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    No Natal de 1921, Palmeiras tirou título do Corinthians

    LUCAS REIS
    DE SÃO PAULO

    02/12/2011 06h00

    Em 25 de dezembro de 1921 o Palmeiras conseguiu o que pretende repetir neste domingo: venceu o Corinthians, tirou o título de suas mãos e o entregou a outro clube.

    Há 90 anos, o Palmeiras ainda era o Palestra Itália, a maior força do Estado era o Paulistano --que foi o campeão paulista graças à derrota corintiana--, e as rivalidades apenas esquentavam.

    Nove décadas depois, os dois arquirrivais voltam a se enfrentar em um cenário semelhante àquele que ficou conhecido como o "Derby de Natal" de 1921, episódio quase esquecido pelas páginas amareladas da história.

    TRIO DE FERRO

    "Nós assistimos futebol há mais de vinte anos, e confessamos que nunca vimos uma lição tão boa, tão esplêndida, como a que deu hontem, no Parque Antarctica".

    Assim começa o texto da vitória do Palestra Itália sobre o Corinthians por ruidosos 3 a 0 na seção Vida Esportiva, da Folha da Noite, uma das publicações que deram origem a esta Folha, na edição de 26 de dezembro, primeiro ano do jornal.

    Na página, duas marcas de lança-perfume, Ypiranga e Pierrot, disputavam o leitor.

    Letícia Moreira/Folhapress
    Página da Folha da Noite com a vitória palmeirense sobre o Corinthians
    Página da Folha da Noite com a vitória palmeirense sobre o Corinthians

    Naquele Campeonato Paulista, jogado em pontos corridos, Palestra, Corinthians e Paulistano --que deu origem ao São Paulo-- duelaram pelo título até o fim.

    Na última rodada, o Paulistano venceu o Sírio por 3 a 2, alcançou 39 pontos e assumiu a liderança. O Corinthians, com 38 pontos, enfrentaria o Palestra que, após um campeonato irregular, estava com apenas 36 pontos --a vitória valia dois pontos.

    Ou seja, bastava um triunfo para que os corintianos levantassem a taça; ao Palestra, restava disputar o vice-campeonato e a possibilidade de impedir o título daquele que seria seu maior rival.

    "Durante os dias que antecederam o jogo, a imprensa dizia que o Palestra entregaria o jogo para o Corinthians", conta Fernando Galuppo, historiador do Palmeiras.

    Explica-se: naquela época, o Paulistano era talvez o maior rival do Palestra: clube da aristocracia, foi tetracampeão paulista e perdera o penta justamente para os palestrinos um ano antes.

    E se fosse o campeão de 1921, o Paulistano garantiria a posse definitiva da Taça Cidade de São Paulo. Para isso, dependia de um tropeço corintiano na última rodada.

    Então no Natal de 1921 palestrinos e corintianos, que já rivalizavam pela soberania de suas torcidas, ambos clubes da massa trabalhadora, decidiriam se o título ficaria com Corinthians ou Paulistano.

    "A rivalidade começou em 1917, quando se enfrentaram. Nascia o sentimento de torcida, a ideia de ir ao estádio para torcer", diz Galuppo.

    Mas foi o "Derby de Natal" de 1921, aliado ao fim do futebol do Paulistano em 1929, que polarizou a rivalidade entre corintianos e palmeirenses. Aquele jogo foi emblemático para aquela que seria a maior rivalidade do Estado.

    Foi no Parque Antarctica, ainda acanhado e recém-comprado pelos italianos, que o Palestra Itália derrotou o Corinthians por 3 a 0 e deu o título ao Paulistano -com a entusiasmada presença de torcedores do Paulistano.

    "Já eram rivais, mas o jogo serviu para incrementar a rivalidade. Mas na época era o chamado tempo que as pessoas tinham vergonha na cara. O conceito de entrega [de resultado] é recente", disse Celso Unzelte, autor de livro sobre a história corintiana.

    O Paulistano ainda enviaria um ofício ao Palestra reconhecendo o "grande princípio esportivo" de seu rival.

    "Nós não vamos entrar em detalhes nesta refrega sensacional, que não se pode e nem se deve mesmo descrever", contou a Folha da Noite.

    DISPUTA PELO VICE-CAMPEONATO TERMINA SEM VENCEDOR

    Dias após o fatídico clássico do Natal, Corinthians e Palestra Itália voltaram a se enfrentar. E o jogo não terminou.

    O Paulistano era o campeão paulista de 1921; na classificação, Palestra e Corinthians empataram em segundo lugar, com 38 pontos cada.

    Os palestrinos haviam vencido um jogo a mais na competição. Ocorre que, naqueles tempos, o número de vitórias não era um critério de desempate. Então foi feito um jogo-desempate no dia 8 de janeiro de 1922 na Chácara da Floresta, campo neutro.

    Mas o jogo não terminou por causa de confusão -jogadores do Palestra inconformaram-se com o árbitro.

    "Era uma taça oferecida por um jornal da época ["A Capital"]. Mas houve confusão no jogo, a partida não terminou e até hoje há dúvidas sobre quem foi o vice-campeão paulista de 1922", contou Celso Unzelte, autor de livro sobre a história corintiana.

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