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    Vinte anos após bicampeonato mundial, Muller admite ter feito gol sem querer

    RAFAEL VALENTE
    DE SÃO PAULO

    15/12/2013 18h12

    O ex-atacante Muller, 47, autor do gol que garantiu o bicampeonato mundial do São Paulo em 1993, reconhece 20 anos depois da conquista, completados na última quinta, que aquele lance foi sem querer.

    O hoje comentarista da SporTV conta, em entrevista à Folha, como o São Paulo, que "era a zebra", conseguiu superar o poderoso Milan.

    Ormuzd Alves - 19.out.93/Folhapress
    Muller (à esq.) com Palhinha antes da viagem doSão Paulo para disputar o Mundial de Clubes no Japão
    Muller (à esq.) com Palhinha antes da viagem doSão Paulo para disputar o Mundial de Clubes no Japão

    Muller fez o terceiro gol da vitória por 3 a 2 sobre o Milan, então vice-campeão europeu, em Tóquio, no Japão, na final do Mundial-1993. Os outros gols foram do ex-atacante Palhinha e do ex-meia Cerezo.

    O São Paulo já havia conquistado o mundo em 1992, ao bater o Barcelona, e, com o feito de 1993, igualou o Santos de Pelé, como único time brasileiro bicampeão mundial de forma consecutiva. Em 2005, contra o Liverpool, conquistou o tri, feito inédito no futebol brasileiro.

    A conquista do bi completou 20 anos na última quinta-feira e o clube disse à Folha que ainda irá organizar uma homenagem aos campeões no início da temporada 2014.

    *

    Folha - No aniversário de 20 do Mundial, qual a lembrança mais marcante daquela taça?

    Muller - Tudo foi marcante. Foi nosso segundo mundial. Em 1992, vencemos o Barcelona. Em 1993, foi a vez do Milan, um time poderoso, base da seleção Itália. Sabíamos da grandeza deles, mas não esquecemos da nossa. Antes do jogo, eu disse aos companheiros: "assim como foi em 1992, será contra o Milan. O jogo não vai para os pênaltis. Vamos ganhar no tempo normal". E acertei [risos].

    Como foi a preparação para aquela decisão?

    O [técnico] Telê Santana não gostava de falar do adversário. Focava a palestra no nosso time, o que deveríamos fazer no jogo e o que poderíamos fazer. Todo mundo era pró-Milan. O São Paulo era zebra. Nós ouvimos as críticas e ficamos quietos. Trabalhamos durante a semana de treino. Nós viajamos para o Japão uma semana antes do jogo. A gente tinha confiança e mostramos isso em campo.

    Os times eram equivalentes?

    O nosso time era muito experiente. O Cerezo, o mais velho da equipe, era o líder. Mas tinha o Zetti, o Ronaldão, eu, o Palhinha. Havia mais jogadores experientes do que jovens, como o André Luiz e o Doriva. No Milan todos eram experientes, mas jogavam juntos há mais de dez anos. Um time muito bom e badalado. Vencer o Milan deu um gosto maior, é uma dimensão maior ao nosso feito.

    Você conhecia os craques daquele Milan?

    Na época em que joguei no Torino (1988-1990) enfrentei várias vezes o Milan, em Campeonato Italiano e em Copa Itália. Sabia da qualidade deles e principalmente da arrogância. Eles choraram depois do jogo. Eles não acreditavam que tinha perdido.

    O jogo contra o Milan foi um dos mais difíceis que você fez?

    Não existe partida fácil. Foi difícil como a decisão contra o Barcelona. O Milan criou as melhores oportunidades. Além de ter feito dois gols, poderia ter feito quatro porque criou mais chances que o São Paulo. Nós aproveitamos bem as chances que tivemos durante o jogo. Foram três oportunidades e três gols.

    Teve até seu gol inusitado.

    Foi um gol sem querer mesmo, um milagre de Deus. A bola bateu no meu calcanhar e entrou. E eu estava de lado e não de frente para o gol. Ela bateu e entrou no gol. Foi inusitado. Essa é a pergunta que eu mais respondo. Sempre digo que o gol realmente foi sem querer e que milagre não se explica, milagre se aceita.

    Lembra como foi o gol?

    Sim, foi um lançamento do Toninho Cerezo. O goleiro Rossi [do Milan] chegou primeiro na bola. Para não machucá-lo, eu pulei, o que é normal nesse tipo de lance, mas o Rossi não segurou a bola, ele rebateu. A bola tomou força e, na velocidade que eu estava, ela bateu em mim e tomou a direção do gol.

    Você até provocou o zagueiro Costacurta após o gol [apontou para o rival e disse "este gol é para você, palhaço"].

    Foi coisa de jogo. Alguns minutos antes do meu gol teve uma confusão e a gente começou a discutir e brigar. Após o gol, houve a provocação. Mas foi uma coisa de jogo, não era uma rixa, nem nada. Todo mundo queria ganhar e numa final vale tudo.

    Entre os clubes brasileiros, antes do São Paulo, apenas o Santos havia sido bicampeão mundial consecutivo. Qual foi o impacto daquele título?

    Ajudou as equipes do futebol brasileiro a se conscientizaram sobre a importância da Libertadores. Depois daquele título os times pegaram gosto pela Libertadores. O brasileiro não dava tanto valor antes. Por isso os argentinos são até hoje os maiores campeões.

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