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    Cidades que disputam Olimpíada de 2020 enfrentam problemas

    JERÉ LONGMAN
    DO "NEW YORK TIMES", EM BUENOS AIRES

    06/09/2013 13h13

    A recente tendência do Comitê Olímpico Internacional (COI) e da Fifa, organizadora da Copa do Mundo, vem sendo selecionar como sede dos dois maiores eventos esportivos mundiais cidades, países ou regiões que jamais abrigaram competições globais.

    Reprodução
    As logomarcas de Istambul, Tóquio e Madri para 2020
    As logomarcas de Istambul, Tóquio e Madri para 2020

    Se essa mentalidade persistir, Istambul pode estar em vantagem diante de Madri e Tóquio, no sábado, quando cerca de 100 delegados do COI selecionarão a cidade que abrigará a Olimpíada de 2020.

    Mas as três cidades candidatas correm riscos, e é impossível antecipar qual delas prevalecerá, em uma votação secreta. Escolher a favorita é simples adivinhação, lição que Paris aprendeu de forma abrupta quando era considerada como a favorita para sediar a Olimpíada de 2012, mas terminou derrotada por Londres.

    "Você precisa ser capaz de colocar os nomes no recipiente com a ideia de que, ainda que o escolhido não seja sua primeira escolha, não há questão de que a cidade não seja capaz de realizar a tarefa", disse Dick Pound, de Montreal, um dos delegados à reunião do COI. "Mas nenhuma delas é perfeita, de maneira alguma".

    Istambul é candidata pela quinta vez, e ofereceria um cenário transcontinental para a Olimpíada, abarcando Europa e Ásia e situando os jogos pela primeira vez em um país predominantemente muçulmano. A economia da Turquia é robusta, o apoio do público à candidatura é generalizado e a população é jovem. Escolher Istambul viria depois da escolha de Pequim, que levou a olimpíada à China em 2008, e do Rio de Janeiro, que as levará à América do Sul em 2016.

    E Istambul permitiria que o COI acompanhasse a perspectiva mundial da Fifa, que em 2010 levou a Copa do Mundo à África, selecionando a África do Sul, e escolheu a Rússia para organizar sua primeira Copa do Mundo em 2018, seguida pelo Catar para a Copa de 2022.

    "Se o COI selecionar Istambul, estará fazendo História", disse Hasan Arat, empresário e ex-jogador de basquete que comanda a candidatura da cidade turca, em entrevista telefônica. "Seria o primeiro passo do movimento olímpico para chegar a essa região, a esse território. Seria um imenso legado".

    No entanto, as chances de Istambul parecem ter sido prejudicadas quando a polícia da cidade reagiu com violência a protestos antigovernamentais, em junho. Os protestos evoluíram e resultaram em um movimento mais amplo contra aquilo que os críticos definem como estilo autoritário do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, que deve vir a Buenos Aires quando Istambul fizer sua apresentação final aos delegados olímpicos.

    Ozan Kose/AFP
    Bandeira da campanha turca em Istambul
    Bandeira da campanha turca em Istambul

    As manifestações, acompanhadas pelo sentenciamento, em agosto, de dezenas de oficiais das forças armadas, políticos, jornalistas e outras pessoas por envolvimento em um complô para derrubar o governo, expõem de maneira ainda mais clara a separação entre o governo de inspiração islâmica de Erdogan e a porção laica da sociedade turca.

    E ainda que os protestos se tenham atenuado, forçam os delegados do COI a tentar determinar com sete anos de antecedência qual poderá ser a situação política da Turquia em 2020.

    A candidatura de Istambul se tornou ainda mais incerta devido à guerra civil e à possível intervenção militar dos Estados Unidos na vizinha Síria; a um escândalo de doping que envolveu mais de 30 atletas da equipe turca de atletismo; a deficiências nos transportes; e à indiferença dos espectadores quando da recente Copa do Mudo de Futebol Sub-20 realizada no país.

    Quanto aos protestos, Arat diz que "isso é normal em países democráticos; pode acontecer em Nova York ou Londres". Ele disse que a suspensão dos atletas apanhados em casos de doping demonstra que a Turquia tem "uma política de tolerância zero".

    Mas o momento de inquietude para a candidatura de Istambul coincide com as preocupações quanto a atrasos nas obras e problemas de transportes no Brasil, que está se preparando para sediar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, e com os amplos protestos no Ocidente contra a legislação russa de repressão à homossexualidade, nos meses que antecedem a Olimpíada de Inverno de 2014, que acontecerá em Sochi, uma cidade russa na costa do Mar Negro.

    Jacques Rogge vai deixar a presidência do COI, e deve ser substituído, depois de uma votação, pelo advogado alemão Thomas Bach. Em um momento de transição como esse, o COI talvez esteja à procura de uma escolha menos arriscada para 2020.

    "Chega o momento em que você se cansa de crises", disse Pound.

    Tóquio tentou enfatizar a familiaridade e confiabilidade para se posicionar como sede mais capacitada. Tsunekazu Takeda, presidente do Comitê Olímpico Japonês, vem dizendo a jornalistas que, com Tóquio, os jogos de 2020 estariam "em mãos seguras". Ele acrescentou que "nesse período de incerteza, Tóquio 2020 oferece certeza".

    Tóquio sediou a Olimpíada de 1964, e o Japão por duas vezes sediou os jogos olímpicos de inverno - Sapporo, em 1972, e Nagano, em 1998. O Japão também co-sediou a Copa do Mundo de 2002, com a Coreia do Sul. O país é competente na organização de grandes eventos, oferece segurança econômica em um momento de incerteza financeira e política mundial, verbas garantidas de US$ 4,5 bilhões, abundância de acomodações para hóspedes e um sistema confiável de transporte.

    David Fernández/Efe
    O argentino Lionel Messi com camiseta de Madri-2020 em Buenoa Aires
    Lionel Messi com camiseta de Madri-2020 em Buenos Aires

    O COI pode ver a votação quanto a 2020 como oportunidade de ajudar o Japão, um parceiro sempre leal e cooperativo nas empreitadas olímpicas, a se recuperar do devastador terremoto e tsunami que sofreu em 2011.

    Mas a candidatura de Tóquio também tem seus pontos fracos, entre os quais a preocupação quanto a outro possível desastre ambiental, já que a usina nuclear de Fukushima, pesadamente danificada, continua a vazar água radiativa no Oceano Pacífico. Pesquisas de opinião pública também demonstram que o apoio popular a uma olimpíada em Tóquio é um pouco menor do que em Istambul e Madri.

    E o COI pode hesitar em conceder outra olimpíada à Ásia tão pouco tempo depois dos jogos de 2008 em Pequim - especialmente porque a Olimpíada de Inverno de 2018 acontecerá em Pyeongchang, na Coreia do Sul.

    Até o começo do terceiro trimestre, a impressão era de que Madri estava bem abaixo das demais cidades candidatas, dada a recessão que abala a economia espanhola e o alto desemprego, de 26,3% para a população em geral e de mais de 50% entre os jovens, bem como um escândalo de corrupção no governo e o mau histórico da Espanha com relação a doping.

    Mas os delegados do COI afirmaram que a candidatura de Madri pode ter renascido depois de uma apresentação realizada pelo príncipe herdeiro Felipe, ele mesmo antigo atleta olímpico, em julho. Madri enfatizou que os jogos de 2020 poderiam ajudar a reduzir o desemprego na Espanha; que depois de candidaturas fracassadas aos jogos de 2012 e 2016, 80% dos locais de competição já estão construídos; e que o orçamento de infraestrutura requerido será de apenas US$ 1.9 bilhão, ante US$19 bilhões para Istambul.

    Rogge disse que era importante que as candidaturas de Istambul, Tóquio e Madri fossem questionadas, porque os jogos olímpicos "não acontecem no vácuo" e a Olimpíada de 2020 acontecerá sete anos depois que a sede for escolhida pelos delegados do COI.

    "É absolutamente legítimo que os membros considerem o futuro, e não apenas a situação atual; que levem em conta a situação que pode existir dentro de sete anos", disse Rogge. "Outros aspectos, financeiros, sociais e quaisquer outros, precisam ser levados em conta".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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