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    Medalhista paraolímpico compara Jogos a guerra e pede fim de amadorismo

    VINÍCIUS BACELAR
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    28/09/2012 07h40

    Dono de seis medalhas de ouro e três de prata em duas Paraolimpíadas, o nadador brasileiro Andre Brasil, 28, comparou com uma guerra a preparação para os Jogos.

    "Não se faz um campeão em seis meses. É como se fôssemos para uma guerra. Privamos-nos de várias coisas em busca dos nossos sonhos. Largamos nossa juventude para conseguirmos o melhor", falou com exclusividade à Folha.

    Quando Andre tinha três meses de idade, Tania, sua mãe, percebeu que a perna esquerda dele era mais leve do que a direita. Foi constatado que era vítima de Poliomielite --paralisia infantil.

    Após passar por sete cirurgias e várias terapias experimentais, Andre encontrou na natação uma maneira de lidar com a deficiência. Aos 13 anos, passou a nadar competitivamente.

    Glyn Kirk/France Presse
    O nadador Andre Brasil comemora com uma de suas medalhas de ouro na Paraolimpíada de 2012
    O nadador Andre Brasil comemora com uma de suas medalhas de ouro na Paraolimpíada de 2012

    Atualmente, o atleta ganha cerca de R$ 6mil por mês somados patrocinadores e auxílio do programa Bolsa Atleta, do Governo Federal. Andre afirma que esta renda é o suficiente para o seu sustento, mas acredita que a situação de outros atletas brasileiros é precária.

    "Hoje estou feliz porque faço o que gosto e vivo disso. Mas outros atletas não têm as mesmas condições. Precisamos de mais investimentos dos governos e das empresas privadas. No início, eu também sofria e era bancado apenas pela família", disse.

    "Estou aproveitando este momento para dar entrevistas e participar de eventos. Sei que, daqui uma semana, ninguém mais falará de Jogos Olímpicos ou Paraolímpicos. No Brasil, tudo o que não é futebol é tratado como amador. Precisamos mudar esta cultura", continuou.

    O nadador pediu para que haja maior investimento nos profissionais que trabalham com os atletas. "As pessoas precisam acreditar mais no esporte. Saber que não é só investir no atleta. Tem o técnico, o médico, o fisioterapeuta, a nutricionista... toda uma equipe por trás".

    Ele lamentou que o complexo aquático Maria Lenk, construído para o Pan-2007, tenha sido abandonado após a competição realizada no Rio.

    "Hoje o COB assumiu e a situação melhorou. Mas há um ano, eu fui lá e me deu uma dor no coração ver aquele complexo largado. Como nadador, é uma preocupação muito grande ver o descaso com o Maria Lenk".

    Nascido no Rio de Janeiro, Andre passou por Vasco e Botafogo. Em 2007, ele se mudou para São Paulo e começou a treinar no Pinheiros, clube que o patrocina até hoje.

    Apesar do patrocínio, ele não usa mais as piscinas do Pinheiros por falta de espaço. Atualmente, o nadador faz suas atividades no Centro Olímpico Pró-2016, de Cesar Cielo, e na Companhia Atlética.

    Andre acredita que disputará de 10 a 15 torneios por ano até os próximos Jogos Paraolímpicos, que serão realizados em 2016, na sua cidade natal.

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