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    Temperatura sobe em Sochi, e finlandês trabalha para não faltar neve

    CHICO FELITTI
    DE SÃO PAULO

    12/02/2014 12h26

    Mikko Martikainen está com a cabeça fria: "Vai ter neve nesta Olimpíada. E neve de qualidade", garante o climatologista finlandês de 56 anos à Folha. A afirmação é um tanto em causa própria, já que Martikainen foi contratado pelo comitê organizador do evento como seu "coordenador de assuntos para neve".

    Há quase seis meses ele viaja entre Helsinque, capital da Finlândia e sua cidade natal, e Sochi, sede dos Jogos, montando um plano de guerra para garantir que pistas estejam brancas quando atletas chegarem lá.

    A tática adotada é pouco ortodoxa. Além de disponibilizar duas máquinas de fazer gelo, "das maiores que existem no mundo", ele propôs aos Jogos guardar neve do inverno de 2013 para o de 2014.

    "Levei a sério o ditado 'Quem guarda tem' e me chamaram muito de louco. E olha no que deu." Acumulou 500 mil metros cúbicos (cerca de 50 mil toneladas) de neve cobertos por mantas refletivas de material isolante e alumínio, formando montanhas artificiais ao lado das naturais da região do Cáucaso, a cerca de 100 km de Sochi.

    "Eu subo nelas e sinto que provei ao mundo que tenho razão", afirma ele, que em 2001 teve um projeto similar financiado pela União Europeia, para adiantar o início da temporada de esqui em hotéis nórdicos.

    Os montes já foram descobertos e a neve começou a ser distribuída pelos locais de competição. "Ver aquele ouro branco, preservado depois de meses, me emocionou."

    Neve boa tem que ser "compacta e cheia de liga como areia molhada, e não soltinha como areia da praia do Rio nem lamacenta", define.

    TEMPERATURA SUBINDO

    A temperatura continuava subindo em Sochi. Existe uma preocupação considerável com o clima, já que o balneário turístico é conhecido pelo clima subtropical. E alguns atletas já manifestaram o temor com o efeito das condições climáticas.

    As temperaturas chegaram, nesta terça-feira, a 12º C ao nível do mar, onde são disputados os esportes nos ginásios, e a 5º C na área de montanha, onde são disputadas modalidades como esqui alpino.

    Mas a situação não é inédita, já que o calor relativo já foi registrado nas últimas edições da Olimpíadas de Inverno. Em Vancouver-2010, por exemplo, a organização transportou grandes quantidades de neve em caminhões para ter a superfície adequada.

    PRAIA COM NEVE

    A tática chefiada pelo finlandês foi necessária pela natureza temperada do lugar escolhido para sediar os Jogos de Inverno. A região de Sochi, na costa do mar Negro, chega ter no verão temperaturas na casa dos 30º C e é um balneário comum para turistas de toda a Rússia.

    "Tive de ler mais de mil páginas de relatórios climatológicos desse lugar para tentar entender com quanto frio poderíamos contar."

    A notícia de que uma frente fria chegaria junto com 2014, dada pelo Observatório Astronômico de Pulkovo, em São Petesburgo, foi recebida com alegria. "É claro que Deus pode fazer mais neve do que eu, se Ele ajudar, meu trabalho é bem mais fácil."

    Nem mandinga funcionou no termômetro. O presidente do comitê organizador do evento, Dmitry Chernyshenko, afirmou em redes sociais que xamãs russos também conduziram uma cerimônia mística para garantir que "tudo esteja bem com a neve".

    "Só que a minha técnica é ciência, não crendice", defende. Não revela quanto ganhou pelo plano, mas deixa escapar que molhou bem a mão. "Neve é dinheiro."

    Quando o trabalho terminar, ele, que já fez parte da equipe nacional finlandesa de esqui alpino, vai esquiar. Depois que o gelo derreter, irá passar os meses em que a temperatura está acima de zero trancado em um chalé sem eletricidade, "escrevendo um livro que um dia ainda sai. Se não tiver neve lá fora, é claro".

    Com AFP

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