    A primeira decisão encerrou um jejum de quase 23 anos sem títulos do Corinthians. Foram três partidas no Morumbi e equipe do Parque São Jorge venceu a primeira e perdeu a segunda. Na última, Basílio marcou o gol da vitória por 1 a 0 e deu o título ao time corintiano. Até por isso o ex-jogador virou referência na história do duelo.

    "Eu também vejo dessa forma. A lembrança daquela conquista e do gol é muito forte, me marcou. Sou reconhecido em qualquer lugar. Tenho orgulho de ser lembrando pelos torcedores. Foi a conquista mais importante daquela geração. Foi o título da libertação", disse Basílio à Folha.

    Com 19 times, o Paulista-1977 durou cerca de nove meses e foi dividido em três turnos. Campeão e vice de cada turno, mais os dois times com mais pontos na soma dos turnos e as equipes com melhor renda classificavam-se para o terceiro turno, dividido em dois grupos. Nessa fase, o primeiro de cada chave classificava-se para a final.

    "Nosso time não tinha a confiança da torcida. Bastava perder para todos colocarem em dúvida o trabalho, lembravam do vice de 1974. A contratação do Palhinha nos ajudou. Ele era experiente e chamou toda a responsabilidade para ele", disse Basílio.

    "O técnico [Oswaldo] Brandão também foi peça chave. Ele acreditou no grupo. Quando perdemos para o Guarani [1 a 0, no terceiro turno] o [presidente] Vicente Matheus entrou no vestiário chutando a porta, falando em mais um ano perdido, reformulação etc. O Brandão tomou a frente, tirou o Matheus da sala e nos passou confiança. Depois disso só perdemos um jogo [a segunda partida da decisão]", completou.

    13.out.1977/Folhapress
    Basílio comemora o gol marcado contra a Ponte Preta no último jogo decisivo do Paulista de 1977, no Morumbi
    Basílio comemora o gol marcado contra a Ponte Preta no último jogo decisivo do Paulista de 1977, no Morumbi

    O Corinthians se classificou para a final eliminando São Paulo, Portuguesa e Guarani na sua chave, enquanto a Ponte Preta eliminou Palmeiras, Santos e Botafogo-SP. A decisão da FPF (Federação Paulista de Futebol) de colocar os jogos finais no Morumbi irritou o time pontepretano, que queria levar pelo menos uma partida para Campinas.

    "O Brandão falava que nós ganharíamos o título independente de local do jogo e eu também penso assim. Nosso time estava preparado. No dia do terceiro jogo, o Brandão entrou no quarto da concentração e acordou o Zé Maria e eu. Disse que a gente não iria fazer teste de avaliação --a gente era dúvida, estava em tratamento intensivo-- e que seríamos escalados. Ele ainda disse que ganharíamos por 1 a 0 e eu faria o gol. Uma coisa que pouca gente sabe, e é a primeira vez que eu digo isso, é que no jogo seguinte, já pelo Brasileiro, a lesão que poderia ter me tirado da final apareceu", revelou Basílio.

    PAULISTA DE 1979

    Dois anos depois de daquela final, Corinthians e Ponte Preta repetiram o duelo pelo título de 1979. Na verdade, o campeão saiu apenas em fevereiro de 1980 por causa de uma polêmica fora de campo.

    O Corinthians, por meio do presidente Vicente Matheus, se recusou a enfrentar a Ponte pelo segundo turno porque a FPF havia marcado rodada dupla no Morumbi --Palmeiras e Guarani jogariam antes. Matheus não queria dividir a renda com os rivais e o caso foi para a justiça. O campeonato foi parado no final de novembro e voltou a ser disputado em janeiro, já nas semifinais. O Corinthians venceu o Palmeiras e depois a Ponte.

    03.fev.1980/Folhapress
    Palhinha marca de cabeça o fol do Corinthians na final de 1979 contra a Ponte, no Morumi
    Palhinha marca de cabeça o fol do Corinthians na final de 1979 contra a Ponte, no Morumi

    "A decisão de 1979 foi mais tranquila porque a gente já tinha quebrado o tabu em 1977, não havia mais aquela expectativa. Teve também um fator importante que foi o Matheus ter paralisado o campeonato quando Palmeiras, Ponte e Guarani vinham bem. Quando a disputa voltou, a coisa já tinha esfriado. Jogamos em condições iguais e vencemos", disse Zé Maria, que defendeu o Corinthians entre 1970 e 1983, à Folha.

    "O Palmeiras foi o mais prejudicado. O time era forte e fazia uma campanha excelente. Acho que a ação do Matheus visava a parte financeira do Corinthians, mas acabou ajudando o time. Igualou as condições na semifinal", disse Juninho Fonseca, ex-zagueiro da Ponte Preta e atualmente gerente de futebol do Botafogo-SP, à Folha.

    Nas semifinais, o Corinthians empatou o primeiro jogo com o Palmeiras (1 a 1) e venceu o segundo (1 a 0), classificando-se para a decisão. A Ponte Preta eliminou o Guarani com duas vitórias (2 a 1 e 1 a 0) e também se classificou.

    "A paralisação não afetou a Ponte. A gente enfrentou o Guarani, que era um time muito mais forte, e vencemos. Fazia pouco tempo que eu tinha voltado a jogar, estava com uma lesão no joelho. O [zagueiro] Nenê também estava contundido, mas jogamos todos os jogos finais. Só operamos depois do campeonato", disse Juninho Fonseca.

    "Nosso time não era tão forte quanto o de 1977. Era uma equipe em processo de reformulação, mas em Campinas éramos quase imbatíveis. Não disputar pelo menos um jogo da final em casa nos prejudicou. Despertou um clima de revanche e esse ambiente de rivalidade durou os três jogos", completou.

    Com os três jogos no Morumbi, o Corinthians venceu o primeiro por 1 a 0, empatou o segundo em 0 a 0 e venceu o terceiro por 2 a 0. Na primeira partida a imagem de Zé Maria jogando com a camisa ensanguentada chamou a atenção.

    "Não foi proposital, mas o torcedor acabou gostando. Foi em um escanteio favorável para a Ponte. Teve o cruzamento e na hora de subir me choquei com o Juninho. Cortei o supercílio. Quando olhei a camisa já estava com aquela mancha de sangue. Sai para ser atendido e o médico disse que não dava para estacar. Eu falei que ia voltar para o jogo, que não queria saber. Escorria muito sangue, mas eu voltei pela vontade de jogar. Pelo Corinthians, eu faria novamente. O torcedor merece o impossível", disse Zé Maria.

    COPA DO BRASIL 2001

    A última vez que Corinthians e Ponte Preta se enfrentaram em um jogo decisivo foi na semifinal da Copa do Brasil de 2001.

    Naquele ano, a Ponte contava com Adrianinho, Mineiro, Piá e Washington, que foi o artilheiro do torneio com 11 gols, mas não enfrentou o Corinthians porque estava na seleção brasileira. O time, que passou por Castanhal-PA, Gama, Remo e Fortaleza, ainda liderou o Paulista e chegou até as semifinais, sendo eliminado pelo Botafogo-SP.

    Já o Corinthians contava com Rogério, André Luiz, Marcelinho, Ricardinho e Muller. Treinado por Vanderlei Luxemburgo, o time deixou a lanterna do estadual e se classificou para semifinal. Eliminou o Santos e depois venceu o Botafogo-SP na final, conquistando seu 24º título paulista. Na Copa do Brasil, passou por Joinville, Goiânia, Flamengo-PI e Atlético-PR, antes de enfrentar a Ponte.

    Contudo, por imposição do regulamento, as partidas da semifinal foram transferidas para o interior. A CBF exigia que os jogos fossem disputados em estádios com capacidade para no mínimo 40 mil torcedores. Assim, a Ponte que em 2001 havia vencido 11 jogos e empatado dois no Moisés Lucarelli jogou em São José do Rio Preto. E o Corinthians, com seis vitórias e três empates no Pacaembu, fez o jogo de volta em Presidente Prudente.

    O Corinthians venceu as duas partidas contra a Ponte. No primeiro jogo Scheidt e Kléber marcaram. No segundo, Marcelinho, Ewerthon e André Luiz foram os artilheiros. O time se classificou para a decisão contra o Grêmio, mas acabou sendo vice-campeão. Já a Ponte terminou com a quarta melhor campanha do torneio e sua melhor participação na Copa do Brasil.

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