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    Clubes querem formar atletas indígenas nas categorias de base

    ELIANO JORGE
    DE SÃO PAULO

    20/01/2014 12h02

    Estreantes na elite do futebol no Pará e no Equador respectivamente, o Gavião Kyikatejê e o Mushuc Runa pretendem revelar jogadores indígenas a partir de suas categorias amadoras.

    Ambos os clubes reclamam da ausência de trabalho de base com indígenas e da pouca oportunidade para eles em equipes profissionais.

    O Mushuc Runa criou uma escolinha de futebol para 240 jovens. Sua meta é, em até cinco anos, produzir um atleta que vista a camisa da seleção nacional –o Equador disputará sua terceira Copa do Mundo em 2014, no Brasil.

    O Gavião se contenta em garimpar talentos e ver seus curumins evoluírem até um clube grande. Por ora, não possui formação de jogadores. Mas mantém equipes exclusivamente compostas por índios, uma masculina e outra feminina, nas ligas amadoras municipais.

    O presidente vitalício do Mushuc Runa, Luis Alfonso Chango, critica o preconceito contra o futebol dentro das próprias comunidades indígenas.

    "Diziam que quem jogava bola não tinha o que fazer. Filhos eram proibidos pelos pais. Aconteceu comigo também. Estamos mudando essa mentalidade há uns três, quatro, cinco anos. Futebol é rentável para os melhores jogadores, fomenta o turismo na comunidade, ajuda a economia", afirmou à Folha o dirigente.

    Para Gavião e Mushuc Runa, o mundo da bola ainda não é rentável. E custa caro.

    "Temos o menor orçamento entre os clubes equatorianos, apenas 2,3 milhões de dólares (cerca de R$ 5,4 milhões) por ano", contou Chango. Pelos seus cálculos, o time embolsa R$ 1,6 milhão de cota de TV e mais ou menos R$ 700 mil com bilheteria.

    Ainda arrecada com contribuições de sócios-fundadores e ajuda da rede de 40 instituições financeiras públicas e privadas em torno da cooperativa que o originou.

    O Mushuc Runa está até investindo na construção de um estádio para 20 mil pessoas. Hoje atua no Bellavista, com capacidade para 19,3 mil espectadores. Lá também joga o rival Macará, que foi rebaixado como lanterna enquanto o time indígena subia para a primeira divisão de maneira inédita.

    CHANCE DE VOAR

    Novidade que repercutiu internacionalmente, o Gavião quer se beneficiar da badalação por mais tempo, antes que se banalize.

    "Com certeza. Queremos aproveitar essa oportunidade para chamar atenção da mídia e canalizar patrocinadores", admitiu o diretor de futebol Pedro Correia.

    Falta até fornecedor de material esportivo. O clube não atende à demanda de pessoas que querem comprar suas camisas oficiais. "Muita gente de todo o Brasil nos procurou. Mas o uniforme é quase caseiro, feito no Maranhão. Buscamos parcerias com empresas tradicionais", disse o dirigente.

    Contratado no ano passado, ele confessa que o Gavião não esperava se classificar ao Estadual de 2014 e não se preparou para o sucesso repentino. Mas aponta uma evolução gradual no clube.

    "Índio tem dificuldade com mudanças, desconfia de tudo, principalmente quando trata com não indígenas", alegou Correia.

    Além da ajuda de amigos e empresários locais, o time, que custa R$ 130 mil por mês, arranjou dois patrocinadores na região.

    A maior fatia do seu sustento, porém, é oriunda do governo do Estado. Como um dos oito participantes do Paraense, tem direito a R$ 45 mil da TV Cultura, a estatal que transmite a competição, e R$ 15 mil mensais durante 12 meses, pagos pelo Banpará, o banco público estadual que anuncia nas camisas dos times.

    Também não gasta tanto nos jogos fora de casa. Com verba do governo, a Federação Paraense de Futebol contrata ônibus, hotéis e restaurantes para bancar as viagens das equipes no campeonato.

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