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    Lúcio Ribeiro: Na Jordânia, torcida xinga irmã do juiz e só vai embora depois do príncipe

    LÚCIO RIBEIRO
    COLUNISTA DA FOLHA, EM AMÃ, JORDÂNIA

    27/03/2013 06h00

    Com Alá evocado o tempo todo nas arquibancadas, a seleção da Jordânia venceu de modo dramático o Japão por 2 a 1 na capital Amã, pelas eliminatórias asiáticas, e manteve forte o sonho de jogar o Mundial 2014, a primeira Copa de sua pobre história futebolística.

    Por sua vez, o Japão jogou fora a honra de ser a primeira esquadra classificada para o torneio do Brasil, com exceção do país sede.

    Os japoneses, bem na tabela do grupo B e já tendo vencido a Jordânia em casa por 6 a 0 no primeiro turno, estiveram melhor na partida, perderam um pênalti quando o jogo já estava 2 a 1 para os anfitriões árabes e deixaram para tentar assegurar de vez a vaga em casa, quando recebem a Austrália no começo de junho, precisando de um empate que não veio na terça-feira.

    Já a Jordânia, que era lanterna da chave até o jogo começar, pulou três seleções e agora é vice-líder (os dois primeiros vão ao Mundial; o terceiro disputa um jogo extra contra o mesmo posicionado do grupo A). E tem jogo decisivo contra a mesma Austrália, também em junho, mas em Sydney.

    Isso tudo é uma coisa. A outra coisa é que a Folha esteve no Estádio Internacional King Abdullah II com convite referendado pelo príncipe Ali Bin Al-Hussein e viu a empolgação que tomou conta do jogo e das ruas de Amã assim que o jogo terminou.

    O torcedor árabe, a maioria muçulmana, se comporta como um frequentador de estádios brasileiro. Empurra o time, caçoa da torcida adversária, discute com a polícia. Mas tem as diferenças.

    Se nos Estados Unidos a torcida xinga o pai do juiz em marcações desfavoráveis a seu time, na Jordânia quem leva a "culpa" é a irmã do árbitro, traduziu-me um local, que nasceu no Brasil.

    E a frase cantada tem palavrão cabeludo no meio.

    O Rei Hussein, o antigo monarca, e seu filho e atual rei Abdullah II, estão presentes nas cantorias dos torcedores, que deixam seu sangue e alma à disposição da família real nas músicas.

    Mas as realezas perdem para Alá, o jeito de dizer Deus no islamismo, que é evocado para até para empurrar o time: "Alá, Alá, Vamos, Vamos".

    No intervalo do jogo, alguns torcedores aproveitaram para rezar na arquibancada, voltado a Meca.

    Na hora dos gols, o primeiro do lateral Attiah e o segundo do habilidoso meia Ibrahim, os lenços vermelho-e-branco que servem de turbante aos jordanianos subiam aos ares junto às bandeirinhas do país distribuídas na entrada. Um espetáculo visual bonito.

    Embora seu jogador mais badalado, Al-Saify, jogue no Kwait, a Jordânia reflete em seu plantel a rivalidade de três times de Amã, sua capital: Al Jazeera, A-Wehdat e Al Faisaly. Estes dois últimos levam sua inimizade até questões raciais. O Al Wehdat é defendido por jordanianos com ascendência palestina. O Al Faisay, por jordanianos considerados "puros".

    Assim que Jordânia x Japão terminou, a torcida da casa precisou esperar por volta de meia hora para ganhar as ruas de Amã, feliz com o triunfo. As saídas foram fechadas enquanto o príncipe Ali não fosse embora do estádio. No caso de ontem, ele demorou mais que o normal porque foi ao vestiário cumprimentar jogadores e o técnico.

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