Conheci Neymar em uma partida de futsal em Santos. Era apenas um campeonato entre colégios da cidade, mas o editor do jornal no qual eu começava minha carreira no jornalismo decidiu escalar-me para reportar aquele jogo. Era 2005.
O menino magérrimo de cabelo raspado já era um astro para a idade. Recebia bolsa de estudos do colégio porque já chamava atenção com a bola nos pés. Naquela época não fui o único a entrevistá-lo após o título colegial. Ele já era famoso, já era Neymar.
Anos depois, continuou em Santos. Uma cidade de pouco mais de 400 anos e 400 mil habitantes. Mas pequena para o astro.
Toda vez que retorno a Santos (hoje moro em São Paulo), tenho a sensação de que vou encontrar Neymar jogando futebol na praia ou almoçando em um restaurante. Nunca mais o vi fora de um campo! Santos é assim, todos se conhecem (ou acreditam que se conhecem).
Desde o cabeleireiro de Pelé até o prédio onde a mãe de Robinho morava na época em que foi sequestrada, todos têm uma referência ligada ao futebol e seus astros santistas. Talvez por essa proximidade entre as pessoas até mesmo o estádio do Santos FC é conhecido pelo nome do bairro: Vila Belmiro, e carinhosamente chamada de Vila.
Santos ficou pequena para Neymar. Para Pelé não ficou, porque Pelé era de todo o mundo. Pelé era extraterrestre! Já Neymar, não. E ele também entendeu que chegou a hora de sair.
O Santos ganhou dinheiro, mas perdeu sua grande referência, o atacante que lhe deu títulos e novos torcedores, que adoram copiar seu cabelo moicano.
A um ano do início da Copa, que é do mundo mas agora é do Brasil, a Pátria em Chuteiras sabe que precisa do melhor de Neymar para não repetir o Maracanazo.
A praia, o clima, o futebol em Barcelona podem ser o que faltava para Neymar subir definitivamente ao hall dos melhores do mundo.
E se, na Espanha, aos 21 anos, Neymar descobrir que tudo o que precisava era ficar em Santos? Ele precisou sair de casa para descobrir. Precisava deixar de ser menino da Vila. Talvez, assim, os brasileiros sintam falta de seu prodígio nos campos nacionais. No exterior, ao menos, Neymar poderá provar que já deixou o colégio e está pronto para se graduar como craque do futebol mundial.